Tempero.







Gosto de comida que acontece por si. Por si, no sentido de colocarmos tudo num tacho e de tudo acontecer ali. As únicas coisas que precisamos de fazer são assegurarmo-nos que a matéria-prima é a certa e fazermos um tempero mágico:) A sério que eu acho que há qualquer coisa de magia, nesse processo. E o prazer começa aí. Enquanto associamos as coisas umas às outras. E é ainda melhor quando isso acontece na base daquilo a que eu costumo chamar de tempero "à mãe". Ou seja: temperamos e pronto. Sem estar com grandes histórias, medidas, pesos ou ingredientes estranhos que não há nos roteiros quotidianos. 
Comida dessa, para mim, é associada ao imaginário das minhas panelas de ferro fundido preferidas. Estas. As virtudes do ferro fundido davam para um tratado bem extenso. Mas acho que nestas coisas, o melhor mesmo é experimentar. Uma diferença enorme no sabor, no tempo, na energia que se consome. Tão bom quando as coisas conseguem a convergência entre o pragmatismo e a poesia. 
A comida que deixo hoje faz-se em quarenta minutos. O tempo suficiente para irmos deixando respirar um vinho denso, cheio de corpo, que nos faz pensar que há qualquer coisa de benção, num bom vinho. Este é um desses vinhos-benção, feito aqui. Nesse intervalo, também podemos ir fazendo uma salada de frutos tropicais. Cortados em pedaços generosos, sem misturar, sem acrescentar mais nada. Só deixar estar, servir o jantar e prolongar o prazer da comida com vinho que nos sabe (pel)a vida.

Estufado de vitela com cenouras novas
Ingredientes para 4

1 quilo de vitela (da parte do chambão e cortada em pedaços) + 1 cebola roxa + 3 dentes de alho + 1 folha de louro (sem a nervura do meio) + metade de 1 pimento verde + 1 copo de vinho branco + 2/3 cenouras + 2 tomates maduros (sem a casca e cortados em pedaços) + sumo de meia laranja + 1 colher de sopa de Maizena (uso Express) + sal, azeite, coentros e pimenta preta moída.

Coloca-se a carne na panela e vai-se acrescentando as coisas. A cebola cortada grosseiramente, os alhos esmagados (e com um pouco da casca, para intensificar o sabor) o sal, o sumo da laranja (uma espécie de passe mágico, que faz com que a carne fique mais saborosa e mais tenra:), a folha de louro, o pimento e o tomate cortados em pedaços, o vinho branco e o azeite. Por cima, as cenouras inteiras, um pouco de coentros picados e pimenta preta moída na hora. Leva-se ao lume, com a tampa fechada. Durante os primeiros dez minutos, em fogo forte. Depois reduz-se e deixa-se estar. Mexe-se ocasionalmente, tendo o cuidado de manter as cenouras sempre à superfície, para não cozinharem demasiado e para irem absorvendo o sabor das coisas lentamente. Vale a pena, esta parte. Pode parecer um detalhe, mas é como se nunca tivéssemos comida cenouras, antes:) Decorrida a meia hora, retira-se as cenouras, acrescenta-se a Maizena e rectifica-se os temperos, se necessário. Voltamos a pôr as cenouras e salpica-se com coentros e mais pimenta preta. Na altura de servir, corta-se as cenouras e distribuímos pelos pratos. 

E comida com este tempero pode bem pedir música desta.


2 comentários:

  1. Ei-la ;) Tão linda, a tua panela que é quase mais importante que uma jóia ;) E a comida tem aquele ar de comida de mãe, que nos dá um abraço sempre que precisamos. Não basta juntar tudo. Tem isso do tempero. E como a minha avó dizia, há quem tenha mão para o tempero. Isso tudo! Um misto de sabedoria e intuição. Uma dose de pragmatismo com uma grande de amor. É esta a receita das mães, creio. Um beijo para ti!
    Babette

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    1. Olá Babette:

      Muito mais do que uma jóia. Esta comida é uma das preferidas do meu filho. E era uma das minhas preferidas, quando era pequena. Significa/significava a minha mãe. Agora significa eu e o meu jogador de basket preferido:) Embora ele deixe de parte as cenouras. Não vai lá nem com aquela história dos olhos bonitos. Ele diz que não se importa, que fica com os olhos feios, então:)

      Outro beijo para ti. Já estou em casa:)

      Mar

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