O (meu) Porto aleatório.




























É do género de não se saber por onde começar, o Porto. Embora eu resolva essa questão de uma maneira muito elementar: pela comida. A partir daí, vem a parte da cartografia. E, por mais que essa cartografia até seja pessoal, há muito que pode e deve ser partilhado. 
Começa muitas vezes numa rua que é surpreendente a cada momento. A Rua Miguel Bombarda. A arte das galerias e na rua. Gosta-se. Não se gosta. Mas sempre ali, para ser vista. Para se deambular. Nos dias das inaugurações simultâneas, aquela coisa boa de entrar e de circular sem lógica. Parar porque há um quadro qualquer que nos disse silenciosamente que tínhamos mesmo de parar. Parar porque há os sítios onde gostamos de parar sempre. A loja mais cheia de luz que conheço. Esta. Luzes de outros tempos a alumiar este nosso tempo sem tempo. Encontra-se de tudo. Aquilo que procuramos e aquilo que procurávamos sem saber. Merecia uma página inteira, a L de Luz, a loja dos candeeiros mais bonitos. Talvez um dia. Assim como a Rota do Chá, um oásis bem especial. Entra-se por uma porta que parece igual às outras portas todas e nem se sonha o sonho que há ali, ultrapassada essa porta. O jardim interior cheio de segredos. A luz quente nos recantos dentro da casa. As escadas que levam a outros níveis. Os objectos espalhados pelo verde do jardim. Pequenas coisas encantatórias. E, claro, chá. Das geografias que quisermos. E comida cheia de mundo(s). E vontade de fazer parar o tempo e estar a ouvir o ruído surdo da cidade a acontecer para lá da porta da Rota do Chá. Cá fora, a rua e todas as palavras que fazem desviar o olhar. Poesia urbana. Poesia que toma conta das paredes esquecidas da cidade. Sempre guardei estes instantes que, por um motivo ou por outro, me fazem parar. Parecem mensagens, sinais. Ou então, não. E sou eu que vejo transcendência em tudo. Seja o que for ou como for, adoro estes corações a pulsar nas paredes e todos os seus códigos. E o meu coração fora de mim. Tanto, tanto. O meu filho e os sítios dele na nossa cidade, também. A Wrong Weather por causa dele, no perímetro da Casa da Música. E o pretexto ideal para depois ir à Casa das Bôlas de Lamego e trazer o óbvio e caixinhas com os doces delicados e especiais de Lamego, só que comprados no Porto. 
E estes instantes de comer, das imagens. A francesinha de um sítio delicioso que agora se chama bb gourmet. Não gosto nada do nome actual, preferia como estava e pronto. E a palavra gourmet, gasta e deturpada, tão ridícula quanto as palavras influencer ou lifestyle. Bom mesmo, é dar-lhes aquela pronúncia avinagrada do Porto, para se perceber bem como são mesmo de rir:) Mas a comida deste sítio é uma daquelas coisas, apesar da palavra gourmet e tudo o mais. No espírito fora de horas de que gosto tanto, muito especialmente. Não é preciso ser às horas das refeições, porque ali há sempre comida deliciosa à nossa espera. Creme de tomate com scones de manjericão. Croquetes de alheira. Bacalhau com natas como se fosse feito pelas mães. E doces que são sempre finais inesquecíveis, como a rabanada de vinho do Porto. Deixo imagens de ocasiões diferentes, a abrir com a tal francesinha que é tida como uma das melhores do Porto, embora eu nunca consiga ir até ao fim, nisto das francesinhas. É tanto, que eu nunca consigo terminar. Gosto muito é daquele gesto de criança: batatas fritas no molho denso e aveludado. O tempo que passe à vontade, que as alegrias pequenas permanecem tal e qual. E a fechar as imagens, o Ichiban. Gosto tanto deste sítio e vou lá tantas vezes, que o caminho até lá parece fazer-se sozinho. Já deixei aqui referência inteira sobre o Ichiban, para se perceber melhor o porquê de ser de se gostar (mesmo) muito. É sempre bom lembrar razões pelas quais. Como neste texto. E neste.    
Lindo e porto-seguro, o meu Porto. 

A música é esta. Quebra. Peixe : Avião. 

2 comentários:

  1. Que lindo texto sobre o Porto. Os teus Portos todos aqui em fotografias tão lindas, lugares que já são teus. E essa francesinha e as batatas... onde nunca fui comer. Deixo o meu lugar da francesinha, como uma troca ;) café Velasquez, nas Antas, onde costumamos comer meia cada. E há sopa e batatas fritas para além dos casais de reformados e do quiosque das revistas.
    Um beijo grande.
    da Pipinha

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    1. Ainda faltam uns quantos sítios:) Fica para outra(s) página(s). Tens de ir, linda. Comida deliciosa. Apetecia ir agora, que estou a olhar para as imagens e a ter ideias:) Sim, é um dos sítios das francesinhas e não só. É raro ir para a zona das Antas. A ver se vou lá, então. Obrigada por dizeres. E obrigada por gostares das coisas sobre o Porto.

      Um beijo grande para ti.

      Isa

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