O Ichiban é um restaurante japonês. Isso significa o óbvio do sushi. Mas está muito para lá dos óbvios todos associados a este imaginário. A experiência tem que ver com o todo que é o universo japonês. A começar pela comida. No que tem de delicadeza e de respeito pelos ingredientes. O sentido muito fresco dos peixes, dos temperos. Coisas que eu sei. E (imensas) coisas que eu não sei. E como eu gosto de tudo aquilo que não sei. Dada a minha cronologia neste lugar, já viajei bastante pela ementa. E nunca houve nada de que não tivesse gostado. Sou criteriosa em muitos domínios. Mas muito, no domínio das palavras. Por isso, peso bem as coisas, quando uso termos definitivos como "nunca" ou "sempre". Mas é uma verdade tão cheia de frescura, que não dá para deixar ali no meio termo. E o lugar. Difícil não gostar da pureza estética do lugar. As cerâmicas wabi sabi. Com aquele traço artesanal e quase secular. O betão das paredes, a jogar mesmo bem com as traves de madeira. As estantes com coisas aleatórias. O balcão e o ritual de silêncio daquele balcão. É-se feliz, ali. É simples. Diz-se que a felicidade não tem história, que não precisa de grandes palavras nem de causar ruído. O espírito é mesmo esse. Não parece haver a possibilidade de desilusão ou de querermos sair rápido. Antes pelo contrário. Apetece é prolongar e gozar bem o que está a acontecer.
Por isso é que quando o espírito aqui dentro é o de ir lá para fora, o primeiro lugar que me ocorre é este. O Ichiban. Gostar muito de fazer comida pressupõe também gostar muito de ser convidada a estar bem quietinha e a gozar a alegria de comida que não tenha sido feita por mim. Creio que é (também) por isso que dou um valor acrescido ao gesto bom de alguém me dizer que, durante umas horas, comida maravilhosa vai acontecer e que eu não terei a mínima intervenção no processo. Uma maneira linda de calibrar as coisas, cada um desses convites. Mesmo que aquilo que eu sou desequilibre tudo, que fico feliz como uma miúda que recebe o primeiro convite para ir jantar fora como "as pessoas grandes". Mas também, se eu fosse pouco expansiva nas manifestações de felicidade, alguma coisa estaria profundamente errada:)
As imagens são fragmentárias. Dizem o lugar à luz do dia. E à luz da noite. O mar mesmo ali. Quieto. Mais ou menos quieto. Não tão quieto. As luzes nocturnas. E o meu carro de sonho, por mais que ninguém entenda muito bem como é que um carro tão velho possa ser o carro dos sonhos de alguém:) Um jipe "feio", que parece uma caixa mal desenhada, mas que, para mim, tem um encanto que mais nenhum outro carro consegue ter. Pode não ter nada que ver com comida e com sítios, mas estava ali e eu acho que ele fica bem nesta página, já que me aconteceu uns minutos depois de sair de um dos meus restaurantes preferidos. Um acesso de simpatia dos deuses, que parece que às vezes conspiram para que só nos aconteçam coisas que parecem do mundo das fadas:) Mas acaba por fazer sentido. A memória de um sítio não se esgota na comida, na estética. A memória de um sítio é determinada por nós e pelas coisas que somos. Pelas pessoas que escolhem estar connosco naquele momento irrepetível. E pelo mundo que acontece. E esse é o tudo dos sítios e das coisas que nos acontecem.
Fica o Ichiban nesta página. Deixo as coordenadas necessárias aqui. E a indicação de que, aos fins-de-semana, é melhor reservar com alguma antecedência, especialmente para o jantar. É que há muita gente a gostar deste sítio. E ainda bem:)
A música é esta porque há coisas que sabemos sobre nós, apesar de tudo. E eu sei que hei-de gostar sempre desta e de outras músicas dos Pixies.
Fica o Ichiban nesta página. Deixo as coordenadas necessárias aqui. E a indicação de que, aos fins-de-semana, é melhor reservar com alguma antecedência, especialmente para o jantar. É que há muita gente a gostar deste sítio. E ainda bem:)
A música é esta porque há coisas que sabemos sobre nós, apesar de tudo. E eu sei que hei-de gostar sempre desta e de outras músicas dos Pixies.
Que aspeto delicioso. Vou guardar as coordenadas. Em relação ao jipe aqui está um gosto que temos bem em comum. Um UMM também não era recusado. ;)
ResponderEliminarBom dia e um generoso fevereiro para ti, doce Mar.
Guarda sim, linda Mafalda. É mesmo de gostar muito, este sítio.
EliminarQue bom que tens o mesmo espírito:) Toda a gente me diz que é um gosto pouco racional e blá blá blá. Gosto dele assim. Bem velhinho e "feio". Naquele verde british racing cheio de alma.
Obrigada. Que o mês novo seja bom para ti também. Há-de ser.
Olá Mar! Confesso não ser grande apreciadora de comida japonesa (uma experiência na Coreia do Sul deixou muito má memória :-). Mas estas fotos parecem deliciosas. Também gosto muito de jipes velhos e batidos - sobretudo no tal verde. Não há como um clássico. É o carro da minha vida.
ResponderEliminarOlá Ana,
EliminarGosto muito deste restaurante também porque marcou a minha reconciliação com a comida japonesa. Estive dez anos sem chegar perto, sequer. Absolutamente convencida de que não gostava e pronto. As más experiências condicionam muito a percepção que temos das coisas. Curiosamente, também tive uma péssima experiência com a comida da Coreia do Sul. Num restaurante em Londres, há uns bons anos. E sim, a comida japonesa do Ichiban é deliciosa e delicada e honesta.
Que bom que gosta de carros neste espírito:)
Um dia lindo para si, aí em Sheffield.
Bom dia, Mar. Penso que tenho mesmo que me dar a mim própria outra oportunidade em relação à comida japonesa quando a memória daquele jantar num restaurante japonês na Coreia se dissipar um pouco mais. Um dia lindo para si também - por aqui vai um sol que tem rareado nestes dias e a sua mensagem alegrou-o ainda mais.
ResponderEliminarSim:) Foi assim que aconteceu comigo. Dei outra hipótese. Há circunstâncias em que não, em que sentimos que não é para dar mais hipóteses. Mas neste caso, sim.
EliminarAqui também esteve um dia lindo. Céu azul e muito sol. Fico muito feliz por essa alegria. Mesmo muito. Uma boa noite, querida Ana.
Fico com vontade de ir e provar. Tu sabes que eu não sou de grandes variações no que toca a comida. Mas tão bonito. E o mar e o carro de sonho. O tal. Acho que sim, que devemos seguir os nossos sonhos, demore o tempo que demorar. É um carro forte. Beijos,
ResponderEliminarda Pipinha
Sim. Tu não gostas assim muito de grandes variações:) E eu gosto desse teu traço, entre tantos outros que são só teus. Mas vais gostar. A ver se vais a este sítio.
EliminarE este meu carro de sonho. Tantas e tantas vezes que eu disse que quando fosse grande, era este. Ainda no domingo falámos dele, quando vieste cá.
Um beijo grande.
Isa