Antes que o ano acabe.

Pensei com muito cuidado no que fazer hoje para o jantar. Porque era a última refeição feita por mim este ano. Depois de todas as outras refeições. E dei por mim a fazer um risotto. O meu prato preferido. Por ser tão despretensioso, tão leve, tão simples. Mas mais por implicar todo um ritual de dedicação. Porque gosto de o fazer em silêncio, com calma. E cumprir imperturbavelmente todas as fases que compõem o meu risotto.
Então, enquanto se faz um risotto, pensa-se. Muito. Eu deixei que o meu pensamento se orientasse para os dias que estão lá atrás e que este espaço me ajuda a rememorar. Porque me lembro de todos os dias com muita nitidez. E das pessoas que fizeram os meus dias. Todos os meus afectos, todas as refeições, todas as maneiras que fui encontrando de corresponder, de merecer os que me são próximos. De fazer coisas boas com o que me acontece. E sei que não estive sempre bem. No fundo, acaba por ser como com a comida. Vamos experimentando receitas, fazendo outras que conhecemos desde sempre. E às vezes falhamos. Nem sempre corre bem. Mas eu gosto da tentativa. Eu gosto muito de tentar sempre. Porque é muito bela, a tentativa. Pela ilusão que pressupõe. E eu sou como o meu filho: gosto de conservar ilusões e sonhos. De acarinhar a parte de mim que acredita como se fosse a primeira vez.
Por isso, depois de um dia absolutamente disciplinado, dedicado aos meus alunos e ao que quero tentar ensinar-lhes no próximo ano, cheguei a casa com uma sensação muito doce de final. O final de um ano muito bonito.
E de ser hora de guardar com cuidado as coisas que quero conservar. E vou conservar tudo. Porque tudo me acrescentou, mesmo o que não me confirmou, o que me negou. Ficou tudo integrado num risotto quentinho de espargos. A última refeição deste ano. Feita pelas mãos da Mar. Porque vou desaparecer só um bocadinho, para ir em busca de coisas que sejam de amar.


Até para o ano. E o melhor de tudo. Para todos os nomes que trago dentro de mim.

10 comentários:

  1. Um Risotto parece-me uma bela forma de acabar o ano. Um prato que é feito com tempo. Não admite hesitações. Ideal para balanços.
    Sim, do ano que agora termina também guardo bons e maus momentos. E momentos em que estive melhor, como pessoa, do que outros. Mas só essa consciência nos permite melhorar. No risotto, pelo contrário, não me parece haver lugar a grandes evoluções. Ficou perfeito. E a foto também captou a sua cremosidade.
    Um bom ano, Mar!
    Para os três de nós quatro
    Babette

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  2. Encontrei-a no blog da Babette e quero dizer-lhe que a aprecio muito no bom gosto das suas opções ( culinárias e não só), mas sobretudo pela maneira elegante e preenchida da sua escrita. Porque todas as palavras têm muito sentido. Porque descreve bem as situações e até "espalha" afectos pelo blog. Parabéns e Bom Ano de 2011 para si e familiares.

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  3. Tudo neste blogue é um estímulo ao usufruto do tempo, à exigência de qualidade em cada momento das nossas vidas. Essa é a melhor mensagem contra os ventos dominantes que sopram.Obrigado, Mar. Bom Ano.

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  4. Que palavras lindas, Sweetie! As always!!
    Um excelente 2011 para o Trio Maravilha deste Duo cheio de saudades...♥♥♥

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  5. É um prazer ler os seus textos. Nunca preparei risotto, por isso fico a pensar quais as receitas que utilizo para atingir os objectivos que descreve. Reconheço que as preocupações e o stress me conduzem muitas vezes para a cozinha. Enfim, deixou-me com um tema de meditação para o final do ano.
    Aproveito para lhe desejar um excelente 2011.

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  6. Para a Babette:
    Obrigada pela generosidade de todas as palavras. E obrigada por si. Pela festa que é seu blogue, que me tem inspirado tanto.

    Um ano lindo para si e para os seus rapazes!

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  7. Para a Lusitana:

    Obrigada pela visita. Obrigada por ter deixado um bocadinho de si aqui. Acarinho muito a dádiva das suas palavras. E quero merecê-las.
    Um bom ano para si e para os que lhe são próximos.

    Mar

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  8. Para o Zé Bonito:

    Talvez por não haver em mim a ideia de futuro, porque a considero uma abstracção, há esta vontade de viver muito o tempo que tenho. Porque pode acabar de um momento para o outro. Por isso, cada dia é uma celebração quieta da vida. Da minha e dos outros. Obrigada pelas palavras belas que aqui deixou. E o melhor para si.

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  9. Para a happy single mother:

    Sabes uma coisa? Ninguém me chama sweetie como tu:) Tão doce a maneira como sempre te dirigiste a mim. A minha amiga, que já não vejo há tanto tempo!
    Um ano brilhante para as duas sweeties!
    Beijo

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  10. Para a Fa:

    É uma tarefa muito doce, a de preparar um risotto. E muito solitária, por não admitir distracções. E assim, vem a tal meditação. Espero que faça um belo risotto no próximo ano. E que o partilhe no seu blogue tão inspirador, onde estão os meus pratos preferidos. Blue Canton, da Vista Alegre.

    Obrigada pela visita. E pelas palavras que deixou.

    Um beijo da Mar

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