Praia.



























Ninguém consegue dizer o mar como ela o disse. Ninguém diz Lagos como ela o fez. A mulher das palavras que são água. Já longe do mar do sul, fica aqui a evocação de um dia de chuva numa praia sem ninguém. Com imagens. E com as palavras dela. Que também foi feliz ali.
Praia
Os pinheiros gemem quando passa o vento
O sol bate no chão e as pedras ardem.
Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.
Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.
As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.
E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.
                              Sophia de Mello Breyner Andresen

6 comentários:

  1. : ) absolutamente maravilhoso

    Jo

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  2. Mar, um belíssimo tributo a Sophia. Lindo poema. Acompanhado de belas imagens. Gosto muito do Algarve visto por si. Um beijo

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  3. Olá Jo:

    Ela disse o nosso mar de uma maneira irrepetível, não é? Adoro este poema. Muito especialmente os dois últimos versos.

    Um beijo com carinho. Pelo adjectivo. E por si.

    Mar

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  4. Olá Ilídia:

    Um tributo a ela, sim. Nunca vou ao Algarve sem a evocar. No meu olhar, estão as palavras dela. Há um outro poema dela. Muito breve. Quando eu morrer, voltarei para buscar todos os instantes que não vivi junto do mar. Estou a dizer de memória, creio que é assim. Tão bonito, não é? Chama-se Inscrição. É assim que eu sinto. Que tudo o que eu não viver junto ao mar me há-de ser devolvido.

    Obrigada pelo seu carinho. Que vem de um lugar junto ao mar. Muito verde. Um lugar que imagino habitado por fadas ou assim:)

    Mar

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  5. Adoro os versos aparentemente tão simples da Sophia. Que descrevem o Mar tão plenamente.
    Nem me atrevo a dizer mais nada! (a não ser que as fotos do mar zangado são tão belas quanto as demais).
    Beijo a chegar a casa...
    Babette

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  6. A tua amiga irregular está a assentar:) Sempre a tempo, não é? Uns dias em que não. Mas depois sim. Regressa-se ao que nos faz bem. Gostei de ter guardado aqui o mar ligeiramente zangado. A traduzir um dia quente com chuva. Pouco antes de coisas solares que foram inesquecíveis.
    Já disse que tenho muito orgulho em ti? Muito principalmente quando chegas tarde a casa. Pelas coisas boas que estás a fazer com a tua vida.

    Um beijo por isso. Que é bom fazer coisas boas com a nossa vida.

    Mar

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