Caramelo e outras coisas.
















Se tivesse de escolher um sabor para este Fevereiro, seria o sabor do caramelo. A palavra é linda de dizer e de escrever só por si, mas aquilo a que sabem as letras que são a palavra, está para lá de delicioso. Os bolos mornos de caramelo que o meu filho pediu para o aniversário dele são o sabor do mês mais breve de todos os meses. Dei umas quantas voltas e cruzei informações de confiança, até chegar à receita do bolo de caramelo que ele queria tanto. E confesso que achava que não iria conseguir replicar aquela delícia que ele adora neste sítio no Porto. Mas gosto tanto que o meu filho queira sempre que os bolos de aniversário dele sejam feitos por mim, que não me importei nem um pouco em tentar uma e outra vez, até chegar ao bolo com o centro cremoso de caramelo que ele pediu muito. É assim desde muito pequeno e este foi o pedido mais complicado que fez. Fica-se sempre por coisas muito simples. O bolo de iogurte elementar, a minha aletria conventual ou a minha versão infalível de bolo de iogurte com coco e com chocolate. Para ele e para os amigos, esse é "o" bolo de aniversário. Mal chegam, perguntam logo se há aquele bolo de chocolate. Claro que sim. E, sempre que o faço para ele e para os amigos, tenho a sensação de que um dia, quando já estiverem na faculdade ou assim, me hão-de aparecer aqui em casa a perguntar se posso fazer o tal bolo de chocolate. A resposta será a mesma: claro que sim:) 
E Fevereiro é também o aroma dos jacintos acabados de acordar da terra, cansados de Inverno. Ou o amarelo inebriante das mimosas, num dia de sol, depois de dias de chuva. E as magnólias outra vez. Surgem sempre de um dia para o outro, as flores de Fevereiro. Num dia olhamos e parece que nada está a acontecer. No dia a seguir, acontece tudo. A terra renova-se imperceptivelmente. Os verdes ficam mais fortes. Estes, muito especialmente. Semeei-os o ano passado, num dia que tinha sido triste e difícil como só os dias tristes. Nesse dia, lembrei-me do que nos permite mesmo ficar a salvo de todas as desilusões do mundo: fazer nascer coisas boas a partir de coisas más. E isso não tem de ser metáfora nem símbolo. Foi literalmente verde, neste caso. Terra, hortelã, tomilho, orégãos, jacintos, narcisos. Tudo num final de tarde em que parecia que não havia nada a fazer ou que era melhor não fazer nada. E até que havia coisas a fazer e isso é (sempre) tão melhor do que ficarmos só quietos, a ficar muito tristes e muito desiludidos por não sei o quê. 
Fica aqui esse sinal de renovação, perto de outras coisas frágeis que conservo há anos e que só me fazem pensar no maravilhoso que é, quando alguém nos lê mesmo bem e nos oferece memórias que são tratadas como tesouros improváveis. Uma pedra partida. Um origami verde e etéreo. Faz sentido ver estas duas coisas perto de coisas que eu sei que (me) vão sobreviver. Gosto desses e de outros contrastes. Algo que me recorde o transitório. Algo que me recorde o perene, tanto quanto isso é possível. Um bocado de papel verde com asas, que é tratado com cuidado pelas minhas mãos e pelas mãos da pessoa que me ajuda aqui em casa e que sabe que as pedras e que as folhas secas com datas e coisas assim desse género são muito importantes. 
Outra coisa que tinha mesmo de ficar aqui, para memória futura deste Fevereiro: o pato que veio a voar desde o rio e que parece querer fazer ninho nas heras do muro. Gostei do improvável e de o ver ao pé de um busto com ar de mau-feitio de que eu não gosto assim muito:) As camélias caídas e que fazem sempre aquele som seco, quando tocam o chão. E até aí, caídas, são bonitas e delicadas. E uma estrada com mimosas, porque é muito linda. 

Bolos mornos de caramelo
NB: Nesta receita, o difícil é acertar com o tempo de cozedura. No meu caso, errei umas quantas vezes, até chegar ao ponto. Por isso, depois de passarem 12 minutos no forno, convém ir vendo como é que estão as coisas. Uso formas normais, mas percebi que a melhor maneira é usar estas cocottes pequenas. Nesse caso, os bolos ficam no forno durante 18 minutos. 

1 lata de leite condensado cozido + 100 g de manteiga + 1 ovo inteiro + 4 gemas + 50 g de farinha + flor de sal q.b.

Numa taça, o leite condensado. A seguir, acrescenta-se a manteiga derretida e bate-se. Depois, o ovo inteiro e as gemas. Bate-se outra vez. Por fim, a farinha peneirada e a flor de sal. Bate-se mais um pouco e transfere-se para formas pequenas, enchendo até mais de metade. Leva-se ao congelador durante cinco horas e podemos guardar para depois e termos sempre estas surpresas a jeito:) Na altura de servir, levam-se ao forno a 180º C durante 14 minutos. Ficam óptimos com framboesas e com amoras e com groselhas. E sem mais nada também. São tão deliciosos que se bastam. 

Depois de um doce destes, música que nos pede/arrasta para dançar. Quem dança, entende bem como é que este som é tão irresistível:) 

13 comentários:

  1. Que bom começar o dia a ler o se post! Um belíssimo resumo da poesia de Fevereiro e uma receita intrigante, que vou com certeza experimentar. Obrigada. Um beijo.

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    1. Isso é tão lindo de ler/saber, querida Ana. Obrigada. Fevereiro tem uma poesia muito especial, sim. Que corra bem. Basta ter cuidado com o tempo de forno, o resto é tão simples:)

      Um beijinho grande*

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  2. Palavras e imagens e música tão bonitas! Fevereiro é o meu mês, revejo-me em quase tudo, nem sabe quanto, enternecem-me as suas crónicas, grata pela partilha de emoções e sentimentos, tenha um bonito mês de Março

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    1. Minha querida Ana, dias muito lindos para si também. Guardo os seus bons desejos com muito carinho. Obrigada pelas palavras tão bonitas.

      Um beijinho*

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  3. Boa tarde, Mar.
    Admiro a sua capacidade de ver sempre o belo de todas as coisas. Descobrir o lado positivo da vida. Faz bem. Faz bem a quem a lê e vê as suas palavras e imagens, por isso não me canso de lhe dizer Bem Haja.
    Um bom fim de semana.
    Ana

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    1. Olá Ana,

      Valha-nos sempre o lado positivo das coisas e cada um dos seus exercícios contínuos. Obrigada a si, querida Ana. Fico muito feliz por/com esses efeitos bons.

      Um beijinho*

      Mar

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  4. Sendo fevereiro um mês de que nem gosto muito, senti-me envolvida pelo verde do seu jardim, pelo odor, que adoro , das mimosas, pelo desmanchar suave desses bolos com ar terno e voluptuoso.
    Parabéns ao seu filhote. Que seja muito feliz!
    E obrigada por, mais uma vez, me deixar nesta espécie de limbo em que quase acredito que a vida ê de veludo.

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    1. Olá Guida,

      Fevereiro é um mês que parece meio indiferente, sim. Está ali entre um dado e outro. Para mim, será sempre o mês mais bonito de todos, porque foi o mês em que o meu filho abriu os olhos cá fora.
      Que bom que gostou/gosta de ler. Obrigada. Muito. Nem sempre é veludo, mas isto tudo é sempre uma dádiva ainda assim.

      E sim, que ele seja muito feliz:)

      Um beijinho*

      Mar

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  5. Minha querida, que post tão lindo! Tão cheio de vida e de esperança! Ando a precisar de esperança nos últimos tempos. Fevereiro não foi um mês bom para mim. Temos de falar um destes dias e conto-te um bocadinho do meu fevereiro. Agora não. Agora só quero dizer que o teu post me fez bem e que os teus bolos de caramelo têm mesmo aquela aparência irresistível que faz querer ir a correr para a cozinha tentar fazer algo assim bom.

    Um beijo para ti e outro para o teu menino, cada vez mais rapaz.

    Ilídia

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    1. Olá Ilídia,

      Temos de falar, sim. Fico preocupada/triste por saber que foi um mês mau. Precisamos sempre de esperança, minha querida. E é tão bom saber que este post e que os bolos de caramelo te fizeram bem. Tens de experimentar:) São tão deliciosamente fáceis.

      Obrigada pelas palavras bonitas e pelos parabéns.

      Um beijinho grande*

      Mar

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  6. Querida Mar,

    Fevereiro foi assim. As mimosas, as magnólias, as camélias, as flores pequeninas e o verde a romper da terra a antecipar a Primavera. O aniversário e os bolos impossíveis que nos pedem. E a tentativa/erro até acertar no ponto. Fevereiro é o mês que parece antecipar tudo o que vem depois. É assim o mês mais pequeno, mas maior em tudo.

    Beijos

    Íris

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    1. Linda Íris,

      Mais um Fevereiro. Breve, mas maior nessa antecipação e na alegria de tentar uma e outra vez. Sob o melhor dos pretextos: o amor a um filho.
      Lindas, as flores de Fevereiro. Fala-se muito de Março, mas é em Fevereiro que a vida renasce do Inverno.
      Dias lindos para si! Um beijinho*

      Mar

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