Sábado de manhã no Mercado de Campo de Ourique.












Se vivesse em Lisboa, seria neste bairro. A começar pela sensação de sabermos que estamos no epicentro de uma cidade grande, mas com o melhor dos sítios pequenos. As mercearias, as padarias, as charcutarias, as lojas de vinhos, as de flores, as de utilidades à antiga, uma (boa) livraria. E um mercado. 
Tão especial, o Mercado de Campo de Ourique. E não é só por ter bem conservada a ideia de bairro, com o que o imaginário da palavra cristaliza de proximidade. Não é só por isso. Há uma harmonia muito feliz, ali. É um bom mercado, no sentido canónico do termo. Bom peixe, bons legumes e frutos, muita variedade de pão e de bolos, talhos, charcutarias. Um mercado a sério, sem fazer cedências de nenhuma espécie no que importa verdadeiramente, nisto dos mercados. E depois, algo que faz todo o sentido: a possibilidade de comprarmos o que quisermos e de podermos comer ali, numa versão muito ligeira, despretensiosa, concentrada no que realmente interessa. Para dar bem a ideia, fui buscar umas quesadillas e, enquanto eram feitas, escolhi o vinho que queria beber, na Garrafeira do Mercado, ali mesmo ao lado. Antes disso, tinha ido escolher um hambúrguer que o meu filho queria muito. E pedir para grelhar umas costeletas de borrego delicadas que o meu homem queria muito. Mesmo perto da mesa onde estava, uma banca com frutos muito frescos e uma senhora simpática. E foi fácil ir buscar os morangos que eu queria muito para sobremesa. É assim. É esse o espírito do Mercado de Campo de Ourique. O bom espírito dos mercados, tal como eu os conheço e adoro. 
Quando cheguei ali, era relativamente cedo, que queria sentir o espaço antes do almoço. As cadeiras e as mesas estavam vazias e as bancas estavam com gente. Depois de me perder numa casa de utilidades e na livraria ali perto, já as mesas estavam quase cheias. De pessoas com ar de sábado de manhã. Satisfeitas, sem olhar para o relógio. Há mesmo uma atmosfera diferente, nos sábados de manhã. 
O difícil foi saber que não dava para comprar coisas para cozinhar no momento, como se vivesse ali ao lado, na casa com azulejos azuis, perto da Livraria Ler, mesmo em frente ao Jardim da Parada. Foi a única coisa que me foi difícil, ao ver tantos legumes e peixes e enchidos e pão fresco. Quando é assim, dá (ainda) mais vontade de fazer comida. Mesmo que não dê para fazer comida em Lisboa e tudo o mais, sei que este é um dos lugares onde adoro perder-me. 
Deixo esta outra referência, para saber mais coisas sobre um mercado com muita alma. 

E música. Por ter sido a primeira música que ouvi em 2015. Tenho a mania de me lembrar de pequenas coisas. Mas foi esta. Nightcall, numa versão electrónica. 


12 comentários:

  1. Escreves tão bem que até me dá vontade de ir a correr passear para Campo de Ourique e sentar-me a beber um copo de vinho ( e eu, com pena minha, nem gosto de vinho...) enquanto aprecio a vida do bairro!
    Bom Ano!

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    1. Que linda:) Mas o mérito é mesmo deste lugar. Dá vontade disso que disseste: de apreciar a vida (de bairro, neste caso) e de beber um copo de vinho enquanto tudo acontece. Sábado de manhã é já amanhâ, Koklikô:)

      Bom ano para ti também. Obrigada.

      Mar

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  2. Também fiquei com vontade de amanhã acordar em Campo de Ourique. Descreveste tão bem o que por lá se pode viver. Hei-de ir à procura desse lugar, um dia destes. Só pelas tuas palavras e pelas imagens que deixaste...
    Um beijo grande
    Babette

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    1. É do género de se gostar muito, este bairro. Com muita vida dentro. Perto do mercado, há uma lojinha caótica, cheia de fervedores e de panelas feitas à antiga. O Vasco fica à porta destas minhas paixões que lhe são incompreensíveis, mas depois gosta muito das consequências destas deambulações na minha comida:) Ando numa espécie de quête e ainda não encontrei aquelas caçarolas de que te falei. Mas como eu sou persistente, nestas coisas. Hão-de aparecer:)
      Por isso, sim. Quando um destes dia acordares em Lisboa e fores a este lugar, creio que vais gostar de andar por lá.

      Um beijo para ti.

      Mar

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  3. Bom noite, Mar. Realmente, a forma como descreve os sítios, as pessoas e as coisas que lhe tocam é maravilhosa. Fica-se com vontade de ir, de conhecer, de sentir, de viver.
    Renovo os votos de um Bom Ano.
    Bjs
    Ana

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    1. Olá Ana,

      Aquilo que me toca. Talvez seja por aí, então. É que, quando as coisas são assim vividas e quando nos foram tão bonitas, apetece dizê-las. Este sítio é assim. Tanto, que, se tivesse de viver em Lisboa, seria neste bairro. Onde houver um mercado e flores frescas, estou bem:)

      Obrigada. Deixa sempre um lastro que me deixa feliz. Mesmo que eu não faça muito barulho, a ser feliz. Bom ano para si também.

      Beijos.

      Mar

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  4. Que boas e frescas as tuas fotografias. Do teu sábado de manhã na cidade grande, no bairro. Nos dias meios adormecidos e meios festivos, na cidade. Bons sítios de guardar na agenda nova, para o novo ano que chega. Bom ano!
    Saudades com um beijinho grande !

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    1. Tenho tantas saudades tuas. Hoje fiz waffles para o meu filho. Estava a ver um filme e pediu. Achei que podia dar-lhe essa alegria. E lembrei-me de nós todas, das nossas tardes a fazer waffles em forma de coração. Fartámo-nos de comer corações:) Tenho saudades nossas. Ligo amanhã, que tive uma ideia, a meio da nostalgia com waffles pelo meio:)

      Vais adorar este sítio, que eu sei. E o teu Pedro também.

      Um beijo grande!

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    2. Eu também. Que boa lembrança a do António: waffles coração ! Elas iam saindo da máquina diretamente para as nossas bocas ! Que saudades, quando cumpríamos esses gostos quase de forma instantânea. Boa ! Falamos mais logo então !
      Tenho lido e visto coisas sobre o Mercado de Campo de Ourique e a zona à volta - aguçaste-me a vontade ;)
      Beijos

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    3. Foi por ter visto as personagens de um filme. Estavam a comer waffles. Não resisti a fazer logo e a não deixar para o fim-de-semana. Inevitável lembrar-me de nós todas.

      Tens de ir lá. Ao mercado e aos outros sítios ali perto. Estive um bom bocado numa mercearia mesmo em frente. Chama-se Pimenta Rosa. Quis comprar um cesto que não estava à venda:) Tantas coisas e eu queria era um cesto para ir ao jardim buscar flores.

      Um beijo.

      Isa

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  5. Olá Mar,

    Eu gosto sempre de fotografias e descrições de mercados! Acho que é comum a quem gosta de cozinhar.

    Neste sábado também andei num mercado, em Vila Real de Santo António.

    Em comparação com este, será apenas um mercadinho.

    Mas, foi o suficiente para ver peixes que não conhecia e deslumbrar-me com cores e cheiros.

    Um beijo do Algarve, o primeiro de 2015 e já de regresso às rotinas

    Sandra Martins

    PS - Fiquei muito orgulhosa por ver no blogue da Ilídia os quadradinhos de bolo que eu, tão longe, também tive o privilégio de provar! São um autêntica delícia e aguentam fofinhos e cheirosos durante imenso tempo.

    Fez-me bem. Hoje o dia começou com uma noticia triste. Alguém de quem gosto muito perdeu alguém e eu gostava de conseguir minimizar essa perda mas, há dimensões da vida perante as quais somos impotentes.

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    1. Olá Sandra,

      Os mercados do Algarve são outra coisa. Incomparáveis. Gosto deste lugar pelo óbvio. Mas aí no Sul é outra alma. Não sei dizer bem. Ou não consigo dizer de todo. O melhor dos sinais, face ao que amamos/gostamos: não conseguir dizer.

      Reciprocidade, Sandra. Enviou-me, em tempos, algo feito por si. Quis fazer o mesmo. Uma fórmula mágica e simples, a da reciprocidade.

      Podemos sempre fazer qualquer coisa, face à perda. A realidade pode ser como é, mas nós podemos sempre torná-la um bocadinho melhor. A maior parte das vezes, não são precisas grandes coisas. Esteja presente, no que isso implica também de espaço e de silêncio. Não sei.

      Um beijo para si.

      Mar

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