Tudo o que acontece tem necessariamente a ver com ele. Destinatário e motivador. Implacável nas apreciações. Por querer (o) bem. Como é que ele diz? Que "não conta histórias". E não. Se sabe bem, sabe bem. Se não, é não mesmo. Sem complacência e sem apelo. Gosto da nossa maneira crua de colocar as coisas em cima da mesa. Aconteça o que acontecer, dizemos as coisas. As que se gosta de ouvir. E as outras, as que custam. Lagos não seria nada assim, se ele não existisse. Não é só uma questão de ingredientes. Nem se trata de mim e dos meus traços. Fica feliz com estas coisas todas. E estas coisas eu consigo. Não consigo uma série de outras que gostava de conseguir. Mas estas sim. Isto das imagens foi especialmente para ele. Eu não gosto assim muito de comida com cascas. Mas ele adora. Então, fui sozinha ao mercado, para preparar uma surpresa à minha medida. Consegui lingueirão. E pensei em duas versões possíveis. Muito juntas numa única refeição. Que começou com salada de alfaces, figos e uvas.
Com isto, uma música que é memória. Eu andava algures por Vilar de Mouros, em 2002. Ele não. Depois disso, nunca mais andei sozinha nos meus concertos. A história a sério começou com esta música. Memória de uma decisão silenciosa, a música que vamos ouvir juntos numa sala, em Lisboa. Daqui a uns dias. Dez anos depois. Inflatable. Com tudo o que estas coisas têm de etéreo. Nada é garantido e confortável e previsível. Bom que assim seja.
Nota: O lingueirão deve ser cozido durante dois minutos, em água a ferver. Retira-se e coa-se a água, reservando-se para o arroz.
Lingueirão na sertã
Depois de cozido, leva-se ao lume numa frigideira, com azeite e dois dentes de alho esmagados. Acrescenta-se flor de sal a gosto, vinagre, azeite e coentros picados. Serve-se de imediato.
Arroz de Lingueirão (adaptado do livro Sabores da Cozinha Algarvia, Vila)
1 litro de água de cozer o lingueirão + meio quilo de lingueirão + 1 chávena almoçadeira de arroz carolino + 1 cebola picada + 1 dente de alho + metade de um pimento vermelho + 1 tomate coração-de-boi + sal, azeite e coentros a gosto.
Faz-se um refogado com a cebola, o alho, o pimento, o azeite e o lingueirão partido. Quando a cebola estiver translúcida, acrescenta-se a água de cozer. Assim que começar a ferver, junta-se o arroz e um pouco de sal. Deixa-se cozer, até ficar caldoso. Rectifica-se de sal e acrescenta-se os coentros picados. Serve-se de imediato.
Que pode haver mais gratificante que dar o melhor de nós aqueles que nos querem bem? Aqueles que nos dizem o que pensam, sem meias palavras, doa a quem doer e mesmo assim estão sempre por perto. Gostei muito da ementa. bjs
ResponderEliminarGostei de ler o seu texto. São pequenos gestos que significam muito.
ResponderEliminarNunca fiz arroz de lingueirão. Sempre achei que não seria capaz. Tal como o risotto. A simplicidade da explicação vai levar-me a experimentar um dia destes.
beijo
Fa
Os nossos maridos pelos vistos têm em comum isso de não "contarem histórias". Mesmo que às vezes isso nos custe, são assim :)
ResponderEliminarNunca comi lingueirão, mas acho que iria gostar (gosto de coisas com cascas :) E também gosto de Bush:)
Um beijo,
Ilídia
P.S.: Por aqui, não houve sinais do Gordon. Está tudo calmíssimo.
Muito bonito o vosso querer bem. Deixar o Vasco feliz com comida com cascas :)
ResponderEliminarE Bush que ouvimos juntas, nesse Verão!
Tenho apreciado muito as cores das tuas comidas de Lagos, o vermelho o verde o laranja. Mesmo enquanto andei em trânsito. Agora já de regresso mando-te daqui um beijo!
Bons regressos!
da Pipinha
Olá Papoila:
ResponderEliminarUma parte muito grata das coisas que há em mim. E acredite que é mesmo assim como escreveu. Sempre perto. Mas com a noção de que cada um está a sós. No princípio e no fim de tudo o que somos.
Independentemente de estados civis. Gosto dessa lucidez.
Obrigada por ter gostado da ementa. E pelo comentário.
Um beijo.
Mar
Olá Fa:
ResponderEliminarGestos a que se atribui significado. Antes e depois de acontecerem. Também nunca tinha feito este arroz. Mas ele pediu. Se havia no mercado e se eu conseguia fazer, porque não?:) Tem razão, é bem simples. Cumpri as instruções da fonte e fiz uma ligeira adaptação: coentros em vez de salsa. Espero que goste, quando experimentar.
Um beijo.
Mar
Olá Ilídia:
ResponderEliminarJá tinha partilhado contigo este traço do Vasco. Sempre com o subjacente assegurado, que é a vontade de Bem, de Bom, de Beleza. Os três B's fundamentais, como costumo dizer.
E ficou. Mesmo que eu não seja muito de mariscos e moluscos, já está. Consegui dar este pedacinho de felicidade.
Bush vai ser no dia 2. Por ele gostar muito desta música. E eu desta e das outras mais daquela maneira:)
Um beijo.
Mar
PS: Bom que tenha sido serena, a passagem do fenómeno com nome de gente:)
Olá Pipinha:
ResponderEliminarBom que estejas de volta. Também eu, agora. Ligo mais tarde, que tenho saudades:)
Que roteiro o nosso, nesse Verão. Concertos com chuva e lama. Concertos com poeira e calor, na Zambujeira. Estavas lá. Como tens estado desde o início deste querer bem que não foi fácil. Prevaleceu, no fim de contas. Com a prudência que partilho com o Vasco: até ver:)
Lagos foi ainda mais bonito, este ano. Fico feliz que gostes das cores das coisas da terra e do mar. A tua amiga ainda não está bem aqui. A sensação de ter ficado lá em baixo. Não sei. Logo falamos.
Um beijo.
Mar
Olá Mar,
ResponderEliminarOs seus textos são sempre maravilhosos, gostosos de se ler atá ao fim. Mas nunca têm um fim. Eu sei sempre que vai aparecer algum mais tocante que o anterior.
E tem outra coisa, as suas escolhas musicais revelam-se (para mim) sempre perfeitas.
Também gostei das receitas...
Com carinho,
Helena Mendes
Muito bonito o texto, comovente! Por vezes é muito simples fazer feliz quem está ao nosso lado, com pequenos gestos que são grandes!
ResponderEliminarTambém gosto da música. Recorda-me outra fase da minha vida, em que as preocupações eram bem diferentes das de agora. Mas é bom crescer e ter quem nos acompanhe nesse crescimento!
Um beijo com carinho
Graça
Olá Helena:
ResponderEliminarO que escreveu fez-me bem daquela maneira que eu chamo de "quietinha". Há uma componente de dádiva em escrever coisas. Mesmo que sejam assim pequenas, como estas que aqui vou deixando. Escreve-se e não se espera nada, creio. Mas mesmo não esperando nada, o bom de alguém algures ler. E gostar. E verbalizar isso. O meu marido leu o seu comentário antes de mim e fez-me um carinho. Depois disse que era muito bonito que alguém se desse ao trabalho de parar um bocadinho e escrever-me. Penso assim, também. Por isso é que é tão importante responder sempre aos comentários. Sejam 10 ou 1. Uma coisa muito grande, alguém parar. E escrever. Merecedora de respeito. Obrigada.
O meu carinho também para si.
Mar
Olá Graça:
ResponderEliminarCreio que as inúmeras declinações do amor nos ensinam (também) a simplicidade. Se pensar com calma e olhar para trás, as coisas mais pequenas de todas foram as que mais sentido acrescentaram. Bom que assim seja. E que as misturemos com outras coisas. Doces. Meio salgadas e ácidas, de vez em quando. Não acho piada a amor que é assim como comida insípida:)
Bom que goste da música. E que tenha significados anteriores.
Um beijo.
Mar