Voltar.



Voltar. Depois de ter ido. Depois dos lugares que já foram. E que hão-de encontrar lugar aqui. Depois de terem sido vividos. Tempo. Havia uma enorme vontade de tempo. Para estar a sós. E em silêncio. Para olhar demoradamente os que amo. Para acrescentar memórias ao meu pequenino que está a crescer tanto. O meu menino que é tanto. Disse-lhe que ia a um palácio como os das histórias das princesas. E ele perguntou se as princesas do palácio eram como a mãe Mar. Ser então uma princesa para o meu filho. Seja.
De contos de fadas, este lugar silencioso. Deu para ouvir a chuva durante o jantar. Enquanto o meu filho se deliciava com uma sopa parecida com a sopa da mãe. Por saber a casa, talvez. Uma janela para o verde persistente de Sintra. Que escorre pelos muros. Pelas paredes dos palacetes abandonados. Pelos caminhos que levam sempre a mais verde.
As manhãs acordam assim, naquele lugar. Verdes e silenciosas. A quietude que vem assim, pela janela. A lembrança interior do Palácio de Seteais há-de chegar sempre desta forma. Por uma janela de onde se avista todo o verde que os olhos conseguem ver. E há-de ser também a imagem do meu filho a interiorizar as coisas que quero ensinar-lhe agora. Para que mais tarde possa escolher não as seguir. Se acontecer assim. Mas que as saiba antes. E que venham da mãe. Coisas pequenas que são amor. E que são o sorriso dele a olhar o homem que estava a tocar piano. As palmas breves de seis anos, a agradecer a dádiva da música. E a mãozinha quente dele. Nas minhas mãos. Felizes, as nossas mãos. E o carinho do olhar contemplativo que gosta de deixar a mãe e o filho entregues à ternura indizível das mães e dos filhos.  
Belo e quieto, este lugar. Corredores que vão dar a salas em tons pastel. Móveis antigos que foram mantidos para contar mais histórias. Janelas para o infinito. Ou para a serra. Ou para jardins labirínticos. Para voltar. Com mais chuva. Ou com sol. Não importa. Algures, hei-de existir mais neste lugar de fadas e princesas. Sei que sim. Que hei-de voltar.  

12 comentários:

  1. Era impossível, mais uma vez, não ficar a babar-me (passo a expressão) para as coisas que a professora escreve. Por serem sempre grandiosas, aliás: por serem sempre inteiras.
    Uma mãe inteira, aqui, neste post. Uma mãe dedicada, preparada, uma mãe. Cheia de amor.

    Não consigo parar de me orgulhar de por pouco tempo (sinto sempre que foi pouco tempo) ter sido sua aluna.
    É inteira em tudo. Grandiosa e majestosa em tudo.

    Da sua aluna com o cabelo às cores,
    Marta.

    ResponderEliminar
  2. Tão disciplinada que a minha Mar voltou... Com etiquetas que nos vão ajudar a percorrer ainda melhor todas estas coisas de amar...
    Um passeio breve que significou muito. Porque o muito está presente em todos os dias. Em todas as coisas. Como sempre, há que ter a clarividência de entender que nesses pequenos instantes cabe o todo. Uma felicidade inteira. Um sítio a que espero ir. Porque me disseste que ia gostar.
    Um beijo, ainda com saudades.
    Babette

    ResponderEliminar
  3. Olá, Mar
    Acho que escolheu um excelente local para descansar. Do interior só tenho a vivência da hora do chá e do exterior recordo um bailado nos jardins, mas também acho o Palácio de Seteais um local muito especial.
    Bom feriado
    Beijos

    ResponderEliminar
  4. Depois de "Ir", o "Voltar". Ainda com mais memórias, mais vivências ensinadas e partilhadas. Com os que ama e para os que a lêem. As imagens transmitem mesmo essa quietude e silêncio de que fala, mas também, aos meus olhos, uma certa turbulência. Pelo tempo cinzento, creio.
    Um óptimo lugar para procurar ser mais, estar mais, dar mais, conhecer-se mais. O que preciso neste momento, também.

    Já tinha saudades de vir aqui "lê-la".

    Sandra, com votos de uma excelente semana.

    ResponderEliminar
  5. E que belo voltar para quantos a lêem! É uma altura muito saborosa quando por aqui passo e lhe descubro um novo post! Sintra é mesmo um lugar cheio de encantos, ainda mais assim descrita!
    Beijinho e boa semana!

    ResponderEliminar
  6. Para a minha aluna do cabelo às cores:

    Porque há-de ser sempre a minha aluna, a Marta. Ainda que agora esteja longe. Fisicamente longe. E que já não dê para ficar surpreendida com as alterações súbitas na cor do cabelo. Mudanças consoante a disposição ou a vontade.
    Ficou uma palavra. Inteireza. Para não esquecer, essa palavra. Inteira em tudo, minha Marta do cabelo de muitas cores. Mesmo quando a vida nos nega. Principalmente aí. E um dia vais saber o significado de uma outra palavra breve. A de mãe. E que por mais que as palavras tentem dizer isso de ser mãe, nunca se consegue verdadeiramente. Impossível dizer um amor maior do que nós.
    Vou a Lisboa um dia destes. Para tomar um chá com a minha aluna Marta. Uma daquelas coisas boas para fazer:)

    Um beijo. Bom regresso às aulas!

    Mar.

    ResponderEliminar
  7. Olá minha amiga doce:

    Mais disciplinada. Organizadas por categorias, as coisas da Mar. Levou tempo, esta tarefa. Mas fica melhor assim. Mais intuitiva, a procura. Com etiquetas.
    Significou muito, sim. Pelo tempo demorado que houve. E ali, principalmente. Com chuva, verde e silêncio. Gosto muito de pensar na possibilidade de ires ao palácio das fadas. Muito romântico e tranquilo.
    Tinha saudades, também. E é bom ter saudades. Significam sempre gostar muito daquilo de que se sente a falta.

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar
  8. Olá minha Sandra dos livros:)

    Saudades também. Depois de tanto silêncio. Há muito que não me permitia tanto silêncio. E fez-me bem. Fez-me recuperar alguns sentidos que andavam adormecidos. A tal turbulência que viu nas imagens, talvez. No meio de tanta quietude, todo um trabalho interior em execução. Bom que assim tenha sido.

    Uma boa semana para si. E não se esqueça de deixar mais receitas no seu cantinho. Tenho saudades disso, também:)

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar
  9. Olá Lusitana:

    Foi bom escrever sobre um lugar tão de encantar. Um daqueles lugares que apela a todo o momento. Pelas imagens e por aquilo que colocamos nelas.
    Foi bom voltar. Aqui. A casa.

    Um beijo de boa semana para si.

    Mar

    ResponderEliminar
  10. Olá Fa:

    Mesmo para descansar. Para me sentir um bocadinho longe. Rodeada de verde e de silêncio. O palácio é muito bonito. Os jardins são muito de amar, de tão românticos. O cenário ideal para bailarinas. Uma boa memória que deve ter. Bailado em Seteais.

    Um beijo para si.

    Mar

    ResponderEliminar
  11. Que lindo este texto! Por me fazer (re)ver o teu menino nele! Pelo amor, pela doçura, por essa linda ligação visceral, que só pode ser materna!

    E porque para mim nunca foi algo institucionalizado, mas sim diário e eterno, não me estou, por isso a adiantar: FELIZ DIA (,da) MÃE!!

    ResponderEliminar
  12. As mães entendem estas coisas daquela maneira tácita, não é? Sem grandes formulações. Está crescido, o meu menino. Viste-o pequenino muitas vezes. Ao meu colo. Agora é alto, o meu Tom Sawyer.
    Muito diária, eterna e visceral, esta ligação.
    Um Dia da Mãe feliz para ti também. Por sermos isso todos os dias felizes. Mães.

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar

AddThis