Dóri | Costa Nova.

























Depois de Lagos, a praia da Costa Nova. E, na Costa Nova, este restaurante que fica hoje. O Dóri. O nome tem uma sonoridade algo estranha. Uma palavra que nem parece fazer parte do nosso léxico ou do nosso imaginário, numa primeira impressão. Mas faz. É o nome de uma embarcação do século XIX, usada na pesca do bacalhau. E é também o nome de um dos meus restaurantes preferidos. Um daqueles que traz as memórias vívidas da comida, mal o pronuncio, mal o evoco. E ser esse o meu critério. Ser esse o motivo para regressar uma e outra vez. 
É fácil de encontrar: fica na parte de cima do mercado da Costa Nova. E é tudo bom do início ao fim. Acontece sempre assim. Nas entradas, os pimentos padrón, as lulas e os chocos fritos, as petingas. Tudo a vir para a mesa acabado de fazer. E as padas de Ílhavo e "temperar" isso tudo com uma salada simples de tomate, salpicada com flor-de-sal da Ria de Aveiro. Uma das marcas do Dóri, para além da comida, é o serviço. Eficiente, atento, expedito. Uma máquina bem oleada, nota-se. Tem de ser, porque está sempre cheio.  E abençoada, aquela cozinha. É o tipo de comida que nos faz mesmo felizes, que faz com que nos sintamos mesmo no momento, de gratos. Não sei dizer melhor. Olho para as imagens, sei que contam coisas de ocasiões diferentes e sei que não são a história toda. Primeiro, porque ficam tão aquém da realidade. E depois porque lamento não ter registado o polvo delicioso, o arroz de peixes frescos. Caldoso, como deve ser. Com arroz carolino e não com arroz agulha e isso significar que não é uma água com coisas a flutuar, como se vê com tanta (e lamentável) frequência. E os filetes de pescada, que são uma daquelas coisas maravilhosas. Tanto, que nunca consigo comê-los sozinha, por serem cobiçados por quem estiver à mesa comigo. O mesmo acontece com a pescada de cebolada. Irrepreensível. Tudo naquele prato foi bem feito do princípio ao fim. A começar pela frescura. A matéria-prima é a premissa. E trabalhar bem o peixe, seja ele qual for, é uma arte. Quando se trata de um peixe tão mal-amado, como é o caso da pescada, essa componente de arte faz ainda mais sentido. Por isso, todos os que pensam que pescada é uma coisa insípida, inofensiva, inócua, deviam ir ao Dóri e pedir os filetes e depois a pescada de cebolada. A ver se (se) mantiam (n)o mesmo ponto, na questão da pescada:) No final de tudo, pedir para sobremesa uma fatia de Morgado do Bussaco, é pedir um final feliz. Sou mais de salgados do que de doces, mas sou do género de achar que quando se come doces, que seja a sério. Tem de ser algo que encha as medidas. E este é um desses casos. Cá fora, a Costa Nova. Linda e etérea como só ela. E a música à noite, no Cais Criativo, que fica a uns passos do Dóri. Aquilo que ficará de cada uma das nossas vidas, será mesmo a memória interior do que vamos vivendo. Tão bom, compor memórias como se fossem música de que nunca deixamos de gostar. É assim com a Costa Nova. É assim com este sítio que é esta página. É assim com a música dos Linda Martini. 


2 comentários:

  1. Divina, a descrição da que seria para mim uma refeição ideal!

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