Este lugar que fica hoje é-me tão difícil de dizer. Mas eu quero
muito tentar dizê-lo. Porque antes de todas as palavras, é tão bom poder dizer
que é aqui muito perto. O extraordinário nem sempre é longínquo. E este sítio
tem dentro essa premissa.
O Condado de Beirós já
sobreviveu a muita coisa. Mesmo muita. Tantas, as narrativas. Umas verdadeiras.
Outras nem por isso. Faz parte. Lugares destes têm sempre esse toque inventivo.
Mas é verdade que o Conde de Beirós perdia o pé, no jogo. Tão verdade que, numa
das vezes, não perdeu só o pé e perdeu parte da casa. E assim, os vencedores
desse jogo vieram mesmo reclamar a dívida e desmantelaram a parte que o conde
tinha apostado nesse jogo fatídico. Pedra por pedra. Ficou assim durante anos.
Lembro-me de a olhar, quando era pequena e de sentir pena da casa cortada ao
meio. Um dia,
alguém passou à fase seguinte disso de lamentar e reconstruiu a casa do tal
Conde de Beirós que gostava (demasiado) de jogar. Pedra por pedra. Assim mesmo
como tinha sido desmantelada, mas a fazer o caminho ao contrário. Como se fosse
um puzzle, a juntar coordenadas anteriores, através de fotografias antigas e
gravuras. É bem mais fácil destruir. Construir e/ou reconstruir é que é. E ela
aí está. Melhor: aqui está. Andava há anos para a deixar aqui. E há anos que adiava e que
adiava. Incompreensível. Ou não, porque também eu caio por vezes no erro do pode ficar para
depois. Aquela argumentação interior que arranjamos para tudo aquilo que
tomamos como certo. Um pretexto exterior resolveu-me essa questão dos
adiamentos indefinidos. Perguntaram-me se podia fazer a decoração para um
jantar especial e eu disse que sim, claro que sim.
Creio que dá para perceber que gosto muito deste sítio. E creio
que também dá para perceber que me concentrei mais no exterior da casa do que
no interior. Só dei conta disso ao olhar as imagens, pouco antes de começar a
escrever. Uma lástima, essa falha, porque a casa é muito linda (também) por
dentro. Com o imaginário todo destes ambientes e com uma alma que é só dela. A
sala de jogos. As salas de música onde já tinha assistido a recitais de piano
muito especiais. A biblioteca. Os quartos entre o palaciano e o minimalista. A
colecção-paixão de carros clássicos do proprietário. Mas não dava para não
ficar encantada com o verde todo à volta. E com o perfume irrepetível dos
lilases nos finais de Abril e nos inícios de Maio. E com a água. E com o
horizonte aberto a mais verde. Por isso, é bem difícil abdicar do exterior, por
mais que se goste do interior. Mas espero que o verde todo que aqui fica me redima dessa
falha. Para não adiar mais, Beirós. A Primavera inadiável e inesquecível
de Beirós. Esta Primavera, muito especialmente. Neste dia, muito
especialmente.
E falar deste sítio, a propósito deste jantar, é falar de um outro
lugar muito especial: a escola onde dou aulas. Melhor: dos alunos da escola
onde dou aulas. Porque este jantar estava integrado no programa deste simpósio
organizado pelos alunos do curso de Turismo. Porque este jantar foi preparado e
servido pelos alunos do curso de Restauração. Porque o acolhimento dos
convidados foi feito por alunos do curso de Turismo, que tinham estado o dia
todo a trabalhar (muito) no tal simpósio. E chegaram ao final desse dia com os
sorrisos que estão nas imagens. Por isso, esses sorrisos, esse trabalho, a
postura irrepreensível, o profissionalismo e a alegria de cada um deles. Tanto,
que, pelo meio de todas as coisas óbvias de todas as escolas, conseguem fazer e
ser tanto. Brilham e dão lições quotidianas de uma esperança mais verde do que
todas as árvores de Beirós. A par de tudo isto, os meus/nossos alunos conseguiram ser finalistas deste concurso
de talentos, por se distinguirem na música, na dança, no teatro, nas artes
plásticas. No final de Maio, em Coimbra, vão brilhar muito na última fase. Sei
que sim. E, mesmo que não ganhem, o brilho irrepetível de cada um deles
pertence-lhes por inteiro. Aquele brilho especial das pessoas especiais. Como
diz a música-hino do concurso de talentos onde têm brilhado: we don't
walk, we fly. Ficam aqui, que eles são mais importantes do que todas as flores
e do que todas as velas da mesa deste jantar especial, que aconteceu num lugar
especial, num dia que me é especial por motivos íntimos e que acabei por viver
ali. Uma noite quente e tranquila do início de Maio. E inesquecível. Não
esquecer isso. Uma noite inesquecível.
NB: Obrigada à Anabela do Condado de Beirós. Pela simpatia, pela paciência, pela alegria pela minha alegria. E por me ter dito que sim, que podia andar à vontade pelos jardins, a disputar lilases e outras flores a abelhas furiosas, para pôr na tal mesa especial:)
A música é para eles. Pelo dia das imagens. E para dar boas energias para cada uma das danças das vidas deles.
Que lindo, Mar! Lindo o local, tão cheio de verde, tão cheio de história. E gostei muito também, do interior e da tua decoração, que está tão, mas tão bonita! Mas como poderia não estar ? Feita por ti, com todo o teu bom gosto, com os lilases que adoras, à luz das velas. Maravilhoso, como todas as coisas que fazemos, com todo o nosso coração. E isso é bem visível nas imagens.
ResponderEliminarA comida tem também, um aspecto delicioso ;) E adorei os sorrisos das jovens, francos, genuínos, humildes, mesmo cansados. Dão mesmo muita esperança. Esse brilho que falas, os das pessoas especiais, tu também o tens. E obrigada, por deixares por aqui lastros desse mesmo brilho. (como sempre:)
Um beijinho grande para ti e continuação de uma boa semana ❤
Parece um daqueles sítios mágicos, sabes? As pessoas estavam todas encantadas e diziam sempre o mesmo essencial: que era lindo, este sítio. E sim, ninguém ficou indiferente aos meus alunos especiais e brilhantes. Fizeram tudo, eles. Acolheram, prepararam, serviram, explicaram a ementa e passaram a palavra ao enólogo, quando chegou a parte dos vinhos. Tão lindos, que só apetecia abraçá-los ali mesmo. Só deu para isso nos bastidores do jantar, que à frente das outras pessoas tínhamos de nos portar bem:) A minha esperança e a minha alegria inabaláveis também vêm deles. Estava a pensar nisso, quando acordei hoje e estava a chover e tudo o mais. Que não importava, que estava tudo bem na mesma.
EliminarAdoro lilases. Fico triste quando penso que aqui no meu jardim já houve e que mandaram cortar. Foi no período A.M. da casa. Se estivesse cá, não deixava. É que os lilases são uma espécie de metáfora violeta. E têm um aroma maravilhoso, de inebriante.
Um beijo para ti também. Obrigada por teres gostado. Fico muito feliz. E boa semana para ti também:)
Mar
Desculpa, Mar, só responder agora. É tão lindo, esse amor que tens, pela vida, pelos teus alunos... ler, que só apetecia abraçá-los, fez-me sorrir de imediato. Tens uma profissão muito bonita e esse amor pelos teus alunos, é muito lindo. Também teria gostado, de ter uma professora assim ; de ser tua aluna :)
EliminarBeijinho grande para ti, pessoa linda ❤
*Ah e desculpa, a demora em responder ao teu comentário, lá no meu canto, respondi, hoje.
Encontrei este site, com muitos símbolos, e lembrei-me de ti. Lembraste que me disseste, um dia, que não tinhas... se quiseres usar, é só copiar e colar :)
http://www.inexistentman.net/2011/03/tabela-com-mais-de-4000-simbolos-e-caracteres-especiais/
Não tens nada que pedir desculpa, querida Cláudia. E sim, gosto (mesmo) muito do que faço. Da minha vida tal como ela é, com todos os sonhos e expectativas que ela também tem dentro. Mas tal como ela é. E isso inclui os dias cinzentos, que não acredito em versões segundo as quais está sempre tudo bem e é sempre tudo muito fácil. Nada disso.
EliminarObrigada pelos símbolos:) Já guardei e faço agora a experiência. A ver se consigo deixar um coração pequenino. Este. ♡
Um beijo para ti, pessoa linda:)
Mar
Tão fofinho esse coração pequenino :) Eu também sou assim, não acredito em nada assim tão fácil, a vida tem tanto de bonita, como de difícil, de cinzenta... E nós, bom, nós, agarramo-nos às coisas boas, ao que nos dá força, e ao que nos traz serenidade. E vamos assim, tentando equilibrar a balança... com os dias bonitos e cheios de luz.
EliminarDe nada, Mar. Tinha uns soltos, mas essa lista, dá jeito para os nossos cantinhos.
Ohh... Outro beijinho grande para ti :)♡
Cláudia
Agora vou deixar corações pequeninos nos sítios todos:) Guardar as coisas boas e lidar com as coisas más. O melhor que podemos/pudermos.
EliminarObrigada outra vez, linda Cláudia.
Um beijo grande.
Mar
Que bom :) Exactamente, é o melhor que podemos fazer.
EliminarDe nada, querida Mar.
Outro grande para ti e um bom fim de semana (daqueles bem bonitos, cheios de momentos bons;) ❤
O meu homem que nunca fica(va) doente está doente. Tem estado assim. E nenhum dia me é bom enquanto ele não estiver bem.
EliminarUm beijo para ti, querida Cláudia. Coisas boas. Muitas.
Mar
Pois, eu percebo. Nunca estamos bem, se os nossos também não estiverem. As melhoras dele, Mar.
EliminarBeijinhos, e para ti também, muitas coisas boas. ❀
Cláudia
Está a melhorar, felizmente. Muitas coisas boas para ti também. E mais um coração pequenino:) Este: ♡
EliminarUm beijo grande!
Mar
Mar,
ResponderEliminarGosto tanto, tanto. Não conheço o lugar mas a apresentação é arrebatadora, envolvente.
Tal como está descrita, fotografada, iluminada. Iluminada, de facto.
Deixe-me pôr as palavras assim: Que Deus a abençoe.
Melhor: Que Deus a continue a abençoar sempre, porque ser a Mar já é.
Que bom para todos.
Um grande beijinho,
Jo
Bom dia, Jo
EliminarGostei tanto, tanto do seu comentário. Da luz e do acolhimento das suas palavras. Obrigada por elas. Por si.
Este sítio é, realmente, arrebatador. Mas sem fazer barulho. Está a uma distância boa do mundo, por se ter a sensação de recolhimento, mas sem se voltar as costas, sem a noção de isolamento.
Aceito essa benção, querida Jo. E desejo-lhe o mesmo. Que continue a ser a pessoa abençoada e boa que é, que só pode ser. O mundo precisa (tanto) de pessoas boas.
Um beijo grande para si. Obrigada outra vez.
Mar
Que belo local. Uma mesa linda e uma refeição com um ar delicioso. Mas mais lindos que tudo são os sorrisos dos seus alunos e a sua dedicação a eles. Sendo também professora, o que mais me motiva é ver os alunos voar. Um beijo e um fim-de-semana feliz.
ResponderEliminarConcordo consigo. Os sorrisos deles são lindos. O mais/melhor de tudo. Que a vida os conserve. Contra todas as desilusões, contra todas as quedas. Estes em particular tiveram uma grande desilusão, recentemente. Quis restabelecer (um bocadinho) a ordem das coisas e lembrar-lhes até ao infinito que me é possível que são lindos, que são especiais, que merecem tudo de bom. É isso.
EliminarQue bom que é professora. Que bom que partilha desse espírito que voa.
Um beijo. Um fim-de-semana feliz para si.
Mar