Muito.







Com as ameixas, há esta espécie de questão: são sempre muitas. As árvores ficam a dobrar de frutos. As pessoas que têm as árvores fazem distribuições massivas de ameixas, para não as verem no chão a apodrecer. E as pessoas que recebem as ameixas, acabam por se confrontar com a necessidade (imperiosa) de as transformar. São frutos que rapidamente ficam demasiado maduros, fora do ponto para doces ou para bolos ou para o que for.
A versão definitiva (e partilhável) deste doce foi feita num dia em que me soube especialmente bem estar quieta e em casa. Fica o registo disso num dos meus cadernos random. As coordenadas. A data. Se havia sol ou chuva. Qual era a música. Os tempos certos para as coisas, para não me esquecer e para não fazer asneira aqui:) Os detalhes que fazem com que uma coisa boa possa ser sublime. Tesouros de papel, estas páginas. Não valem, naqueles sentidos habituais. Mas valem muito nos outros, nos sentidos para os quais não encontro uma palavra que seja simples como os meus cadernos com coisas misturadas. 

Doce de ameixas com Moscatel de Setúbal

500g de ameixas amarelas (grandes e meio maduras) + 500g de açúcar + sumo de meio limão + 1 copo de Moscatel de Setúbal (usei este).

Parte-se as ameixas em pedaços, retirando os caroços. Parte-se directamente para uma panela, para não desperdiçar nada do sumo e acrescenta-se o açúcar e o sumo de limão. Leva-se ao lume durante 40 minutos (nos primeiros 10 minutos, o lume deve estar forte, depois reduz-se). Vai-se mexendo ocasionalmente e, nos últimos 5 minutos, acrescenta-se o Moscatel e mexe-se. Decorrido esse tempo, retira-se do lume e deixa-se arrefecer. 

NB1: Uso sempre uma panela de ferro fundido para fazer compotas, o que faz com que o processo seja mais rápido. Por isso, noutra modalidade, deve fazer-se o teste infalível do ponto de estrada. 

NB2: Este doce é óptimo para os fins mais imediatos, mas fica especialmente bem com um gelado de coco que hei-de partilhar, assim que a receita estiver no ponto:)

E Kanye West. My beautiful dark twisted fantasy. Por gostar. Muito.


8 comentários:

  1. Mar,

    Há simbologias que nos tocam muito e por algum motivo, esta - a das ameixas e das pessoas que vão embora - tocou-me particularmente.
    Há pessoas que nunca deviam ir embora mesmo quando ficam numa janelinha do nosso coração. É pouco. Deviam era ficar sempre em vez da saudade.

    Gosto muito de ameixas.
    Um beijinho.

    Jo

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    1. Olá Jo,

      Ocorreu-me, enquanto estava a fazer o doce. E parei um bocadinho para registar. Tinham-me dado muitas ameixas e eu não pude transformá-las logo. Olhava para elas e pensava que estava a tomá-las por garantidas. Era porque não tinha havido tempo. No sábado consegui tempo.
      Nisso das pessoas que acabam por ir embora das vidas umas das outras, acho que faz parte. Por mais inacreditáveis ( e tristes) que as ausências nos possam parecer.

      Eu também gosto muito de ameixas:)

      Um beijo para si.

      Mar

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  2. Muito lindo, Mar! Tudo. Os comentários não têm de ser extensos para dizer o que se sentiu...
    Um abraço,
    Guida

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    1. Olá Guida,

      Bem lindo, o teu comentário. Muito.

      Um abraço para ti.

      Mar

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  3. Olá Mar,

    "Muito", de facto. Tanto num post!

    Começar por lembrar logo algo tão essencial como respirar e tão esquecido: não tomar nada como garantido, absolutamente nada.

    Talvez por isso os cadernos não?

    Muito lindo, o registo manual. E sim, de um valor incalculável!

    Quanto ao início do post achei muito engraçado porque foi o que me aconteceu! Tive de arranjar

    maneira de conservar as ameixas que foram oferecidas, antes que se estragassem.

    Uma semana antes e teria utilizado esta receita para a compota.

    Fica anotada para aproveitar as próximas ameixas.

    "Se"...Tanta coisa que pode acontecer não é?

    Nada é garantido.

    Quer dizer, há sempre coisas com as quais podemos contar: de certeza que eu vou estar deste lado enquanto respirar, à espera da receita do gelado de coco.

    E o António já tem uma herança de valor incalculável: registada aqui, nos cadernos( adorei os cadernos!)

    Um beijo do Algarve, quase no fim da semana (estou de facto ansiosa por essas 48 horas!),

    Sandra Martins



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    1. Olá Sandra,

      Sei lá. Sempre mantive registos deste género. Os meus cadernos são assim um bocadinho desorganizados. Rasurados. Com anotações e desenhos e lembretes. Mas têm vida lá dentro. Valem por essa vida, creio. Mesmo que não seja garantida.
      E sim, quando a receita do gelado ficar numa das páginas de um dos cadernos, é sinal de que ficará aqui. Mais compostinha e sem coisas rasuradas:)

      Boas 48 horas de descanso para si.

      Um beijo.

      Mar

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  4. No meu caso a abundância foi de pêssegos.Curiosamente fiz um doce de pêssego com moscatel e outro com cascas de limão. Os dois deliciosos. Hão-de ir ter também aos meus registos....
    Beijo doce,
    Babette

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    1. Também tive bastantes pêssegos. Mas transformei-os em sumos frescos e na sobremesa que aprendi com a Filomena. Uma daquelas delícias.
      Fico à espera desses registos:)

      Um beijo.

      Mar

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