O vinho e a comida.









Gosto da maneira como as duas coisas jogam. A comida. O vinho. Nunca consigo delimitar bem o que é que determina o quê. Mas creio que uma grande parte das vezes, será o vinho. É sempre a primeira coisa, antes de começar a fazer o jantar. Abrir a garrafa de vinho que vai ser o daquele dia. Enquanto respira, dou início às coisas da comida. Quando me é desconhecido ou quando é uma colheita nova de um vinho de que gosto muito, aquela expectativa boa de quem quer que corra bem. Algumas vezes, não. Uma lástima, quando assim é. Ponho o copo para o lado e não bebo. Há dois erros que não cometo: beber mau vinho e comer coisas que não me saibam bem. Na minha perspectiva, se engordar, engordarei satisfeita, com a sensação de que cada caloria valeu a pena:) 
Para mim, polvo pede um vinho tinto que faça justiça à robustez de uma comida que associa tão bem o mar ao imaginário do campo. Este é um clássico. Polvo no forno com azeite e alhos. Faço-o como aprendi aqui. A maneira mais simples e mais fácil que conheço. E como eu tentei várias hipóteses, até acertar nesta fórmula, passada pela Filomena de que já falei neste post. As governantas sabem bem da importância de não se perder tempo com procedimentos redundantes. Um saber a que nem sempre se faz justiça. Por isso, assim que apanhei o jeito, nunca mais liguei a outras hipóteses que pressupunham uma hora de expectativa junto a um tacho, a pedir por tudo para que um polvo ficasse bem cozido. Não achei a mínima piada às vezes em que passei por esse processo. E sim, de todas as vezes, correu mal. 

Primeiro, só uso polvo congelado (por ser garantia de que estará sempre bem limpo e livre de cheiros desagradáveis). Depois, deixo-o descongelar, mas não totalmente, que é para ser mais fácil de partir em pedaços. Cortados os pedaços e passados por água, levo ao lume num tacho e só com um fio de azeite. NUNCA se acrescenta sal ao polvo. Fica ao lume durante cerca de 35 minutos (dependendo do tamanho do polvo). Em todo o caso, na primeira vez que se faz, vai-se testando, para ver se está no ponto (espeta-se um garfo ou retira-se um pedaço, para ver se se corta sem encontrar resistência). Assim que estiver no ponto que queremos, retira-se para um escorredor e passa-se de imediato por água fria, para travar a cozedura por completo. Se quisermos aproveitar a água, filtra-se o caldo para um copo alto, acrescenta-se mais água (está sempre insuportavelmente salgado, mesmo que não se acrescente uma grama de sal) e reserva-se. 

A seguir, basta esmagar uns seis dentes de alho (conservando um pouco da casca), dividir ao meio uma folha de louro (retirando a nervura) e regar abundantemente com azeite e com vinagre. E não vale ser-se pouco generoso nesta parte:) Salpica-se com um punhado de coentros picados, cebola em rodelas finas e vai ao forno durante 20 minutos. Pouco antes de servir, um reforço de azeite. 

E sim, fica maravilhosamente com o vinho das duas imagens. A música foi a que acompanhou as duas coisas: o polvo e o vinho. E a mesa desse dia. Fragmentos desse jantar.


4 comentários:

  1. Gosto realmente dessa vossa relação com o vinho. E da tua com a comida. Duas das coisas que te (vos) faz bem. As imagens estão lindas. Os pormenores que captas com a tua lente são sempre especiais. E esse tabuleiro de polvo deve ter ficado mesmo bem. Coisas para viver, então! Como dizes: "de beber", "de comer" e "de querer"!

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    1. Temos uma boa relação quotidiana com os vinhos dos nossos jantares. Embora eu não goste assim muito de vinho branco. Uma das nossa pequenas divergências. Mas gerível:) Lembrei-me agora de que adoras polvo. A ver se faço um destes tabuleiros, quando voltarem cá. E se é assim nesse espírito bom de viver.

      Um beijo.

      Mar

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  2. Uma belíssima ode ao prazer da mesa, este teu texto! Com imagens lindas a acompanhá-lo. Esta última, da garrafa e da Lalique iluminada, faz sonhar :)

    Um beijo,

    Ilídia

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    1. Olá Ilídia:

      Um gosto partilhado, o da mesa. Como o de vinho que nos faz gostar ainda mais de estar à mesa. Bem real, este vinho. Hoje à noite voltámos a beber deste. E soube bem outra vez:)

      Um beijo.

      Mar

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