Uma casa em Sintra.













Sintra é um dos lugares mais bonitos da minha geografia. Adoro a frescura do verde, adoro caminhar muito e encantar-me a cada momento com a idade das árvores. Por isso é que sinto sempre (como tantos) que há ali uma mística qualquer. Nós até vemos os sinais dos cultos, nas fontes e em todos os lugares onde houver água. Presta-se culto à Natureza, com flores e com velas. Quando me apercebi disto, há uns anos, ocorreu-me logo que aquela religião fazia sentido e que os místicos que amam as árvores como se fossem deuses tinham a minha simpatia sem nenhum "mas". E adoro as casas. As habitadas e as desabitadas. A decadência de cada casa abandonada diz-me muito. Fala-me de vidas que já não estão, de existências que conheceram a perda e a dissolução, recorda-me a transitoriedade do esplendor. Creio que é por aí. Por isso, para mim, Sintra tem muito a ver com árvores e com casas. 
Desta vez, vi(vi) Sintra sob a perspectiva de uma casa com as paredes pintadas de verde, no meio de um jardim que conserva aquela decadência que preserva a alma dos lugares. É complicado falar ou escrever sobre sítios assim tão especiais como este. O discurso fica sempre aquém do que nos encanta e eu gosto sempre desse ponto de partida humilde, à medida do respeito pelas palavras e pelo que elas significam. Mas quero tanto dizer que este lugar existe, que devo tentar dizê-lo o melhor que puder. 
Para começar, é uma casa e não um hotel. Somos recebidos e acolhidos como ocupantes de uma casa. Ficamos a saber que a cozinha é um lugar comum, onde podemos fazer um chá ou um café ou até mesmo preparar qualquer coisa para comer. E que a sala de estar e de jantar também têm essa filosofia muito de casa. O que significa que os sofás são mesmo para nos sentarmos a ler, que a lareira é para acender no Inverno e que as velas brilham quotidianamente, assim que começa a entardecer. Tem uma alma que acolhe, este sítio. E é uma alma tão cheia de detalhes. É fácil de perceber que o recheio anterior da casa foi respeitado e recuperado até ao limite. E que a racionalidade nórdica do Ikea convive muito bem com lustres e com molduras pesadas e formais. Os quartos têm um charme irrepetível. Os soalhos têm aquelas imperfeições das casas antigas. Os quartos-de-banho conservam detalhes anteriores que as remodelações apressadas sacrificam. E mais, os pequenos-almoços são tão de casa. Creio que já falei algumas vezes da frugalidade dos meus inícios de dia. Seja onde for, basta-me um café e uma torrada. Passo de boa vontade tudo o que for para além disso. Mas a Júlia, uma anfitriã linda com sotaque do Norte da Europa, perguntou se queríamos que ela preparasse uns ovos ou umas panquecas. Dissemos que sim e foi uma coisa linda de viver. Porque soube tão bem, com o meu café. Panquecas com xarope de ácer. Pequenas e muito bem feitas (way to go, Júlia:). Reforço suficiente para ir ao centro da vila, às compras, de cesto no braço e sapatilhas nos pés. Uma outra memória, essa, para juntar ao lugar, aos livros que levámos para Sintra e ao amanhecer a que assisti, enquanto bebia um chá branco que vim fazer à cozinha que é de todos. 
Voltarei a este sítio sempre que voltar a Sintra. Voltar é um argumento suficiente, nestas coisas de lugares. E não, não tem televisão. Mas tem Ipads cheios de filmes e de música e há livros. Da próxima vez, quero que seja Inverno, que a lareira esteja acesa e quero que o jantar seja lá. Gosto de pensar nisso tudo. 

Deixo o site e a ligação para o Booking. E mais música. Esta é do género de imaginar como banda sonora de festas pela noite dentro, no verde de Sintra. Creio que é a certa. 





4 comentários:

  1. Cada vez mais, gosto de "hotéis" que são casas. A quinta onde ficámos no Alentejo tem uma filosofia semelhante. Pequenina, aconchegante, com pequenos almoços muito caseiros. E fruta, livros e salamandra à disposição dos hóspedes.
    Desta vez, estive em Sintra apenas algumas horas. Da próxima vez, espero pernoitar num sítio assim especial. Gostei mesmo muito!

    Um beijo,

    Ilídia

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    1. Olá Ilídia,

      Eu fui muito feliz neste lugar. Muito. Curioso ter sido no final de uma série de processos interiores e exteriores a que me dediquei neste Verão. Foi uma espécie de culminar. Como eu gostei deste sítio. E sim, a ver se da próxima vez há uma noite em Sintra.

      Um beijo.

      Mar

      PS: As pizzas para o jantar de aniversário da Pipinha ficaram óptimas:) Foi lá fora no jardim e foi ainda mais bonito. Já posso partilhar, que foi a terceira vez que fiz de acordo com a tua sugestão. Obrigada, linda Ilídia.

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  2. Gostei tanto destas imagens. Penso que iria reparar exactamente nos mesmos pormenores: o cadeirão da primeira foto, a cortina do segundo, o soalho que soube ser respeitado, uma casa de banho de outros tempos, o convívio pacificado das coisas modernas, os candeeiros, o tom verde dessa casa e o chão lindo que se avizinha na entrada. Acho que vou lá um dia. Só por causa deste registo e da descrição que fizeste do pequeno-almoço. Uma refeição que me é muito grata, como sabes ;) E ovos e panquecas serão sempre bem acolhidos ;) Venham eles!
    Beijo
    Babette

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    1. Olá Babette,

      As imagens não conseguem reproduzir o encanto. E é falta de talento e de técnica da minha parte, como é óbvio. Faz-se o melhor que se pode. Seja como for, era impossível não reparar nos detalhes. E sabes uma coisa imperdoável? Esqueci-me de fotografar a cozinha. Achei-a tão bonita e esqueci-me. Vais adorar, que eu sei.

      Um beijo.

      Mar

      PS: Queria ter ligado, mas a Tia Beca e o Tio Mourão vieram cá jantar. Foram há pouco e já é tarde. Fiz uma ementa a pensar na diabetes do meu tio amoroso. Ele ficou bem feliz. Depois conto-te.

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