Um escultor à (minha) mesa.








O que é que faz com que, num momento qualquer, as pessoas coincidam? Que dados aleatórios? Que estrelas? Que ventos? Raramente se sabe a que lógica é que obedecem estas coisas. Neste caso, até que sei a resposta. Uma escultura feita paixão. Um bloco de mármore esculpido pelo Rogério Timóteo fez com que acabasse por vir até aqui. Para garantir que estes dois corpos ficavam bem instalados:) E para um almoço num dia bem luminoso.

Para memória futura, fica a comida. A comida é assim como uma arte. Não permanece, é certo. Mas gera emoções tão imediatas como uma escultura muito bela. Como esta. Única. Que vive agora aqui. Muito perto de mim.

Queria que a comida dissesse coisas sem palavras. Eu até gosto de falar e de escrever e tudo o mais, mas a minha maneira de comunicar coisas realmente importantes é esta: a fazer comida. Para este dia, chutney de manga e gengibre, associado a queijo da Ilha. Uma sopa de rabo-de-boi que justificará um post, lá mais para a frente. Este prato principal. E a "minha" mousse de chocolate com nougat de figos. Desta vez, com um toque de whisky. Para servir antes do doce, esta descoberta recente: ananás assado com tomilho. Muito fresco. E a lembrar-me (mais uma vez) que a simplicidade sabe sempre tão bem:)

Ananás assado com tomilho fresco

1 ananás + açúcar mascavado e folhas de tomilho fresco q.b

Descasca-se um ananás e corta-se em rodelas (dá para cerca de 8 rodelas). Coloca-se as rodelas directamente numa grelha e leva-se ao forno a 180ºc durante meia hora (quinze minutos para cada lado das rodelas). Salpica-se depois cada uma das rodelas com açúcar mascavado e deixa-se estar no forno durante os restantes cinco minutos. Retira-se, deixa-se esfriar um bocadinho e espalha-se as folhas de tomilho, tendo o cuidado de as esfregar ligeiramente entre os dedos, para libertar mais o aroma fresco do tomilho. Quando arrefecer completamente, leva-se ao frigorífico (ou ao congelador) se a pressa for muita:) E é uma benção, quando se serve.

NB: Apesar dos muitos sinais em sentido contrário, sou extremamente pragmática:) Por isso, esta receita é daquelas que nos poupam tempo e paciência. Pode ser feita de véspera e guardada no frio até uma aparição que corre sempre bem.

Neste texto, deixo música que é intemporal como a arte do Rogério. Hei-de gostar sempre desta música. Hei-de gostar sempre desta escultura.

Para os meus três convidados deste almoço. A Laura, a galerista que nos deu a conhecer esta escultura. O José António, o assistente do Rogério. E para ele.

6 comentários:

  1. Olá Mar,

    Cá estou eu regressada das mini - férias.

    Estive actualizada ao longo destes dias mas, por motivos que se prendem com a minha falta de jeito para as tecnologias, não comentei.

    E hoje, este post.

    Onde está descrita a Mar: uma pessoa muito sensível porque só alguém assim sabe apreciar a arte (a escultura é linda, já agora), generosa porque dá e se dá (ao receber em casa) e a forma como fala da comida!

    Tão de acordo comigo! Aquela maneira de dizer sem palavras o que se sente pelo(s) outro(s)!

    Tanto carinho!

    E ter a certeza que sim, essa memória permanece.

    Mais uma vez acho que não consegui transmitir o que queria.

    Espero que sim, ao menos um bocadinho.

    Um grande beijo do Sul, também com sol e cheiro a Primavera!

    Sandra Martins

    PS - Hoje ao jantar farei o assado de frango com laranja e amêndoas.

    ResponderEliminar
  2. Olá Sandra:

    Bem-vinda de volta, então:) Com aquela frescura renovada das pausas.

    Talvez não haja um vidro a separar as coisas. As várias dimensões. A arte é a mais transversal e mais imediata das nossas formas de expressão. Manifestações feitas dádiva. Como esta escultura, por exemplo.

    Consegue-se sempre transmitir qualquer coisa. Qualquer coisa fica.

    E como a Primavera está aí. Ando a contar os dias. E a pedir por tudo para não ser Primavera só de calendário:)

    Outro beijo para si.

    Mar

    PS: Espero que o jantar tenha corrido bem:)

    ResponderEliminar
  3. Linda, linda, a escultura que serviu de mote a esse almoço. E a ementa pareceu-me muito bem escolhida. Gostei de ver o chutney e o queijo da ilha entre as iguarias ;)

    Um beijo,

    Ilídia

    ResponderEliminar
  4. Olá Ilídia:

    É muito bonita. Etérea, naquela solidez de mármore. Há-de estar irremediavelmente ligada a este almoço e às pessoas que vieram de Lisboa para deixar estes dois corpos. Num dia de sol, com chutney de manga e gengibre e tudo o mais:)

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar
  5. Que lindo que ficou este registo. Passei o dia a imaginar como estaria a ser. A mesa, a chegada deles, a instalação da obra, o teu cuidado ao recebê-los. Um registo lindo, a mesa branca como os corpos que repousam perto dela. Um beijo!
    Babette

    ResponderEliminar
  6. Olá Babette:

    Até que a mesa ficou linda. Muito branca, num registo minimal.
    Foi um dia muito bonito. Para guardar. E acho que vocês vão adorar estes nossos dois novos hóspedes de mármore.

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar

AddThis