Água.










É-me muito difícil escrever sobre Lagos. Não por ser uma matéria que me custe. É ao contrário. É por ser tão feliz, ali. É por isso. E eu acho que a felicidade não deve ser ostensiva. Para mim, a felicidade não faz barulho. É líquida e silenciosa como as manhãs na praia do Porto de Mós. É água serena, a tal felicidade de que me custa falar. Despeço-me sempre de Lagos com a nostalgia dos que abandonam uma casa onde se viveu muitos anos. Antes de fechar a porta que encerra os dias felizes a Sul, a última coisa a olhar é sempre o mar que me abençoou como uma dádiva que eu agradeço interiormente todos os dias. É nesse patamar que coloco tudo o que vivo no meu lugar perto do mar: no altar da dádiva. Começo por agradecer a dádiva da água. 
As imagens que deixo são uma face visível e tangível da minha gratidão solar à água. A minha alegria por acordar. A minha alegria por beber café quente a olhar o mar. A minha alegria por caminhar numa praia quase desabitada, ao final da tarde. A minha alegria pelas esculturas espontâneas feitas com as pedras das escarpas, no ponto mais extremo da praia. A minha alegria pelas páginas de um livro magistral que devia ter lido há anos. A minha alegria por cada gota de água na pele dourada do meu marido e do meu filho. A minha alegria pelo tempo doce dedicado a fazer uma compota de tomate com gengibre fresco. A minha alegria por ter vivido. Expressão máxima da minha gratidão, face à vida: viver. 

Compota de tomate com gengibre

1 quilo de tomates coração-de-boi + 900 g de açúcar + sumo de um limão + 1 colher (de sopa) de gengibre ralado 

Descasca-se os tomates e corta-se em pedaços generosos. Acrescenta-se o açúcar e o sumo de limão e leva-se ao lume durante uma hora. Assim que começar a soltar uma espuma, reduz-se o lume e mexe-se devagar. Depois, deixa-se estar até terminar o tempo, mexendo de vez em quando. Cinco minutos antes de retirar do lume, acrescenta-se o gengibre e mexe-se. Depois, deixa-se arrefecer e transfere-se para frascos escaldados que depois devem ser guardados no frio. Esta compota sabe ainda melhor assim: bem fresca.  

NB: Esta compota é uma espécie de benção, servida como sobremesa, com lascas de Parmesão ou de queijo da Ilha.  

E um som meio líquido: Groove Armada.

9 comentários:

  1. Muito lindo o teu post, minha querida. Tanto as imagens como o texto, que é uma autêntica ode à vida! É bom ter-te de volta :)

    Um beijo,

    Ilídia

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    1. Olá Ilídia,

      Muito lindo o teu comentário:) Obrigada. É bom estar de volta.

      Um beijo.

      Mar

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  2. Gostei tanto da tua descrição da felicidade silenciosa. Mais do género de ser vivida e registada interiormente. Mas também fico feliz pela partilha das tuas imagens: muito bela, a água vista pelo teu olhar. Partilhar também me fez feliz ;)
    Babette

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    1. Olá Babette,

      A expressão exterior é intensificada depois de as coisas estarem em nós. Depois de as vivermos. Lagos é mais. Está para lá disto que deixo ficar. Mesmo que eu não conheça os outros lugares todos do Mundo, este é um dos lugares que me é mais. Tu sabes.

      Um beijo.

      Mar

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  3. Mar,

    Desde que me conheço que passo férias em Lagos, na Meia-Praia. Conheço muitas outras praias, mas aquela é a minha. Não há mar como aquele, que embala, que protege, nem água como aquela da maneira como acaricia e refresca. É única para mim. Até no vento da tarde encontro encantos e encontros :)
    Quando estava a ler o seu texto - e sobre a felicidade - associei a um pensamento que me ocorreu este ano, há umas semanas, quando estava lá: 'dizem que nunca se deve voltar onde se foi feliz, pois eu aqui sou sempre feliz e volto a ser de todas as vezes que volto'.
    E é isso. Único.
    É bom ser entendida.
    Beijinhos,

    Jo

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    1. Olá Jo,

      Eu entendo. Muito. Não concebo o mar noutro lugar. Falam-me de outros sítios, com argumentações aparentemente demolidoras. Eu encolho os ombros e digo que quero ir para ali. Tudo bem para esses outros lugares todos, mas um pouco da minha alma pertence ali. O meu marido diz essa frase algumas vezes. Eu acompanho até certo ponto. Depois, fico para trás. No caso de Lagos, sinto que estamos para além dessa frase. E sabe, eu tenho aprendido que não temos nada que estar presos a coisas que os outros dizem, coisas que nós dizemos, num dado momento das nossas vidas. Este Verão aprofundei ainda mais essa noção e sinto que ando a (re)descobrir-me.
      Fico muito feliz por partilharmos o amor por Lagos. Muito feliz.

      Beijos para si, Jo.

      Mar

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  4. Olá Mar.
    Desde que vi este post não mais esqueci este docinho de tomate. Está acabadinho de fazer na minha cozinha! Apenas a arrefecer um pouco antes de colocar em frascos :)
    Adorei estas imagens e as dos posts seguintes: o céu azul, o mar, os pés na areia e os cestos que tantas vezes vi nas férias.
    Beijinhos.
    Maria

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    Respostas
    1. Olá Maria:

      Boa para isso de teres feito a compota:) Espero que te saiba bem. E obrigada por gostares das imagens a Sul. E sim, as alcofas algarvias. Fazem parte do imaginário. Lá e aqui, que as uso regularmente.

      Beijos daqui.

      Mar

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