Nada disso:)





Já escrevi várias vezes que sou pela cozinha que é descomplicada, aquele tipo de cozinha que nos abre a porta e que nos diz para nos sentarmos à mesa e para sermos é felizes. Não gosto (nada) daquela versão em que as pessoas que sabem/gostam de cozinhar são "iluminadas" e em que as outras todas estão às escuras, a comer comida de microondas ou feita pelas mães. Alguns dos meus amigos detestam cozinhar. Alguns dos meus amigos não quiseram ter filhos. Alguns dos meus amigos não quiseram casar. Alguns dos meus amigos casaram e depois chegaram à conclusão de que não o deviam ter feito, que se tinham enganado. Algumas das minhas amigas apaixonaram-se por mulheres e alguns dos meus amigos apaixonaram-se por homens. E eu adoro viver num mundo em que tudo isso e o mais que quisermos perspectivar como possibilidade de vida que não ponha em causa outras vidas/opções é possível e respeitado e tido como fazendo parte de uma ordem natural e civilizada. Por isto e por muitas outras coisas é que não dou para aquele peditório da "perfecta ama de casa". Por isto e por muitas outras coisas é que sou pela versão em que uma pessoa que gosta muito de cozinhar diz isto a outra que não faz comida por achar que é difícil: nada disso:) 
Este bolo é um desses momentos "nada disso". Tão incrivelmente fácil. Tão incrivelmente rápido. Tão incrivelmente delicioso e lindo e de darmos graças. 

Bolo de iogurte com canela (e, se quisermos, chocolate e gengibre:)

4 ovos inteiros + 1 iogurte natural + 4 copos (de iogurte) de farinha + 4 copos (de iogurte) de açúcar + 2 copos (de iogurte) de óleo + 1 colher (de sopa) de canela + açúcar em pó para polvilhar. 

A fórmula infalível do bolo de iogurte: bate-se tudo numa taça durante 5 minutos e leva-se ao forno a 180ºc durante cerca de 25 minutos. Nesta versão de quadrados, uso um tabuleiro rectangular com estas dimensões: 36 por 26 cm. Por isso é que fica pronto mais rápido. Numa forma redonda, demora cerca de 55 minutos. 

Se quisermos a cobertura de chocolate e gengibre, faz-se assim:

Derrete-se uma barra de chocolate para culinária com uma colher (de sopa) de manteiga. Quando o chocolate estiver derretido, acrescenta-se metade de um pacote de natas, mistura-se e, logo a seguir, uma colher (de chá) de gengibre ralado. Pode cobrir-se o bolo todo ou servir quente, derramado individualmente sobre os quadrados. É linda de ver, esta parte. A mesa fica silenciosa, enquanto o chocolate vai caindo nos quadrados de canela:) 

Para acompanhar o meu conceito freestyle de cozinha, uma batalha entre a técnica do ballet e a liberdade da dança de rua. Pelo meio, a mesma paixão. 


10 comentários:

  1. Tão verdade tudo isso! Às vezes sofremos uns bloqueios de raciocínio ;) E pensamos a vida sob um quadriculado preto e branco, cheio de preconceitos. O meu lema: ser feliz ;) Qualquer que seja a dimensão, qualquer que seja a fórmula que seja certa para quem a assume. Também tenho amigos assim e assado. E é nessa diversidade que nos encontramos. E que damos valor à diferença. Uma coisa é certa: a bondade, a beleza e o amor são universais e reconhecidas em qualquer dessas circunstâncias. O meu fim-de-semana serviu também para isso. Reconhecer que somos todos diferentes. Mesmo no nosso núcleo duro. Nós os 4 somos diferentes. E as combinações possíveis de todos multiplicam o amor. A linguagem do amor está sempre certa. E há-de dar frutos!
    Babette

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    1. Olá Babette:

      A vida com gradientes. Um exercício fundamental de abertura face ao Outro. Mesmo (ou principalmente) face ao Outro que é diferente de nós. Tenho duas amigas muito especiais que me acham estranha por gostar tanto de cozinhar, por exemplo. E é engraçado porque eu gosto delas apesar disso e elas gostam de mim apesar disto de eu passar a vida a fazer comida:) O melhor mesmo é procurarmos fazer (pel)a nossa felicidade. Isto passa tão rápido, no fundo.
      Sabia que sim, que o vosso fim-de-semana ia ser do género de multiplicar coisas boas:)

      Um beijo.

      Mar

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  2. Muito bem e muito bonito.
    Vim cá só porque fiquei presa à tua introdução.
    Somos tua visita há pouco mais de nada de tempo e sentimos que é para ficar...
    Go on!
    Mom

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    1. Ainda bem que chegaste/chegaram, então. As minhas boas-vindas com felicidade dentro. Que andemos todos por aqui. Obrigada por esse "go on":)

      Mar

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  3. Tanto tempo sem aqui vir como deve ser e é sempre acolhedora a receção primeiro nas cores depois nas palavras :)
    Gosto sempre das tuas fotografias, gosto do dourado do papel alaranjado.
    Adorei o teu texto, às vezes falamos disso, de não ter medo, de descomplicar, E quantas vezes o faço com as tuas receitas, que basta ler uma vez para aprender e reproduzir e quase fico "la perfecta ama de casa", expressão que trouxemos do sul, há tanto tempo, onde tudo é dourado como as tuas fotografias deste post.
    Hoje já dormi na casa nova, e já muito tarde, reguei o manjerico que me trouxeste.
    Um beijinho muito grande,
    da Pipinha

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  4. Olá Pipinha

    "La perfecta ama de casa":) A expressão da Rosa. Bem linda, ela. Cheia de talento para fazer sangrias, com aquele toque andaluz. E sim, há tanto tempo. Ainda há dias falei de uma das nossas viagens a Sevilha, com o Luís. Fartámo-nos de rir. Um histórico bem interessante, o nosso:) Ando a pensar seriamente em voltar lá.
    O papel é de seda. O mais especial dos papéis para embrulhar coisas especiais. Achei que ia bem com bolo de canela. Um dos preferidos do meu filho e do pai. Perfuma a casa e faz com que eles sejam mais felizes:)
    Tão bom que já estejam na casa acabada de fazer. Estou curiosa para ver como é que estão as coisas. Ligo-te um destes dias, a combinar:)

    Um beijo grande!

    Mar

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  5. Tolerância, sempre! Em tudo. A começar na comida e no gosto pela cozinha e a acabar naquelas coisas mais profundas de que falas. Também tenho amigos muito diferentes. Na política, nas opções sexuais, na religião... e gosto deles, e eles de mim. Porque nos respeitamos, com as nossas diferenças. E é isso que procuro passar ao Manel. E na escola. Custa-me muito ver preconceitos por parte dos jovens. E mais ainda quando os professores não fazem nada contra eles. É um dever nosso, enquanto educadores.
    Quanto ao bolo, já sabes: também já é "meu" ;) E esta versão parece-me muito bem.

    Um beijo,
    Ilídia

    PS: Obrigada pela dica das luzes. Se não encontrar por cá, quero mesmo os teus endereços em Lisboa :)

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    1. Olá Ilídia:

      Sabes, eu acho que estas coisas assim mais pequenas acabam por passar para as grandes. A parte boa de termos sido habituados a contextos diferentes desde muito cedo: não julgas, não te colocas num lado sem mais. Como numa música dos Limp Bizkit: take a look around. Uma das minhas teorias mais persistentes é a de que se este exercício fosse mais habitual, uma grande parte dos problemas do mundo nem chegava sequer a ser problema.
      Fica já com o nome de um dos sítios. Lisbon Lovers. Há um outro, no Chiado, mesmo perto da Pizzaria Lisboa. Agora não me lembro do nome. Mas hei-de lembrar:)

      Um beijo.

      Mar

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  6. Freestyle é mesmo a palavra chave, Mar! No que à cozinha diz respeito é mesmo a minha forma de estar. Resulta sempre?...não. Esse é o grande desafio...Bolinho de iogurte, sim, sempre! e este não falha nunca! abraço!

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    1. Olá Isabel:

      A base do bolo de iogurte é mesmo a certa. Não me canso de pensar/dizer isso. E é tão pragmático. Tudo numa taça, bater, levar ao forno. Não se pode pedir melhor:) E o resultado é sempre bom. A consistência perfeita. Como acontece com todas as (boas) bases, podes inventar o que quiseres, a partir daí.
      E sim, freestyle. Na cozinha e em muitas outras dimensões. Quando não resulta, inventa-se mais e melhor. O importante é fazer as coisas com alma e com paixão:)

      Um abraço GRANDE:)

      Mar

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