Sábado cristalizado.


Uma homenagem muito fragmentária à Mafalda. Pelo almoço de sábado. Pela mesa de sábado. Com loiças de que gosto muito. Delicadas, com flores. Pelo sorriso que acolhe sempre. Na casa da Boavista. Com janelas largas por onde entra muita luz. E o ruído surdo da cidade. Filtrado.
É bom abrir as portas de casa. Receber. Ela sabe muito bem isso. Sabe receber, acolher. Encaminhar quem chega, até à mesa prévia, a que vem antes da mesa grande. Sempre com inícios auspiciosos. Sempre com vinho branco. Depois, os lugares à mesa. Marcados pela sensibilidade maternal da Mafalda. Com que aprendo sempre. A ser mais sensível. A ser mais acolhedora. A ser mais.
Cristalizações de um dia de celebração alargada da vida. Uma chávena de café. O retrato de alguém que existiu antes. Um retrato em que me demoro sempre. Por querer tentar imaginar a história que conta. O olhar, as jóias, o vestido. A pose cristalizada. Um momento lá atrás. Impossível de ser dito. Mas passível de ser imaginado. De todas as vezes, uma história diferente, atribuída à mulher que existiu antes. Um antepassado. Muito vago, isso de se ser um antepassado. Fica aqui a imagem da mulher a quem vou atribuindo contextos. E o carinho da minha cunhada. Que se declinou num almoço muito bonito. Num sábado com sol. A entrar pelas janelas largas da casa onde me sinto um bocadinho em casa.

10 comentários:

  1. Olá, Mar
    Às vezes descubro que deixei escapar alguns dos seus posts. Mas rapidamente recupero as leituras, com o prazer de quem achou algo de precioso. Acho que um dia vou ter o prazer de lhe pedir para autografar um livro seu, mas espero que quando chegar esse momento já a conheça pessoalmente. bjs

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  2. Um sábado perto de mim.
    Lindo, esse teu sábado. Quem gosta de receber, gosta também muito de ser recebido.... A tal generosidade que falava no outro dia. Dádiva e Retribuição.
    Partilho com a Fa essa ideia. Um livro teu a ser autografado....
    Babette

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  3. Mar
    A propósito de um livro...e da ideia partilhada pela Babette e pela Fa...Tenho esperado ansiosamente que "as personagens deixem de estar fechadas" e se revelem .Que transformem o começo de um livro("que é precioso") num desenrolar de teias que possamos beber com bebemos os seus posts tão seus, tão nossos...
    Refiro-me ao seu outro blog"O começo de um livro é precioso".
    Força! Os ingredientes estão em si.Só falta envolvê-los e cozinhar a segunda melhor obra da sua vida!
    Emília Melo

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  4. Querida Emília,

    Muito obrigada pela revelação. Eu não estava só a perder um post, apercebi-me agora que estava a perder muito mais ... já devia ter suspeitado!

    bjs

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  5. Minha querida Fa:

    Começando pela melhor parte: a de nos conhecermos. Um dia sim. Gostava muito. Da próxima vez que for a Lisboa, vou perguntar-lhe isso. Se podemos coincidir na sua cidade.
    E agora a outra, a parte das histórias do outro blog. Há muito tempo que não. Que não deixo lá nada. Terrivelmente cruel com as minhas palavras, naquele registo. Sempre a ideia de que são insuficientes. Sempre a ideia de que não constituem nada de novo. Nada que não tenha sido já dito. De maneiras tão melhores, tão mais sublimes. Acredite que não é falsa modéstia. Creio até que lamento pensar assim. Mas gosto muito. De escrever. Desde que me lembro. Tanto como de fazer comida. Uma espécie de impulso irreprimível. Mas indisciplinado. Mas livre.
    E essa ideia de a conhecer. E a possibilidade de haver um livro meu nas suas mãos de Fada. Um incentivo muito bonito. Talvez um dos incentivos que faltava. Gosto de o entender assim.

    Um beijo de muita gratidão. Por achar que é precioso ler alguém que tem Mar no nome. Por estar aí. Uma amiga aí desse lado.

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  6. Muito perto da Babette, o meu sábado. Compreendes e formulas bem essa ideia de gostarmos de ser recebidas. Nós, que gostamos de receber. De cozinhar porque sim. Para nós. Para os outros. Um acto pleno de dádiva. Sem objectivo. Sem um sentido pragmático. Mesmo que se diga muitas vezes que o mundo é dos pragmáticos. Nada disso. Uma parte muito menor de um fragmento do mundo será dos pragmáticos. Não mais que isso.
    Um livro. Muito grande, isso de um livro. Mas sim, é bom pensar num livro enquanto possibilidade. E melhor ainda, pensar na amizade que acolheria um livro.

    Um beijo da Mar.

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  7. Para a Emília. A "minha" Emília Melo:)

    Estive para lhe dizer. Acredite que sim. Por causa de Espinosa. Um conto muito breve que escrevi para o meu marido. A tentar dizer o amor dele pela obra de Espinosa. Mas impedi-me disso. Pelas coisas que escrevi no que disse à Fa. E por outras. Para não impor. Creio que me perceberá. Temo-nos dito o suficiente para que me entenda.
    Há bastante tempo que não vou ali, ao blog dos começos que são preciosos. Os de todos os livros. O título de um livro de uma escritora desaparecida recentemente, a Maria Gabriela Llansol. Uma escrita enigmática, quase codificada. Estão no meu caderno, as coisas que escrevo. Porque a um dado momento, achei que não eram nada. Que aquelas palavras eram muito pequenas.
    A sua força. A ideia das palavras/ingredientes. Cozinhadas. Transformadas numa obra, como com a comida. Simples como fazer comida. Era bom. Gostava que sim. Entretanto, é bom sentir que acredita nessa possibilidade. Por mim. Comigo.

    Um beijo cheio de carinho. A desejar boa noite. E dias bons.

    Mar

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  8. Mais uma apoiante fervorosa de um livro da Mar. Estamos em pleno século XXI. Já não se vai inventar nada (ou muito pouco), mas a forma como a Mar escreve, as palavras que deixa escritas de forma doce ou mais crua (como no outro cantinho) fazem muito a diferença.
    Partilho consigo os cadernos de histórias. Escritos à mão. Abandonei um exercício diário de escrita por falta de tempo, mas espero organizar-me de forma a conseguir retomá-lo. Acredite Mar. Que pode fazer a diferença. Lido com dezenas de livros novos por semana. Sei que vai fazer a diferença. Deixe fluir a poesia (doce ou cruel) que está dentro de si. Sem pressões. A obra nascerá.
    Sandra

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  9. De novo, só para dizer que gosto muito do quadro em casa da sua cunhada. Adoro imaginar e criar histórias para essas pessoas retratadas. Quem foram, quem amaram, se foram amadas... Por mim passava horas em museus/exposições de fotografia a fazer esses exercícios de criatividade. ;-)

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  10. Olá Sandra:

    Guardei tudo o que escreveu. A ideia da escrita sem pressões. Doce ou cruel. A fluir livremente. E muito o que há de intangível nas coisas que disse. A generosidade. A dádiva das palavras boas. Que dizem que a Sandra é uma pessoa bonita. Agradeço muito que esteja aqui.
    Também tenho essa ideia persistente, relativamente aos retratos. Imagino circunstâncias, sonhos, tragédias. E acho curiosa, a pose desta mulher. Tão certa. Tão correcta. Apetece-me sempre desconstruí-la com a imaginação. Um bom exercício: desconstruir.

    Um beijo cheio de coisas boas para a minha Sandra:)

    Mar

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