Tempero.



Tive de alterar os planos para uma refeição e tudo. Mas não me importei minimamente. Gosto do ritmo aleatório e intuitivo das coisas por aqui. Da maneira como se vão adaptando ao que vai acontecendo. Neste caso, por ter recebido mais um daqueles presentes:) Um coelho. Foi esse o meu presente inesperado. É muito delicada, esta carne. Como todas as coisas delicadas, merece um tratamento à altura. O mais importante desse tratamento é o tempero. Essencial. De preferência, um dia antes, para ficar mesmo bem. O resto acontece dentro de uma panela de ferro fundido. E o resultado é tão de agradecer.
Gosto mesmo da sequência dos temperos, à medida que tudo vai acontecendo. Da maneira intuitiva como as coisas vão fazendo parte de um todo. No princípio, são elementos isolados. Depois, vão-se juntando, harmonizando. Mesmo qualquer coisa de magia, na cozinha quotidiana de que fala este chef, numas páginas negras absolutamente deliciosas e um bocadinho ao contrário dos discursos dominantes no que diz respeito à comida. Vale a pena ler. E este texto também. Lembrei-me dele, enquanto fazia o meu coelho com vinho tinto e ouvia a minha música. Fica a receita, fragmentos aleatórios da mesa desta refeição memorável e o vinho que acompanhou tudo. Do início ao fim.
Coelho com (muito) vinho tinto
1 coelho (partido em pedaços entre o médio e o pequeno) + 1 cebola roxa (picada) + 6 copos (generosos) de vinho tinto + 1 folha de louro + metade de 1 malagueta vermelha + sumo de metade de 1 laranja + 6 dentes de alho (esmagados) + 1 colher (de sopa) de Maizena + sal, azeite, coentros picados e pimenta preta q.b.
Antes de temperar, deve lavar-se bem cada parte do coelho, pelo óbvio e também para eliminar fragmentos de ossos que ficam presos na carne, ao partir. Este não é só um detalhe. É bem chato encontrar ossinhos no meio do molho delicioso que se está a preparar:) A seguir, coloca-se tudo no tacho onde o coelho vai ser cozinhado e tempera-se com todos os ingredientes (menos os coentros e a Maizena). Deixa-se estar, para a carne ficar impregnada (de véspera é o ideal, mas se só der para estar uma ou duas horas, está bem na mesma).
Leva-se a lume forte, mantendo a tampa fechada (durante 10 minutos). Depois, mexe-se e reduz-se o lume. Fica assim durante uma meia hora. Abre-se outra vez, mexe-se, acrescenta-se um pouco de água e voltamos a fechar o tacho (durante mais 15 minutos). Na volta final, acrescenta-se sal, se necessário, a colher de Maizena (uso Express) e os coentros picados. Mais um bocadinho de lume, para apurar e transfere-se para uma terrina. Serve-se de imediato, que é o género de comida que causa muita expectativa:)
Fica óptimo com este arroz de molho inglês e com a salada de uma das imagens do post de hoje. Tomate, flor-de-sal, orégãos do Algarve, azeite e vinagre. Uma das enumerações mais deliciosas que conheço.











4 comentários:

  1. Gosto de tudo, aqui. Sem saber se gosto de coelho ;) Gosto da imagem dos temperos à espera da fusão, do molho escuro que se formou, dos vermelhos que espreitam na mesa. Gosto sobretudo dessa magia que é juntar isto e aquilo, na dose certa, com um misto de técnica e intuição. Alquimia. E um cenário a condizer... Um beijo!
    Babette

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  2. Olá Mar,

    Gosto muito de coelho! O meu marido torcia o nariz.

    Falo no passado de propósito porque eu vou varrendo essas "esquisitices".

    Também concordo com o tempero de véspera, acho que em quase tudo.

    Já tive a sorte de ter 2 coelhos bravos oferecidos.

    Nessa altura, ainda não tinha entrado no mundo das "Coisas d'Amar".

    Mas, há sempre o fornecedor habitual, que é de confiança.

    Para convencer o marido mais um bocadinho, com esta mistura de coelho e vinho tinto.

    Um beijo do nosso Algarve!

    Sandra Martins

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  3. Mas vamos ver se resolvemos isso de não saberes se gostas ou não de coelho:) Quando receber outro presente destes, combinamos logo um almoço daqueles:)

    Deu-me muita alegria, fazer esta refeição. Especialmente nessa parte dos temperos, do refogado. E ao Vasco, como imaginas:)

    Um beijo.

    Mar

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  4. Olá Sandra,

    Estas coisas ficam bem melhor com um tempero prolongado. A carne fica impregnada dos sabores, dos aromas.

    Confesso que há imenso tempo que não compro coelho. Só faço quando é assim neste registo. Com aquela confiança boa, a fazer com que o tempero seja justificado:)

    A ver se continua nesse exercício de persuasão, então:)

    Um beijo.

    Mar

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