O Cafeína já tem vinte anos. E, numa noite, há quinze anos, fui convidada para jantar lá pela primeira vez. Incrível como o tempo passa, afinal e apesar de tudo. E então, o Cafeína não é só um restaurante. Por isso, a longevidade do Cafeína é-me significativa. Não só por coordenadas biográficas que não interessam para aqui, mas também pelo facto de a longevidade ser um dado assinalável por si só, nisto dos restaurantes. Em vinte anos, foram muitos os restaurantes deste género que abriram e que fecharam pouco tempo depois. Mas o Cafeína manteve-se. Imune a fogos de vista e a projectos muito abençoados por uma certa crítica e que pareciam sempre esquecer-se de um detalhe chamado comida.
O Porto é uma cidade tão estimulante, nisto de comer (bem). É-o em muitos capítulos. Mas nisto da comida, muito especialmente. E, claro, quando uma cidade é uma geografia tão afectiva, são vários os sítios a que regressamos sem estar a pensar muito (ou quase nada) no assunto. O Cafeína é um desses sítios. Um dos meus restaurantes preferidos, na cidade que eu amo de uma maneira renovada. Trata-se daquelas coisas imediatas. Ir ao Cafeína por ter vontade daquele foie gras. Ir ao Cafeína por ter vontade daquele chèvre e daquele chutney de pimentos. E daquela salada verde com lascas de parmesão. E do lombo Wellington. E do bolo de chocolate amanteigado, a sobremesa que peço invariavelmente e de que ainda não me cansei. Os tais clássicos do Cafeína. Os tais que nunca (nos) desiludem. A carta tem uma frescura que acompanha as estações do ano. Mas os clássicos estão sempre lá. E não falham, tantos anos depois. E é lindo, o Cafeína. Tem um charme e uma luz muito particulares. Nos meses de Verão, as portadas estão abertas para a rua e a luz entra franca, sem filtros. Nos meses frios, é um lugar acolhedor, de onde se vê as folhas a cair das árvores e as gotas da chuva a escorrer pelos vidros das janelas. E o mar é ali tão perto. Sempre aquela presença, a adivinhar-se. Seja quando for, é um lugar que nos dá vontade de estar. De nos demorarmos serenamente no que nos sabe bem. E sim, creio que se trata de coerência. De lealdade a essa coerência. Por algum motivo, dizemos "até à próxima" há tantos anos. Porque sim. Por sabermos que havemos de querer voltar.
Com este sítio, outro a que volto sempre. Confesso que não me importo assim muito com a exposição que está. Para mim, Serralves é um lugar lindo e não preciso de pretextos. Aquela arquitectura e aquele verde são razões suficientes. Tantas, as vezes em que o meu olhar se distrai de um quadro para se concentrar numa das janelas-tela do edifício. Digamos que o arquitecto escolheu os sítios para a orientação das janelas e que a Natureza tratou do resto. Há uma noção de espaço quase mística. Como se fosse um lugar de culto, mas sem o pressuposto de deus nenhum. Os museus têm qualquer coisa de igreja. Serralves, muito especialmente. Creio que terá que ver com aquele silêncio, com o facto de os ruídos serem deixados fora dos portões. Não há música de fundo. Só a que trazemos connosco e que vai para onde formos.
A vida é tão cheia de detalhes imperceptíveis. As luzes de uma cidade quando é de noite. E como eu gosto do Porto quando é de noite. A cidade parece que troca de roupa. Como se fosse jantar ao Cafeína:)
NB: É prudente fazer reserva para este sítio. Especialmente aos fins-de-semana. Especialmente aos jantares. Deixo os contactos aqui.
A música é bem especial. E é linda de ouvir, enquanto se faz o caminho da Foz. Ou os caminhos que bem entendermos:) Quite like. Her.
A vida é tão cheia de detalhes imperceptíveis. As luzes de uma cidade quando é de noite. E como eu gosto do Porto quando é de noite. A cidade parece que troca de roupa. Como se fosse jantar ao Cafeína:)
NB: É prudente fazer reserva para este sítio. Especialmente aos fins-de-semana. Especialmente aos jantares. Deixo os contactos aqui.
A música é bem especial. E é linda de ouvir, enquanto se faz o caminho da Foz. Ou os caminhos que bem entendermos:) Quite like. Her.
Olá Mar,
ResponderEliminarReitero o que já lhe disse uma vez: porque é que não inventam o teletransporte?
Que jeito que dava! Fazer a reserva e, na 6ª á noite, ir ao Cafeína jantar.
É possível sim mas, sem o teletransporte.
Temos que fazer o mesmo que fizemos em Lisboa, Sintra e Coimbra. Tirar uns dias e ir conhecer.
Já o tentamos fazer no Porto mas, por variados motivos, não correu muito bem.
Temos que tentar outra vez, usando o que entretanto aprendemos.
Um beijo do Algarve, mais invernoso do que outonal. Diz quem sabe que amanhã melhora.
"A seguir à tempestade vem a bonança". Como em tudo na Vida não é?
Sandra Martins
Boa noite, Sandra
EliminarDava muito jeito, essa ideia:) Este sítio é um dos endereços mais seguros do Porto. É-me muito especial, mas não é por isso que fica aqui. Já sabe qual é o meu espírito, nestas e em outras matérias.
O Outono tem sido muito generoso, por aqui. Mesmo com chuva e tudo o mais. Hoje esteve aquele sol doce. Aproveitei para ir caminhar, para aproveitar a luz do dia até ao fim. E agora de noite está frio e vai saber ainda melhor terminar mais um livro de um dos "meus" escritores. Os dias são tanto.
Dias bons para si! Com o que eles tiverem de sol ou de chuva ou de vento. Mas bons na mesma.
Um beijo.
Mar
Que fotos fantásticas, a comida tem óptimo aspecto ;) Um sítio a conhecer, sem dúvida!
ResponderEliminarFotos fantásticas são as tuas:) Estive a passear pelos Alpes graças a ti. Obrigada! E sim, o Cafeína vale mesmo a pena.
EliminarObrigada. Um beijo.
Mar
Ohh... Muito obrigada Mar :) Que bom que gostaste, é um pouco do que me rodeia.
EliminarAcredito, para além da comida, parece ser um espaço acolhedor.
De nada. ;)
Beijinhos
Estás rodeada de beleza daquela que é difícil de descrever. Uma inveja boa:) Do sítio. E do teu talento.
EliminarÉ acolhedor. E muito romântico:)
Um beijo.
Mar
Ohhh obrigada mais uma vez :)
EliminarTenho que conhecer um dia ;)
Outro para ti*
Olá Isa, que bonito o teu texto sobre o cafeína e as fotografias abrilhantam-no mais, ainda me lembro de ouvirmos falar pela primeira vez, e da rapariga improvável do Cafeína.
ResponderEliminarE Serralves, que saudades. e agora com as árvores às cores e as folhas caídas aos montes, saudades de ir.
O Porto diz-te muito, que eu sei. A mim, que o descobro a cada vez que lá volto, também me faz bem.
Fiquei uma tarde a ouvir este Her ... as coisas boas que tu descobres. Tks.
Um beijinho grande,
tenho estado quase em hibernação em familia, com as maleitas do outono, a ver se passam em breve, para nos vermos ;)
Este foi o sítio do primeiro jantar com o Vasco:) E sim, sempre que me lembro do Cafeína, lembro-me da Gisela. Nunca mais soube nada dela.
EliminarOuvi esta música no M da Mónica Mendes. Estávamos no carro, a caminho de jantar em casa da Filipa. Guardei o som e o nome num papel solto e tinha de ficar com este texto. Para guardar bem as memórias, creio. As minhas memórias têm sempre música.
A ver se isso tudo passa, para ires ao Porto. Ou para irmos ao Porto:)
Um beijo.
Isa