Um dia.















Uma das (muitas) coisas que não sei fazer, é grelhados. Parece uma espécie de tiro no pé, esta consideração preliminar, dado o óbvio de manter um blog de culinária. Mas é a verdade mais crua, uma vez que não consigo grelhá-la:). Daí não haver um único registo de grelhados nestas páginas acumuladas. A comida aqui é consequência da vida. Tal como ela é, na medida do possível. Eu até sei por que é que não sei fazer grelhados. Em casa dos meus pais, sempre que há grelhados, eu estou no backoffice, a fazer as saladas, a ver das outras coisas que vão estar à mesa. A parte da grelha, lá fora, nunca foi comigo. Um dia. Esta questão dos grelhados é uma das questões que remeto para a etiqueta interior que diz um dia
Enquanto não, sempre que me apetece grelhados, peixes grelhados, muito especialmente, o sítio de que deixo referência hoje, é o sítio. O nome não tem nada de poético. Antes pelo contrário. Tito II não tem lastro de poesia. Mas a poesia é a comida inteira daquele lugar. Mesmo em frente à Docapesca, em Matosinhos. Os peixes viajam uns segundos, até caírem no gelo onde são mantidos. Até serem levados cuidadosamente à mesa, para que possamos escolher consoante as variedades do dia, consoante os tamanhos. Por isso, é redundante falar de frescura, uma vez que é indiscutível. 
É um restaurante familiar, onde vou há anos. E há anos que fico feliz por ir contando sempre com a previsibilidade boa do Tito II. Os rostos são sempre os mesmos. E acolhem logo. A mim e a todos. É bom sinal quando adivinhamos essa familiaridade num lugar. Quando as pessoas regressam a um sítio, é porque foi bom, é porque querem mais do que (lhes) foi bom. 
Há muito que devia ter escrito aqui sobre o Tito II de Matosinhos. Há muito que sim. É hoje. As palavras a acompanhar a sequência que é uma alegria só: pimentos padrón e lulinhas salteadas a virem para a mesa ao mesmo tempo, enquanto se escolhe o vinho e o peixe com a calma necessária. A seguir, o peixe. Servido com a mestria e com a segurança que só um conhecimento despretensioso das coisas pode dar. Peço sempre batatinhas como as da imagem. Servidas com um molho verde que pede sempre pedaços do (óptimo) pão que vem para a mesa, mal nos sentamos. E uma salada básica. Bom tomate. Boa cebola. Parece tão simples, mas não é. Tal como os grelhados. Parecem tão simples, mas não são. Têm muito que se lhes diga. Eu que o diga:) 
E mais uma coisa: para chegar ao Tito II é sempre preciso passar pelo Porto de Leixões. Adoro aquele horizonte de guindastes e de contentores. Fico fascinada como as crianças, a olhar os barcos. Penso nos sítios de onde vêm. Para onde vão. Coisas assim. Por isso, mal se adivinha a paisagem do Porto de Leixões, o carro abranda, para ver os barcos. 
Uma referência só grata, esta deste sítio. Tal como todos os sítios que deixo aqui, bem respirada, bem vivida. Não fazia sentido de outra forma. Pelo menos, não para mim. 
E sim, um dia, faço grelhados. Enquanto não, vou ao Tito II:) 

NB: Naquela zona, é bem difícil haver estacionamento. O restaurante tem estacionamento próprio e, quando está cheio (o que acontece muitas vezes), há sempre um funcionário simpático e expedito que toma conta do assunto. 

A música é esta porque gostei muito de a ouvir hoje de manhã, mal acordei. Aconteceu assim. 


14 comentários:

  1. Falaste-me ontem deste restaurante. Foi um dos muitos temas do nosso telefonema longo. Fiquei com vontade de o conhecer da próxima vez que andar por Matosinhos. Como sabes, da última vez que olhei para o porto de Leixões, o estado de espírito não era o melhor. Da próxima vez, o espírito será outro, certamente :)

    Um beijo,

    Ilídia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muita coisa para pôr em dia e muito mar pelo meio, dá em telefonemas longos:) Este restaurante é honesto. Do princípio ao fim. E a honestidade parece ser rara. No domínio dos restaurantes e nos outros todos. Por isso, creio que uma pessoa franca como tu gostará da comida franca do Tito II.
      E será outro, o teu espírito. Confio nisso.

      Um beijo.

      Mar

      Eliminar
  2. Olá Mar,

    Então esteve por aqui, tão pertinho de mim... vou muitas vezes ao Tito II, mas menos por esta altura, porque não aprecio sardinhadas nem grelhados... Mas ao longo do ano, sempre que me apetece comer peixe preparado de forma simples e despretenciosa, é lá que vou. Basta-me atravessar a ponte sobre o porto de Leixões. Uma das coisas boas de morar em Leça é estar perto de um porto de mar e de um aeroporto. Barcos e aviões que vêm e vão. Mar e céu... E o farol a fazer deste canto um porto seguro.
    Quando voltar, vá ao 501. É um restaurante muito simples, numa das perpendiculares da rua da doca, onde servem uma das melhores sopas de peixe que já comi. Vai ver que vai gostar.
    Um abraço,
    Marta

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Marta,

      Sim, aí perto:) Fico bem feliz por saber que conhece e que gosta deste sítio. Adoro este lugar pelos óbvios todos. Mas creio que, muito especialmente, por sentir que não há naquela comida aquilo a que costumo chamar de "factores de distracção". Peixe é peixe. Azeite é azeite. Pão é pão. Na lógica tranquila da qualidade dos ingredientes.
      Água e céu. Mesmo assim. Duas representações muito azuis do infinito, nesse seu porto seguro.
      Guardei a sua referência. E irei. Com a ideia de que hei-de gostar, dada a referência associada a este post. Obrigada por esse acrescento. Sempre bom saber de bons sítios.

      Um abraço para si.

      Mar

      Eliminar
  3. Sou eu outra vez, para lhe dizer que o nome do restaurante é Cais 51. Enganei-me...
    Um beijinho
    Marta

    ResponderEliminar
  4. Comprovo isso: a comida do Tito II é franca como a gente do Norte ;) Foi me dado a conhecer por ti. Recordo esse dia tão bem passado em vossa companhia. Também não faço grelhados pelo óbvio. Basta-me saber onde ir para quando apetece... bj Babette

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Impossível não ocorrer essa ideia muito Norte: a franqueza. As elaborações mentais valem o que valem, mas neste caso vão mais à frente e sabem mas é bem:) E sim, o Tito II também é esse dia, na minha memória.
      Os grelhados colocam muitas questões. Essa óbvia, no teu caso. Mas no meu, é só mesmo falta de talento/jeito. Sei lá que mais. Um dia.

      Um beijo.

      Mar

      Eliminar
  5. Também não me ajeito nada a grelhar! Pronto, já o disse :)
    Quanto ao Tito II (de repente pensei em Tito Lívio, mas não) parece um lugar onde apetece estar. Aquelas batatas! como será o molho verde? Terei que lá ir a ver se descubro...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Maria,

      Fez bem em dizer. É sempre melhor isso do que andar a contar histórias. Eu tentei uma vez, com a ideia de que era na boa. E não. Transformei uma dourada de mar numa espécie de peixe nunca antes vista:)
      As batatas são perto da ordem divina. O molho parece um picadinho muito fino de alho, salsa, coentros e (bom) azeite. Mas sim, acho que faz bem em ir lá. Apetece ir. E estar. E voltar.

      Obrigada.

      Mar

      Eliminar
  6. Bom dia, Mar.
    Conheço o Tito II e realmente é um dos lugares de excelência para se apreciar um bom peixe grelhado.
    Um bom fim de semana.
    Bjs
    Ana

    ResponderEliminar
  7. Bom dia, Mar.
    Conheço o Tito II e realmente é um dos lugares de excelência para se apreciar um bom peixe grelhado.
    Um bom fim de semana.
    Bjs
    Ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa noite, Ana

      Gosto muito de saber que gosta da alma honesta da comida deste sítio. Mesmo muito.

      Um bom fim-de-semana para si. Obrigada.

      Mar

      Eliminar
  8. Olá Mar,

    De certeza que sim, vai fazer grelhados bem bons! Como tudo o resto que faz.

    Eu não sei bem se tenho jeito ou não. Sei que gosto muito e, não tendo quem os faça ( o marido participa na parte de comer), faço. "A necessidade aguça o engenho", diz o ditado popular.

    Compreendo perfeitamente o querer deixar o registo deste sítio. Acho que sim, quando são locais que nos ficam na alma.

    Felizmente, também tenho. Se calhar, o gostar de cozinhar torna-nos mais exigentes quando vamos comer fora.

    Um beijo do Algarve,

    Sandra Martins

    PS - Já encontrei o xarope de ácer. O meu marido ficou todo contente, diz que fica muito bem com crepes. Já provou? .

    Aqui onde moro há uma ervanária e eu, por palermice, esqueço-me de procurar esse tipo de produtos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Sandra,

      A Sandra diz isso porque não viu o estado lastimoso do único peixe que eu tentei grelhar:) Mas creio que hei-de voltar a tentar. Isso sim. Sou do género de tentar.

      Este sítio merece ser registado. Dentro das minhas possibilidades, fica o registo grato. Disseminar um bocadinho o que é bom de viver. O espírito é e será sempre esse.

      E sim, o amor inteiro pela comida faz com que desejemos que as experiências exteriores corram bem. Quando não, é só triste.

      Nas ervanárias há sempre xarope de ácer. Fico feliz por ter encontrado perto de si, para não ser um ingrediente que implique grandes deslocações ou antecipações.

      Vi há pouco o seu email. Obrigada. Boas férias e bom regresso para si!

      Um beijo.

      Mar

      Eliminar

AddThis