Quem é do sol.










De vez em quando, coincido com frases ou com palavras soltas que não me largam. Há uns dias, aconteceu-me esta, escrita por uma das pessoas mais bonitas da minha vida, a meio da música que passa todos os dias na Antena 3. Quem é do sol não pode viver na sombra. A frase era assim. A propósito de uma das muitas músicas significativas dos Pearl Jam. O dia continuou a acontecer. Mas as palavras estavam lá, como se fossem uma mensagem dentro de uma garrafa acabada de retirar do mar. 
Com a música, também essa componente. Faço a diferença entre a música que me acontece e a música que faço acontecer. Com a música que faço acontecer, é simples: está por todos os sítios onde estou. Um dado inalienável, esse. Com a música que me acontece, a narrativa é outra. E é sempre uma dádiva. Um dos meus hábitos parece coisa de criança, mas é tão imediato, que nunca tentei contrariá-lo, à medida que fui crescendo. E sempre a mesma alegria, quando me acontece uma música em que estava a pensar. Entro no carro e penso que era mesmo linda a coincidência de estar a passar no rádio. Quando é assim, é como se fosse felicidade de lotaria, por pensar em todas as não-hipóteses de acontecer assim. Altamente improvável e, no entanto, acontece. Quem diz que a vida é sempre a mesma coisa, não deve pedir interiormente para que uma melodia qualquer lhe aconteça:) 
Esta salada é do sol, tal como na frase que o Rui Estêvão disse. Este espumante é do sol. Esta loiça também tem qualquer coisa de sol, mesmo que seja branca e azul. E a música de que gosto é-me sempre solar. Mesmo que a oiça à sombra, a meio do meu trabalho solitário de ler e de reler, de ver e de rever. Não fosse a música, era mais difícil. Era tudo mais difícil, estou certa. 
Para o sol e para todas as coisas do sol, uma salada que costuma funcionar como alternativa à sopa, nos dias mais quentes. Sabe bem de imediato, naqueles momentos iniciais à mesa. Prepara para o que há-de vir. Por isso, o princípio é o mesmo das sopas, só que mais fresco, por causa do sol que nos ilumina e às nossas narrativas interiores. 

Salada de tomate com papaia, mozzarella e orégãos frescos
NB: Não especifico quantidades, porque isto se faz consoante a nossa vontade e as pessoas que estiverem à mesa. 

Tomate-cereja + papaia + queijo mozzarella + folhas frescas de orégãos + flor de sal + raspas de limão + azeite e vinagre de sidra.

Corta-se os tomates em quartos, para tomarem melhor o tempero. Depois a papaia, em pedaços meio grosseiros, para não ter aquele ar arrumadinho:) A seguir, desfaz-se o queijo mozzarella. Depois, as folhas dos orégãos, rasgadas com as mãos em cima da taça onde se está a fazer a salada, para que os aromas aconteçam logo. Por último, os temperos: a flor de sal, raspas de limão (poucas), azeite e vinagre. Deixa-se estar assim uns minutos e só se envolve (com cuidado) no momento de servir. 

E a música é esta. Diz tudo. Sexto Andar. Clã. 


11 comentários:

  1. Bom dia, Mar.
    Admiro o dom que a Mar tem de verbalizar na escrita estes pensamentos, que às vezes nem confessamos, por nos parecerem tão infantis, e de lhes dar um sentido tão profundo.
    A receita é refrescante. Ultimamente, tenho vindo a combinar a fruta em saladas e em entradas. São refrescantes, coloridas e saborosas.
    Continuação de boa semana.
    Bjs
    Ana

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  2. Bom dia, Mar.
    Admiro o dom que a Mar tem de verbalizar na escrita estes pensamentos, que às vezes nem confessamos, por nos parecerem tão infantis, e de lhes dar um sentido tão profundo.
    A receita é refrescante. Ultimamente, tenho vindo a combinar a fruta em saladas e em entradas. São refrescantes, coloridas e saborosas.
    Continuação de boa semana.
    Bjs
    Ana

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    1. Boa noite, Ana

      Obrigada pelo carinho que se adivinha nas suas palavras. Muito infantis, sim. Mas eu não tenho problemas com isso. Até porque é como disse: há profundidade, densidade. Creio que as nossas diferentes dimensões podem conviver bem umas com as outras.

      E adoro esta salada tão dias de sol. Ainda hoje a fiz para introduzir o jantar, por não me apetecer sopa. E dá alegria, fazê-la. As cores e tudo o mais, muito provavelmente.

      Dias bons para si também.

      Beijos.

      Mar

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  3. Oh meus Deus!! Agora até se me arrepiaram as orelhas!!
    Tenho andado a conhecer um pouco melhor o trabalho do Tiago Bettencourt ( estou a amar) e nas minhas deambulações pelo youtube fui parar aos Clã e foi com esta música justamente que eu ontem adormeci e hoje acordei a cantarolá-la ...
    Agora depois deste texto a música!!
    Acreditas??
    Há mesmo coisas fantásticas :)
    Beijinhos

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    1. Olá Dulce,

      Isso é que é uma coincidência:) Claro que acredito. Ainda é melhor do que aquilo de me acontecer uma música em que estava a pensar.
      Também foi assim comigo. Foi a última música que ouvi, antes de adormecer e acordei com ela no pensamento. Faz sentido aqui. Com este texto. Com esta música. Com este dia. Com este teu comentário que eu não podia, de todo, antecipar.

      Mesmo fantásticas, as coisas. A vida é assim mesmo:)

      Beijos.

      Mar



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  4. Admiro bastante os seus gostos musicais Mar, de facto de muito bom gosto.
    Cumprimentos, Francisco Soares.

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    1. Olá, Francisco

      Obrigada. Sou um bocadinho aleatória, embora saiba bem do que não gosto. Mas aleatória. Seja o que for, não concebo a minha vida sem música.

      Os meus cumprimentos.

      Mar

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  5. Estas tuas saladas são muito felizes. Bonitas, coloridas e cheias de sabor. E a pincelada da música muito presente. Acontece-me também pensar em algumas músicas e depois ficar feliz quando calha de as ouvir no carro, a caminho de casa ou do trabalho! As tais coisas pequenas que nos fazem bem. Que parecem conspirações boas à nossa volta. Antes assim. Bom pensar assim.
    Um bom início de fim-de-semana.
    Com as músicas que quiseres ouvir.
    Babette

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    1. Foi um fim-de-semana cheio de música, sim. E esta salada é mesmo alegria. Além do mais, faz-me lembrar o "meu" Algarve. E eu gosto de tudo o que me faz pensar em Lagos. Coisas pequenas, como dizes. As tais que fazem com que uma terça ou uma quinta-feira possam ser dias mágicos sem ser de calendário.

      Um bom início de semana para ti.

      Mar

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  6. Olá Mar,

    Finalmente tenho um bocadinho de tempo para respirar e "conversar".

    Se por "ser do sol" se entende gostar de dias luminosos e mais compridos, então eu sou. Não me dou bem com os dias cinzentos e chuvosos.

    Portanto, como não podia deixar de ser, tive que fazer esta salada. Duas vezes já.

    Maravilhosa! A repetir, sem dúvida.

    Um beijo do Algarve, em véspera de fim - de - semana

    Sandra Martins

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    1. Olá Sandra,

      Tempo para respirar, também. Andava a precisar do mesmo.

      Ser do sol é ser assim como disse. Haverá outras interpretações, mas eu gosto é dessa. Esta salada é tão Lagos. Gosto dela por todas as coisas óbvias, mas ainda mais por isso. Como sempre, fico feliz por essa repercussão tão solar. Obrigada.

      Um beijo para si, aí para o Algarve.

      Mar

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