Os lesados. As "elites". E um hotel.













Era inevitável. Um dia, teria de escrever sobre isto. Sobre o impossível que afinal não o foi. E creio que será fácil de perceber pelas imagens qual o impossível que foi possível. O colapso de um mundo, tal como o conhecíamos. Um ano depois, as ondas de choque ainda não terminaram. Como é óbvio, tenho a noção de que, à partida, esta matéria não está de acordo com a filosofia deste sítio. Mas está. Acaba por estar. Creio que, chegando ao final do texto, se percebe claramente que a essência deste lugar permanece intocada. A questão é que, para chegar aí, é preciso passar pela parte da lama. Antes disso tudo, parece-me que há algumas notas prévias que devo deixar.

NB1 _ Sou, desde há anos, cliente regular do Tivoli da Avenida da Liberdade, um dos hotéis da cadeia Tivoli, que fazia parte do Grupo Espírito Santo e que acabou por ser remetida para os resíduos tóxicos do colapso do antigo BES. Nenhuma das pessoas extremamente profissionais desse hotel sabe deste meu dado/lugar biográfico. Por isso, escrevo com a mesma liberdade com que sempre escrevo, quando faço referências a coisas que mexem com marcas. Este ponto, para mim, é fundamental. Há muitas maneiras de fazer as coisas. A minha é esta: vou aos sítios que quero/quando quero/gosto/não gosto/pago a conta/escrevo se gostar. Se não gostar, não escrevo. Simples. 

NB2 _ Não tenho nada contra o capital, nem contra o dinheiro, nem contra os ricos.  Antes pelo contrário, sou do género de pessoa que acha que quanto mais dinheiro circular, menos pobreza haverá. Idealmente, pelo menos. A minha única questão tem que ver com o "como". Ou seja, com a origem do dinheiro. Como é óbvio, para mim, há capitais que não merecem nenhum respeito e discursos que não devemos caucionar. E sim, à cabeça desses capitais que não merecem nenhum tipo de benevolência, estão os sanguinários que fazem fortuna sobre a exploração e o sofrimento de um povo inteiro, à conta da democracia que inventaram e que depois vêm aqui "às compras". 

NB3_ Não perdi um cêntimo com o colapso do BES. Mas não foi por ter visto um filme que os outros não viram. Foi pura sorte. Convém fazer esta ressalva inicial. 

Este post é sobre as pessoas que trabalham num hotel em particular, mas poderia ser sobre todas as pessoas que trabalharam (e que trabalham) em cada uma das ramificações do Grupo Espírito Santo. As pessoas do BES, as pessoas da Herdade da Comporta, as pessoas das seguradoras, as pessoas dos hospitais, as pessoas das agências de viagens, as pessoas dos hotéis e dos restaurantes. As pessoas. Tantas, as pessoas. Para dar a densidade certa, vou contar. Há um ano, uns dias depois do início do fim, tive de ir a Lisboa. Teria de passar uma noite e, claro, liguei para o Tivoli. Durante a viagem, ia pensando no que iria encontrar. Ocorreu-me que algumas coisas poderiam estar diferentes nas pessoas. Justificadamente, pensei na altura. Talvez alguma amargura no trato. Talvez menos atenção nos detalhes. Não sei bem. Imaginei que aquelas pessoas todas teriam razões para se sentirem justificadas em não fazerem tão bem o trabalho delas. E não. Nada disso. A mesma saudação, ao abrir a porta do carro. A mesma simpatia. O mesmo profissionalismo sóbrio. E sim, as mesmas pessoas. Sempre me apercebi desse dado: as pessoas são, invariavelmente, as mesmas. Isso significa contratos de trabalho a sério e não estágios indefinidos. Eu reparo nesses "pormenores". 
Nesse dia, aprendi umas quantas coisas sobre as pessoas. Ali, no Hotel Tivoli de que gosto tanto e onde entro sempre com a sensação de que aquela é, para mim, uma casa possível em Lisboa. E são aquelas pessoas que me dão essa noção. Não os mármores, não as luzes, não as alcatifas dos corredores largos. São as pessoas que me fazem voltar. Na altura, tal como agora, penso que aquela gente toda fez o que devia. Aquelas pessoas fizeram e fazem a parte delas. Trabalharam. Em nome do sustento delas. E em nome de algo que achavam ser maior. Enquanto isso, as pessoas que deviam zelar pelo tal dado maior, andavam a brincar aos financeiros com o dinheiro de outras pessoas que também trabalharam e que juntaram algum dinheiro e a quem foi dito que estava tudo bem, que era na boa, que deviam investir e confiar. O Governador do Banco de Portugal. O Presidente da República. O Primeiro Ministro. As tais pessoas que trabalham ouviram estas coisas e tomaram as decisões delas. Qual foi o problema? Afinal, os tais senhores disseram coisas que não eram verdade. E então, cá em baixo, no fundo da cadeia alimentar, as coisas correram mal. As pessoas ainda estão sem o dinheiro delas. E não, não são especuladores. Não é gente que joga na bolsa e que corre o risco. São pessoas "normais". As pessoas que os bancos têm etiquetadas como "investidores com perfil conservador". Para elas, correu (e corre) mal. Mas lá em cima, no "topo" da cadeia alimentar, continua tudo (quase) igual. O mesmo governador que não fez bem o trabalho dele e que depois andou a dizer coisas que não devia, foi reconduzido. Está tudo bem para ele e, daqui a uns anos, estará também no BCE, à semelhança do seu antecessor, que também é um homem "brilhante". O Presidente da República vai terminar mais um mandato. Será tranquilo. Continuará a ter a reforma correspondente por ter trabalhado uns anos no Banco de Portugal. Uns anos. Não uma vida inteira. Uns anos. O Primeiro Ministro ainda tem de ir a jogo, daqui a uns meses. Logo se verá. Há mais. Muitos. As tais elites são como aqueles bolos com muitas camadas, mas que não dão vontade de comer, por serem só para a fotografia. 
Quando estas imagens foram guardadas, as letras no último andar daquele edifício da Avenida da Liberdade já tinham sido retiradas. Na véspera, creio. Lembro-me de passar e de olhar para as portas. Ainda estavam lá aquelas letras. Não se tinham lembrado delas. Guardei-as. Desfocadas. Mas guardei. O poder foi-se. E o nome. Quando um nome é arrancado de paredes e de cartazes, resta o quê? Há uma tragédia incalculável, nisto tudo. Um nome é o maior dos activos, para usar da linguagem que faz parte do nosso léxico diário. O resto pode ou não desaparecer. Um nome é uma coisa maior. Dormirmos tranquilos sobre o nosso nome, esteja ou não bordado na almofada onde nos deixamos cair. Quando se perde isso, haverá o quê? Neste caso, há as pessoas por detrás dessa porta. As tais que continuaram a trabalhar. E as do edifício em frente, da seguradora com um nome estranhamente irónico e que vendia Tranquilidade. E as do edifício uns metros mais abaixo. As pessoas do Hotel Tivoli. Que merecem todo o meu respeito. Toda a minha estima. E cada um dos meus regressos a Lisboa. Uma boa maneira de contribuir para que aqueles postos de trabalho continuem a ser justificados: ir lá. Foi assim que pensei na altura. É assim que continuo a pensar, já depois de vários desses regressos. 
Eu não sei o que é que vai acontecer. Mas espero interiormente que o capital irrepetível que aquelas pessoas são não seja perdido. Que o hotel continue. Que as pessoas continuem a poder fazer a parte delas, que a fazem muito bem. Infelizmente, adivinho o que vai acontecer aos lesados. O Novo Banco vai ser vendido a preço de segundos saldos e o rasto do dinheiro delas vai desaparecer. É disso que as elites actuais andam a tratar. E claro, a assegurar a manutenção dos seus modos de vida. 
Numa das imagens, um fragmento que guardei, nestas conferências onde estive em Outubro do ano passado. A imagem corresponde às comunicações do Gilles Lipovetsky e de um filósofo que eu não conhecia. Vale a pena ouvir essa intervenção. Deixo-a aqui, para ficar ao critério de quem lê. Assim como a referência a este filme. O cinismo a funcionar. Até ao limite e sem filtros. Um dos melhores filmes que vi, a propósito de um certo capital e dos seus meandros muito sujos. 
E sim, eu sei que este texto não faz diferença nenhuma. A máquina incompreensivelmente perversa que parece ser dona disto tudo, é que é. Ainda assim, sou do género de pensar que é fundamental sabermos onde estamos. E eu sei que estou do lado das pessoas que acordam todos os dias e que trabalham e que conseguem dizer a um filho em que é que consiste o trabalho delas. Não estou certa de as pessoas dos universos das camadas conseguirem explicar a um filho o que é que fazem todos os dias. Mas essa é outra história.  
O texto é muito longo. Peço desculpa por isso. E também por este aparente intervalo no espírito do blog. Mas pareceu-me que era o momento. É Verão e tudo o mais. Mas o tempo era este. 

A música é esta porque me lembra que as pessoas são capazes de coisas muito lindas, ainda assim. Como neste vídeo. Muitas pessoas juntas a fazerem um pedido aos Foo Fighters. Também há (im)possíveis destes. por causa de uma música. 


21 comentários:

  1. Nunca comentei aqui, embora eu venha sempre a este cantinho.Este texto está fora do contexto do seu blogue mas louvo-a por isso.Palavras sábias. Boas férias.

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    1. Olá Aliete,

      Obrigada por este seu comentário. Por ter sido neste post em particular. E por essas visitas. Um bocadinho fora do registo habitual, sim. Mas o espírito está intacto. Obrigada por isso das palavras. E sim, férias. A partir de amanhã.

      Dias lindos para si.

      Mar

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  2. Porque a vida não são só doces e infelizmente continuamos com mais do mesmo. Os mesmos a fazer o mesmo e a pagar o mesmo...
    Infelizmente nós os do fim da cadeia alimentar não escutamos todos o mesmo metrónomo e não conseguimos ter a força que se sente nesse vídeo... Andamos apáticos (e contra mim falo) com a cabeça enterrada na areia e cada um a viver os seus problemas no seu mundinho. Faz falta revolução.
    Um beijo.

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    1. Olá Verinha,

      Também é ácida e amarga, a vida. Em capítulos destes tem-se essa sensação de que falas: mais do mesmo. Creio que as coisas estão organizadas de maneira a que assim seja. As redes invisíveis. De vez em quando, há um ou outro sacrifício. Mas as redes continuam lá.
      E sabes, nós não andamos no nosso mundo como se nada fosse. Andamos a fazer a nossa parte, tal como as pessoas de quem falo no post. E creio que tentamos fazer pelo melhor, dentro dos quadros das nossas vidas. Não tenho má consciência. A questão é que as tais elites não são nada disso. Um problema endémico no nosso país, a carência de elites. De gente que esteja à altura.

      Um beijo.

      Mar

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  3. Mar,

    Por motivos pessoais conheço algumas coisas do universo de que fala neste texto, e sinceramente ainda me parece impossível que o 'impossível' tenha acontecido. Tudo podia (e devia) ter sido muito diferente e evitado, acredito que com o tempo se provará isso mesmo. Foi provocada muita infelicidade desnecessária e os responsáveis maiores nem pagarão por isso.
    Bem, não quero alongar, quero só dizer que gosto de si.
    Gosto de si pronto.
    Parece impossível podermos gostar de pessoas que nunca vimos na vida, mas é assim mesmo: impossíveis acontecem, não é?

    Beijinhos,

    Jo

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    1. Olá Jo,

      Claro que sim. Que podia ter sido evitado. Se as coisas nestes universos funcionassem como deviam funcionar. Mas não funcionam, claramente. O responsável maior estará a rir-se, por ter arrasado com os Espírito Santo. A vingança é fria e sabe esperar pelo momento certo. Seja como for, esse tal responsável maior fez o trabalho de supervisão que não era feito. Terá essa espécie de mérito.
      Também gosto de si, querida Jo. Os impossíveis acontecem muitas vezes. Todos os dias, se pensarmos bem nisso.

      Beijos para si.

      Mar

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  4. É importante termos sensibilidade para vermos estas coisas e coragem para as dizermos. Este é o lado humano das organizacões. É bom que nos tenha lembrado disso e do seu impacto na Vida das pessoas que não tomaram parte has decisões mas as sofreram. Um abraço.

    Ana Vasconcelos

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    1. Olá Ana,

      As organizações são feitas de/por/para pessoas. Essa é a variável mais importante. A questão é que parece que, a partir de um determinado momento na vida de algumas organizações, essa variável é rasurada. Mas a realidade dá a volta a isso. Com custos e perdas. Mas a realidade encarrega-se de restabelecer as coisas. Acredito tanto nisso como na força luminosa que vive em algumas pessoas.

      Um abraço para si.

      Mar

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  5. Muito bem, Mar. A dignidade e o brio das pessoas que referes deveria ser a sua salvação do tsunami a que ficaram expostas.

    Mom

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    1. Esse sentido salva sempre. Pode não ser uma salvação ostensiva. Pode não salvar tudo. Mas salva. É aquilo de chegares ao final do dia e olhares para o espelho, sabes? Fala-se muito no olhar ao espelho do início do dia. Eu penso mais no olhar de final de dia. Se foste o melhor que há em ti, estará tudo certo. Mesmo que estejas triste ou cansada. Eu acho que aquelas pessoas terão essa tranquilidade. Fazem um trabalho excelente, naquele sítio.

      Dias bons para ti. Obrigada.

      Mar

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  6. Olá Mar,
    Gostei muito do que escreveu. Ainda hoje vi nas notícias mais uma manifestação dos 'lesados' pelo BES. Também eu, por um acaso, por sorte, não fui afectada. Mas podia ter sido. Esta espécie de roleta russa a que estamos sujeitos por causa da falta de escrúpulos e de vergonha de meia dúzia de pessoas é revoltante. Faltam-nos elites esclarecidas, com uma noção do bem comum, de respeito pelos concidadãos independentemente da sua situação profissional ou social. A nobreza de espírito e a rectidão de carácter não se medem pelos bens materiais ou pelo apelido sonante.
    Reparei que leu ou ainda estará a ler Anna Karenina. Tolstoi é um dos meus escritores preferidos. Por conhecer tão bem todas as dimensões da alma humana. Nestes tempos difíceis, nada como um romance deste autor para nos fazer perceber, de novo e sempre, como o ser humano é algo de tão precioso. Devíamos saber cuidar melhor uns dos outros, já devíamos ter atingido um grau de equilíbrio social que não permitisse que coisas como estas acontecessem.
    E sim, o texto que escreveu cabe aqui. Porque não? Como não? Se tudo o que é humano não nos pode ser indiferente?
    Um abraço e boas férias. Eu também vou parar por alguns dias. Deixar o farol e o mar em direcção à serra...
    Marta

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    1. Olá Marta,

      Obrigada por ter gostado. Essas manifestações são a única coisa que podem fazer. E eu acho bem. Que façam barulho, que incomodem, que lembrem a essa meia dúzia de pessoas que existem e que não se calam. Ao menos isso. Esta matéria está para lá do óbvio, do imediato. Ainda ontem um amigo me falava do caso de um bancário do antigo BES que investiu dinheiro dele e de vários familiares. Perderam tudo. Creio que dará para imaginar as consequências.
      A nobreza de espírito. A que não precisa de pergaminhos nem de antepassados, nem de dinheiro. Velho ou novo. É a única nobreza que importa, a de espírito. Penso assim também.
      Ainda estou a ler:) Bem devagarinho, que quero que vá comigo para Lagos. Por isso, vou poupando as páginas e não o leio à noite, que senão devorava-o. O silêncio nocturno tem essa e outras consequências. Foi assim com toda a outra literatura dos russos. Tolstoi e Dostoievski estão lá em cima, para mim. São outro nível.
      E sabe, posso ser muitas coisas. Mas indiferente não. Não isso. Está aqui, este texto. Faz parte destas páginas. E diz-me.

      Um abraço grande para si. Boas férias lá na serra. Percebo o contraste. Eu quero mar. Muito, o mar. Daqui a nada:)

      Mar

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  7. Palavras que dão que pensar em época de 'silly season'. Boas férias.

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    1. Olá Maria,

      Bom que as palavras (ainda) façam pensar. Seja quando for. Mesmo no epicentro do Verão. Mas há coisas que não tiram férias. Que andam connosco. Onde quer que estejamos.

      Boas férias, se assim for. E obrigada.

      Mar

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  8. Bom dia, Mar.
    Estou de pé, a aplaudir as suas palavras.
    Bjs
    Ana

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  9. Bom dia, Mar.
    Estou de pé, a aplaudir as suas palavras.
    Bjs
    Ana

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  10. Boa noite, Ana

    E eu faço uma vénia. Agradecida.

    Um bom fim-de-semana para si.

    Mar

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  11. Boa noite, Mar.
    Li este seu artigo no dia 5 (véspera das minhas férias), mas não consegui/não pude/não quis comentar de imediato.
    Tinha que "digerir" o que lera.
    Tudo o que possa escrever será redundante face ao que foi por si escrito e aos assertivos comentários que aqui encontrei.
    É triste assistir a essa evolução dos tempos, em que injustiças tamanhas são perpetuadas por fenómenos atmosféricos, por guerras sem sentido, pela ganância ou pela falta de escrúpulos.
    Também acho que faz falta uma elite que faça a diferença, que tenha a noção de pertencer a uma comunidade que só avançará se cada um dos seus membros avançar também.
    Acho que a filosofia, pela sua abrangência e desapego, poderia contribuir para o avanço da sociedade.
    Enquanto isso, Mar, vou continuar a vir aqui quase religiosamente, inspirar-me em si, nas suas reflexões, na sua música, nas suas preferências musicais e literárias (também aprecio bastante as obras dos clássicos russos), nas suas receitas maravilhosas que ajudam a percepcionar a sua maravilhosa sensibilidade.
    Bem haja por isso. E por ter saído do seu registo habitual, com este artigo.
    Também eu a aplaudo de pé.
    E votos de umas boas e merecidas férias.
    Com muita aletria e alegria.
    Milena

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    1. Bom dia, Milena

      Veio a tempo, o seu comentário. Às vezes, as palavras carecem de tempo. Nem sempre são imediatas. Acontece-me muito.
      E sim, esta "evolução" tem muito de retrocesso. As coisas parecem estar viradas do avesso. E os limites para o que está errado, para o que não podia/devia acontecer, estão sempre a ser alargados. O dinheiro deve servir-nos. O contrário disso é submissão. Nesse e em muitos outros aspectos, a filosofia é tónica. Mas a filosofia é incómoda, para os que pregam a submissão. Tanto, que vai perdendo espaço nas escolas. Se reparar, passou de matéria obrigatória a opcional. Isso quer dizer muitas coisas. Mas a filosofia faz-se, acontece, é livre. Os espíritos dos "gestores" que nada sabem gerir não a procuram nem a entendem, mas isso só acrescenta força aos que estão do outro lado da vida. Há-de fazer diferença.
      Obrigada por vir aqui. Que eu possa continuar a merecer visitas com essa densidade e com essa liberdade. Bem haja a si, pelo que escreveu.
      A minha gratidão. E sim, com aletria e com alegria:) O mesmo para si.

      Mar

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  12. Olá Mar!

    Um comentário neste post, mas para fazer sobretudo um comentário ao incrível filme que deu como referência aqui. Vi-o ontem, naquele domingo de 'Outono', de tarde passada a ver filmes (e que bem que soube!) e devo ter ficado um bom bocado no fim, só a reflectir sobre o filme, meia parada a olhar para o computador... Às vezes acho que não sei bem como opinar sobre estes assuntos, mas cá dentro percebo-os.
    Que filme incrível! Queria dizer-lhe também para ir partilhando mais das suas referência cinematográficas. :)

    Sara

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    1. Olá Sara,

      Ainda bem que gostou desse filme. Uma perspectiva muito cínica daquele universo cínico. Marcou-me muito. Revejo mentalmente algumas cenas, para não me esquecer da plasticidade das relações entre as pessoas e de como parece fácil perder/vender a alma.
      Tem razão:) Devia deixar aqui mais sinais de filmes. Obrigada por essa lembrança e pelo seu comentário.

      Mar

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