Deixa lá.















Todos temos momentos destes, não? De deixar ir. De deixar cair. Dizemos interiormente: deixa lá. Costumava pensar que era uma expressão só passiva. Qualquer coisa de resignação que me afastava. Temos a mania de agir sobre tudo e mais alguma coisa. De compreender não sei o quê, atendendo a circunstâncias e contextos. Entender. Perceber. Acolher. Integrar. Perdoar. São exercícios muito inteiros. Muito necessários. Um mundo sem estes verbos seria só sem luz. Por isso é que sermos capazes de conjugar estes verbos é tão importante. Porque todos perdemos, quando um de nós diz que não quer esta conjugação. Que não quer uma vida com este bocadinho de gramática. 
Mas tenho percebido que também é muito importante saber quando chega aquele momento "deixa lá". Pode ser um "deixa lá" imediato. Do género de nos atingir. Ou então, pode ser um "deixa lá" macerado. Que já fez um caminho longo dentro de nós. Em qualquer dos casos, o meu recurso mais precioso é este. Está aqui. Muitos desses momentos "deixa lá" encontraram neste lugar uma morada. Sinais de que esses momentos não foram só lugares interiores de resignação a todas as coisas que são como são. Sinais luminosos. De uma vontade de querer muito transformar coisas menos boas em coisas que sejam só boas. E que fiquem. Ou que andem por aí, essas coisas.

Bolo salgado de iogurte (com acelgas e bacon) 

1 iogurte natural + 5 ovos + 5 copos de iogurte de farinha + 1 copo de iogurte de óleo + 1 copo de iogurte de leite + 8 folhas de acelgas + 6 fatias de bacon (cortadas em cubos) + 1 cebola média (picada) + metade de 1 pimento amarelo (cortado em cubos) + sal, pimenta preta e queijo Parmesão ralado. 

Primeiro, coze-se as folhas de acelgas em água com sal (só são colocadas na água depois de começar a fervura e deixa-se estar uns 3 minutos). Retira-se, escorre-se e reserva-se. Entretanto, leva-se ao lume a cebola, o pimento e o bacon, num pouco de azeite. Deixa-se cozinhar durante cerca de dez minutos. Retira-se do lume e reserva-se. Depois, mistura-se todos os outros ingredientes e bate-se muito bem. Acrescenta-se as acelgas e os outros ingredientes (a cebola, o bacon e o pimento). Bate-se mais um bocadinho. Rectifica-se de sal, se necessário e leva-se ao forno a 170º c durante uns 40 minutos. 

NB: Este bolo fica muito bom servido no dia em que se faz, mas é ainda melhor no dia seguinte, ligeiramente tostado no forno.

Com um dos momentos "deixa lá", uma música que tem uma cadência quase infantil, doce. Banda sonora para momentos de deixar e pronto. Ou para os momentos que quisermos:)


8 comentários:

  1. Um bolo destes ajuda certamente aos "deixa lá" da vida ;) Gostei de ler esta tua reflexão. Muito ponderada e, a meu ver, certa. Às vezes não temos de fazer o percurso todo. Basta um "deixa lá" inicial, e poupamos certas dores. Outras vezes não antecipamos e é preciso chegar ao fim para deixar cair, ou deixar para lá...
    O bolo de iogurte é versátil até nas versões salgadas! O rei dos bolos, esse! Um beijo. E "deixa lá"...
    Babette

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  2. Olá Babette:

    Ajuda sim. Todas as nossas pequenas coisas ajudam. De uma maneira ou de outra. E não, nem sempre é preciso fazer o percurso todo. Eu costumo fazer e isso não é lá muito bom, que às vezes esse caminho é só sem sentido. Quando descobrimos, é um problema.
    E já "deixei lá" mais uma vez:)Por estes dias, ando a pensar com carinho num lugar muito especial, algures no Quartier Latin:)

    Um beijo.

    Mar

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  3. nunca experimentei um bolo salgado de iogurte, mas sei que vou levar a tua receita. o bolo doce de iogurte de aroma é daquelas receitas que repito até à exaustão porque não há meio de errar. beijinho

    e não te esqueças de participar no passatempo de natal no meu blogue: http://limited-edition-since2012.blogspot.pt/2013/12/passatempo-5-sentidos-com-alecrim-aos.html

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  4. Olá Maria:

    Antes de mais, gostei de te ler, lá no teu blog:) Mais um sítio para gostar.
    Eu também nunca tinha experimentado. Ocorreu-me. É o meu bolo preferido em versão doce. Pensei em tentar a versão salgada, a ver se corria bem. E correu:) O bolo de iogurte é mesmo infalível.

    Um beijo.

    Mar

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  5. Feliz ou infelizmente o "deixa lá" faz parte da vida, mas é menos penoso quando não se percorre o caminho todo,o que não acontece comigo.
    O que vale é que há pequenas coisas, mas não menos importantes, que ajudam a ultrapassar esta fase, como este bolo salgado! Vou experimentar uma versão deste, a ver se resulta. Não costuma resultar com a versão doce.
    Desejos de um bom fim-de-semana, com coisas que lhe façam bem.
    Um beijo,
    Graça

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  6. Por mais que custe, o melhor é mesmo deixar ir. Não vale a pena forçar coisas que se esgotaram. Também aprendi isto. 2013 foi um ano de grande aprendizagem :)
    Tenho de fazer um bolo destes teus. Apetece-me sempre que vejo uma versão diferente e acabo por deixar. E há coisas que não são para deixar ;)

    Um beijo,
    Ilídia

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  7. Olá Graça.

    Percebo bem. Isso de se fazer o caminho todo. Deixe lá:) Se sim, é/foi por ser necessário.
    Em relação ao bolo de iogurte que teima em não dar certo, deixo esta hipótese infalível: 1 iogurte natural + 4 copos de iogurte de farinha + 4 copos de iogurte de açúcar + 2 de óleo. Bater tudo (cerca de 5 minutos na velocidade máxima da batedeira) e levar ao forno durante 50/60 minutos. Veja lá se resulta:)
    E quando der uma hipótese a esta versão salgada, diga:) Gosto sempre de saber.
    Muitas coisas boas para si. Obrigada por dizer coisas que me fazem bem.

    Um abraço grande.

    Mar

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  8. Olá Ilídia:

    Tell me about it:) Ansiosa por escrever 2014. Mas sabes, deixei lá uma série de coisas/pessoas/acontecimentos. Pensei muito. Dei hipóteses. Reconsiderei. E depois, percebi só que era para deixar e pronto. Um processo libertador, ainda que penoso e cheio de perdas. Mas sim. Aprende-se. Desde que não se perca a fé, estará tudo bem. E nisso de fé, sou bem persistente. Nisso e na vontade renovada de ser feliz:)
    Mais uma coisa: faz o bolo:) Gosto de te imaginar a fazê-lo. Eu faço sempre a tua versão de carbonara e sabe-me sempre bem:)

    Um beijo.

    Mar

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