Primeira impressão.







Alguém disse que não há uma segunda oportunidade para uma primeira impressão. Pode ser discutível, como todas as formulações deste género. Mas há nela uma verdade muito intuitiva, mesmo que passível de ser desconstruída. A verdade é que, se pensarmos bem, é um pequeno desastre, quando as primeiras coisas que servimos não estão bem. Daí ser ainda mais importante não facilitar e fazer coisas que conheçamos by heart. São as coisas que fazemos sem estar a pensar muito. As coisas que retiram gravidade ou solenidade aos momentos iniciais de uma refeição. No fundo, é como se a comida fosse uma manifestação da vontade de nos libertarmos da tal angústia do desempenho. Como se dissesse para nos descontrairmos e para gozarmos o momento. Costumo dizer que fazer experiências quando recebemos é como usar sapatos novos numa ocasião formal. Receita certa para o desastre:)  
E então, entradas como a que deixo hoje, são como usar sapatos que já estão moldados, habituados aos nossos pés. Quando é assim, a circunstância mais impiedosamente formal, pode ser só um passeio pelo parque. A receita é esta. Feita muitas e muitas vezes. Gostada muitas e muitas vezes. Fica aqui. 

Guacamole 

1 pêra-abacate + 1 tomate (pequeno) + metade de uma cebola vermelha + 1 pimento doce (amarelo e pequeno) + um punhado de pimentos jalapeños + 1 punhado de coentros + sumo de 1 limão + flor-de-sal e pimenta preta q.b. 

Primeiro, descasca-se a pêra-abacate, parte-se ao meio e esmaga-se com um garfo. A seguir, tempera-se com o sumo do limão, a flor-de-sal e a pimenta preta. Envolve-se bem e reserva-se. Pica-se a cebola, o tomate, os pimentos e os coentros. Integra-se na pasta de abacate e envolve-se bem. Prova-se, para ver se o tempero está bem e, se necessário, rectifica-se. Serve-se com tortilhas. Ou com tostas de centeio, no meu caso. 

Com o que servimos para beber, o mesmo princípio de não estar a fazer experiências. Melhor a versão em que servimos coisas que já foram gostadas muitas e muitas vezes. Como este espumante, que motiva sempre boas primeiras impressões. Consigo encontrá-lo nesta mercearia de bairro, na Foz. Ou na Wine o'Clock

A música é esta por ser tão de dançar. Mas em movimentos lentos, ponderados, bem respirados.


10 comentários:

  1. Bom dia, Mar. Demorei-me, hoje, a contemplar a beleza das fotos que aqui deixou, tenho estado a admirar as cores e a forma dos alimentos e a pensar que da mesma maneira que combinam tão bem e são um prazer visual, quando cozinhados/misturados por mãos hábeis são um prazer gustativo.
    Por norma, também experimento receitas novas só para as minhas "cobaias" caseiras, quando recebo, prefiro fazer receitas que sei que não me vão desiludir.
    Esta receita vai ser experimentada a três e, então, depois poderá ser a abertura de um jantar de amigos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Ana,

      Esse é o ponto, no fundo. O mais fundamental. A comida a valer por si. A verdade é que as imagens que aqui ficam são resultado do meu encantamento, enquanto faço as coisas. Olho e parecem-me sempre tão bonitas, que procuro guardá-las. Este é o melhor dos lugares. Fico, por isso, muito feliz por se ter demorado nesse exercício.
      Se experimentar, que corra bem. É sempre essa a minha vontade. Daí só publicar depois daquilo a que chamo a "fase de testes".
      Obrigada pelo seu comentário.

      Mar

      Eliminar
  2. Eu e os comentários ainda estamos na fase de darmos pequenos passos em casa com os sapatos novos... Daí ter enviado o comentário sem o concluir. E agora sim:
    Um bom fim de semana, rumo ao Natal.
    Bjs
    Ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os seus comentários são sempre muito lindos. Que esteja a ser um bom fim-de-semana para si. A caminho do Natal.

      Beijos.

      Mar

      Eliminar
  3. Concordo com isso da primeira impressão. Há um quê de intuição e de empatia (ou não) que não costuma desiludir. Mas também já tenho tido oportunidade de comprovar que às vezes dá para corrigir essa primeira impressão. Infelizmente, umas vezes para pior e, noutros casos, felizmente para melhor. Reconheço é que essa mudança em relação à primeira impressão é um processo muito mais demorado! Por isso sim, quando não queremos passar por esse processo todo, o melhor será fazer logo com que a primeira impressão seja positiva. E nisso de receber à mesa, receitas vencedoras como esta não vão precisar de reconsiderações ;) Um beijo!
    Babette

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É uma questão mais intuitiva do que racional. Daí a minha prudência habitual, ao usar formulações mais ou menos definitivas, mais ou menos fechadas. Em todo o caso, as primeiras impressões são o que são. Com tudo o que isso poderá ter de impiedoso. Ainda assim, do que eu gosto mesmo é de gostar logo, de achar que sim, que está tudo bem. Isso compensa todas as boas impressões que acabaram por se revelar só erros lamentáveis de "casting". A parte boa é que podemos sempre sair de filmes que não são os nossos.
      No que diz respeito à mesa e ao registo aqui, nunca facilito. Só depois de estarem isoladas as hipóteses de correr mal.

      Um beijo.

      Mar

      Eliminar
  4. Isto da primeira impressão tem muito que se lhe diga :) Depois de algumas boas "primeiras impressões" que desiludiram e de outras menos boas que se revelaram bem diferentes a seguir, não dou assim tanta importância à primeira impressão. No que diz respeito a comida, concordo que a primeira impressão é fundamental. Entradas destas, principalmente quando já muito "gostadas" são receitas infalíveis para o sucesso da tal "primeira impressão".
    O meu guacamole é semelhante a este. No entanto, raramente o faço no inverno. Não sei porquê, associo-o sempre ao verão e a jantares lá fora :)

    Uma boa semana. Cansativa, imagino. Por aqui, pouco tempo para preparar o Natal. Mas vou chegar lá :)

    Um beijo,

    Ilídia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Ilídia,

      Pacífico. Mas não temos como escapar a esse primeiro dado. Dos outros, em relação a nós. Do nosso lado, em relação aos outros. Vai variando.

      Na comida, creio que não há volta a dar. Cometi esse erro há uns anos, quando recebi uns amigos muito próximos. Com alcachofras. Lamentável. A parte boa é que eram de casa, pude dizer que aquilo estava só péssimo:)
      Eu adoro esta frescura. E é uma coisa de todo o ano. Faço quando me apetece. E apetece-me muito:) Mesmo com tempo frio.

      Adivinha-se assim: cansativa. Faz parte desta dimensão. Espero que estejas bem. Ligo-te um destes dias, para tentar perceber pela voz a voar aí dos Açores:)

      Um beijo.

      Mar

      Eliminar
  5. Olá Mar,

    Efectivamente o título deste post dá azo a varias interpretações.

    Eu, ao contrário da Ilídia, dou muita importância à primeira impressão. É a mais honesta, sem filtros.

    Acho que há uma canção que diz isso mesmo.

    Não obstante, tenho o péssimo hábito de gostar de experimentar receitas novas quando recebo. Ou quando é para levar para casa de alguém. Ou no Natal.

    Até agora, não me dei mal. Mas corro o risco, sei que sim.

    E este comentário hoje está a ser engraçado! Não sou grande consumidora de abacate porque da primeira vez que provei (pois é!) não gostei.

    Foi como sobremesa, com açúcar e vinho do Porto. Já provou assim?

    Mas, um dia, o meu marido apareceu-me em casa com imensos abacates que lhe deram e eu tive que

    arranjar maneira de os consumir. Uma delas foi o guacamole.

    Ficou aprovado, embora a receita não fosse tão completa como esta.

    Acho que também associo mais ao calor, se calhar por pensar numa bebida fresca a acompanhar.

    E que belo pensamento, fico-me com ele para me esquecer um bocadinho do frio e do Inverno!

    Um beijo do Algarve e votos de boa semana,

    Sandra Martins

    PS - É fim de período nesta altura do ano não é?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Sandra,

      São só inevitáveis, as primeiras impressões. Só inevitáveis. E isso é que é coragem:) Ainda bem que corre bem, apesar do risco. Isso é que importa.
      Se quer saber, também não gostei nada de abacate, quando provei. Achei indiferente. Também foi como sobremesa e achei que aquilo não acrescentava nada. Ficou ao lado e pedi uma sobremesa a sério:) Mas gosto tanto assim. Creio que é por sentir que o sabor meio indiferente do abacate é ajudado pelas outras coisas. Muito especialmente pela acidez do limão e pelos coentros.
      Terminam amanhã, as aulas. Final de um ciclo. Gosto muito de finais de ciclos. Dão hipótese a recomeços, limpam o que não interessa.

      Um beijo daqui. Boa semana para si também.

      Mar

      Eliminar

AddThis