Há imenso tempo que não ia a este hotel. Creio que terá sido pelos mecanismos habituais. Aquilo de pensarmos que é relativamente perto. Que há outros lugares. Que já estivemos lá. Que já conhecemos. A questão é que, em primeiro lugar, nós não conhecemos nada. E isso faz parte da nossa dimensão humana. Limitada, por inerência.
A minha memória era cruzada e meio difusa. Lembrava-me deste contexto, quando era pequena. E depois, mais à frente. Mas creio que esses dois momentos se confundiam, apesar de muito diferentes. Seja como for, reiterei a sensação inicial, relativamente a este hotel. Há ali qualquer coisa que não se sente nos outros lugares. Um silêncio que é feito de uma densidade muito particular. O céu. As árvores. E haver silêncio de tal maneira que se ouve as brisas nos ramos, nas folhas. O perfume inebriante dos lilases e o zumbido das abelhas, doidas por néctares.
No interior, estamos sempre a ser convocados para um tempo em que as viagens obedeciam a uma lógica mais demorada. Mais a pensar em habitares prolongados. Os tais detalhes. Os quartos enormes. Os lugares para arrumar as bagagens. Que tinham de ser muitas. Nota-se os sinais dos espaços próprios para cada coisa. Um lugar específico para guardar os sapatos. Muitas gavetas nos quartos. Separadas por géneros. Espaço para pendurar os vestidos longos para usar ao jantar. Com esses sinais todos, as narrativas que ali terão respirado. Não dá para evitar que a imaginação viaje.
Muito especial, o Palace do Bussaco. Uma decadência que é só charme e que parece não se importar com os confortos habituais dos outros hotéis. Nada de ar condicionado nos quartos, por exemplo. Mas mantas muito quentinhas e pesadas como as das casas das avós. Papel de parede com flores. Portas de madeira que rangem ligeiramente. Televisões quase obsoletas, que parecem dizer-nos "não me ligues, sim?":) Coisas assim. E o restaurante. Comida tão especial e tão inesquecível, que merece um capítulo separado deste.
Faz parte destas memórias acumuladas. Há muito que devia ser uma das páginas, aqui. Aconteceu agora.
Olá Mar,
ResponderEliminarAdorei tudo!
Eu costumo dizer a brincar que, noutra encarnação, devo ter vivido num palácio porque todo o
imaginário me deslumbra!
A descrição que faz deste hotel lembra-me um local de turismo rural em Borba, onde ficamos há um
tempo atrás.
Ao pequeno - almoço havia compotas com fruta das árvores que lá existem.
Eu e o marido adoramos e o casal que foi connosco detestou. São mais do tipo de hotéis de 5 estrelas,
ultra - modernos.
Muito obrigada por mais esta referência!
o Buçaco está na lista dos sítios lindos que temos em Portugal e que eu tenho que conhecer! Por acaso, São Pedro do Sul também.
Uma estadia nas termas está nos nossos planos.
Um beijo do Algarve, em meio de semana
Sandra Martins
Olá Sandra,
ResponderEliminarEu creio que, mesmo gostando de coisas muito diferentes, há imagens e lugares que despertam a nossa sensibilidade de maneiras muito especiais.
Este hotel é, realmente, um lugar com qualquer coisa de mágico. Há ali uma síntese muito feliz. Por um lado, majestoso, imponente, luxuoso. Mas depois há alguns detalhes que tornam tudo muito chão. Creio que é a Natureza a fazer um trabalho de fundo, nesse processo:)
E é bom termos vontade de conhecer. Renovamo-nos, nos olhares novos.
Um beijo para si.
Mar
Fabuloso! Adorei o registo fotográfico e a descrição que aqui deixas. Fecho os olhos e imagino-me lá. Acho que era disto que precisava este fim-de-semana. E muito daquela parte de televisão desligada. Desligar do mundo, para que pudesse concentrar-me nas pessoas do meu mundo. Enquanto não, vou tentar pôr isso em prática aqui no Porto ;)
ResponderEliminarUm beijo grande
Babette
PS: As fotos ficam mesmo bem assim grandes ;)
Temos sempre a possibilidade de desligar. Onde quer que estejamos. Embora neste sítio seja mais fácil:) É mesmo lindo. Estive o tempo todo a pensar como é que pude estar tantos anos sem voltar a esta magia silenciosa. As coisas que adiamos indefinidamente, sem razão aparente.
EliminarTambém gosto destas imagens em versão XL:) Apesar de se notar mais as minhas limitações, nas fotografias. Faz-se o que se pode:)
Um beijo.
Mar