Roger Scruton, I drink therefore I am
Hoje quis um vinho de amar. Amarone. Porque só o nome evoca a memória de um sabor que reconheceria de olhos fechados, sem rótulo. Ainda que o deste vinho seja como uma história. Por parecer antigo, por dizer que vem de muito longe, como as palavras.
Uma imagem que é muitas palavras, a que fica hoje. Copos de vinho. Podem significar celebração ruidosa e ostensiva. Solidão procurada, voluntária. Ritualização de um hábito sagrado. Inebriante. Querer fugir, escapar, esquecer. Dizem isso. Beber para esquecer. Triste isso, não se esquece nada. Pode ter-se a ilusão. Mas o que há para esquecer, fica à espera que a consciência regresse ao que havia antes. Por isso, não ao vinho para esquecer. Ou para criar personagens. Melhor lembrar. Como este vinho. Bebido aqui pela primeira vez. Depois em Itália. A transformar-se em memória líquida que faz pensar. Recordar. Evocar. Rememorar.
Como hoje. Em que fica guardada mais uma memória que escorre, líquida, dentro de um copo. Mais uma a acrescentar a todas as outras memórias. Datadas. A crescerem, transparentes. Datas que são pessoas. Comidas. Datas que são datas. Que são de lembrar. Datas a que voltar com afecto. Como no livro do Roger Scruton, que mudou todo um percurso por causa de um vinho. A celebratory bottle of 45 Lafitte.
Ou então, a memória de hoje. Amarone della Valpolicella Classico, Tommasi. Vinda de Verona, a memória de hoje. A dizer no rótulo coisas de preservar. L' Amarone Tommasi è anche il compagno ideale per una piacevole conversazione. Coisas para ler a beber.
Mar:
ResponderEliminarNão é nada fácil escrever um texto como o de hoje. Mas transmitiu o lado "bom" desta bebida, o aconchego que pode dar a um momento especial...mas o importante é tudo o resto e que transparece tão bem nas suas palavras. Lindas, lindas. Vê-se bem que aproveita com excelência os instantes que a vida lhe vai proporcionando, é assim mesmo que se deve ser.
E nós a aprendermos consigo, parabéns, porque é uma forma de ensinar e ajudar os outros. Às vezes podemos ter os mesmos momentos, é questão de os agarrar!
Beijinhos.
Olá, Mar
ResponderEliminarNos últimos anos compenso o facto de não poder beber vinho, com os meus chás. Claro que é completamente diferente, não só pela composição distinta como pelos momentos e rituais que envolvem ambas as situações. Só em casos muitos extraordinárias é que bebo vinho, assim achei que depois deste texto era minha obrigação confessar que o seu risotto deu lugar a um desses momentos excepcionais.
Gosto desta procura da associação perfeita entre um livro e um copo de vinho, do mesmo modo que outras vezes nos tem conduzido até uma receita através de determinada música. Aliás, acho que está a abrir uma via interessante de ser seguida. Não nos limitarmos apenas a encontrar o vinho adequado para uma refeição, mas ir mais além e encontrar as leituras certas para o antes e o pós refeição, incluindo os pensamentos que atravessam o próprio processo de preparação.
Enfim, já divaguei bastante, vou regressar aos meus outros textos.
bjs
Olá Lusitana:)
ResponderEliminarO lado bom do vinho. A mim, chegou-me pelo meu marido. Porque significou durante muito tempo, a inconsciência. A perda temporária de identidade. Nunca gostei dessa vertente. Não por virtude ou por moralismo. Mas porque me faz impressão essa ideia de nos esquecermos ou de tentarmos ser momentaneamente o que não somos. Aliás, não subscrevo nada aquela frase batida: in vino veritas. Creio que não é por aí.
E sim, tento sempre aproveitar tudo. Mesmo as coisas pequeninas. Que não interessam nada. Uma espécie de ética aplicada ao quotidiano, talvez. Só que sem disciplina. Um sentido ético indisciplinado. Para procurar o bem, o bom e o belo. Três Bs. Três palavras para amar. Que a Mar procura.
E aprender. Tenho aprendido muito, eu. Com pessoas como a Lusitana. Uma aprendizagem muito bonita. Que é um caminho.
Um beijo de bom fim-de-semana para si!
Mar
Olá, Fa:
ResponderEliminarFico feliz que o risotto tenha sido um pretexto para um vinho. Bom assim. Que um copo de vinho seja associado a pessoas, a lugares, a momentos. Que depois são memórias que nos hão-de acolher.
As coisas surgem, acontecem. E eu acabo por escrever o que vai surgindo. Sem conseguir separar as coisas. Este espaço acabou por se tornar um lugar onde registo que um risotto foi feito a ouvir uma certa música. E que durante, pensei num concerto. Ou que um doce me faz pensar num livro. Numa pessoa.
Com este livro foi assim. O vinho fez-me procurar a página onde estava a passagem que abre o post de hoje.
Um beijo de sexta-feira. A pensar em dois dias sem horários:)
PS: Gosto sempre das suas divagações:)
O sentido certo do vinho. De celebrar. Saborear. Goles suaves enquanto se lê ou se conversa.
ResponderEliminarMais um acto que pode ser ritualizado. Como tu o fizeste. Beijo de bom fim-de-semana. Com chuva.
Babette
Não podia identificar-me mais com as palavras deste filósofo. São tão verdadeiras!
ResponderEliminarBeijinho e um brinde às palavras que trocamos :)
Tens razão. O sentido certo do vinho. Ou um dos sentidos certos do vinho. Associar o que é tido como um vício a um gesto ancestral de ritualização. De celebração.
ResponderEliminarUm beijo da Mar. No final do fim-de-semana. Ontem foi dia de folga:)
Mar
Rose:
ResponderEliminarUm beijinho para ti. E um brinde. Não chegámos a brindar, pois não? Mas o vinho era muito bom. Soube a amizade rosa:)
Um beijo da Mar.