É preciso atravessar o Inverno.




























Devia ser como nas fábulas. Nessas histórias, os animais viviam sempre em florestas muito densas, em lugares recônditos e frios. No Inverno, recolhiam-se. Ficavam muito quietos, à espera que passasse. Nós também temos alturas assim: em que gostávamos de ficar muito quietos à espera que passasse. Só que não dá. Na vida real que não é como nas fábulas, vamos caminhando. Uma bela metáfora, a do caminhar. Por isso é que atravessamos o Inverno. O literal. E todos os Invernos de cada uma das nossas vidas, com cada uma das suas pequenas/grandes tragédias.
Será preciso atravessar (mais) este Inverno. Caminhá-lo. Encontrar-lhe o sentido. Que seja como uma árvore despida até ao fim. Que não reste folha nenhuma. A Primavera há-de chegar.
Esta é uma receita para confortar. É comida que nos quer bem. Servida numa mesa coberta das mantas que nos aconchegam nos lugares onde descansamos do mundo e de todas as suas coisas incompreensíveis. Que faça bem a outras pessoas. A mim, fez um bem enorme. Fica a receita. E música que parece o eco de um piano numa casa vazia.
Frango em molho de gengibre e tomate
5 peitos de frango (do campo) + 1 cebola vermelha + 2 dentes de alho + 1 talo de aipo + metade de um pimento verde + 2 tomates (médios) + sumo de meio limão + 1 colher (de sobremesa) de gengibre + 1 colher (de sopa) de Maizena (usei Express) + metade de uma malagueta vermelha (média) + sal, azeite, molho inglês, pimenta preta e coentros q.b.
Num tacho, coloca-se todos os ingredientes. A obedecer a esta sequência: a cebola picada, o pimento em cubos pequenos, o talo de aipo picado, os peitos de frango (cortados em pedaços), os dentes de alho picados (com um pouco da casca, para intensificar os sabores). Depois, os temperos: o sal, o azeite, o sumo do limão, o molho inglês, a pimenta preta, os coentros, a malagueta (muito bem picada) e o gengibre. Com as mãos, mistura-se tudo. E pode deixar-se estar uns cinco minutos, para "tomar o tempero". Depois, junta-se o tomate (descascado e cortado em pedaços) e leva-se ao lume, tendo o cuidado de fechar o tacho. Deixa-se estar durante meia hora, mexendo de vez em quando. Decorrido este tempo, junta-se a colher de Maizena, rectifica-se os temperos, acrescenta-se mais um pouco de coentros, deixa-se apurar mais um bocadinho e serve-se bem quente.

 

12 comentários:

  1. Que bom ler-te! Não tarda nada é primavera outra vez. Entretanto, há que procurar o conforto, seja em que forma for: numa manta/toalha, numa comida reconfortante como a que nos mostras, num livro que mata a sede, numa música linda de um filme igualmente lindo, num ombro.

    Um beijo,
    Ilídia


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  2. Deixo apenas uma música que, para mim, é soberba.
    http://www.youtube.com/watch?v=QvdqU_jLeC4
    Um beijinho.
    Maria

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  3. A tua manta sobre a mesa e as tuas palavras remetem-me para a infância. Há qualquer coisa que me faz recuar às aventuras d' "Os Cinco", lidos em noites de inverno, com a lareira a crepitar.
    E a tua receita até pode vir a ser o jantar de hoje.
    Um abraço,
    Guida

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  4. Olá Ilídia:

    Bom ler-te:) Primavera outra vez. Não sou assim muito de olhar para a frente, mas gosto imenso de pensar na possibilidade de Primavera.
    Enquanto não, essas coisas que escreveste vão ajudando a fazer o caminho. Obrigada. Tu sabes.

    Um beijo.

    Mar

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  5. Olá Maria:

    Partilho a apreciação. Estou a ouvir agora mesmo. Muito obrigada. A música é um bálsamo.

    Um beijo para si também. Até à sua/vossa ilha:)

    Mar

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  6. Olá Guida:

    Um bocadinho desse imaginário. As coisas que vivemos vêm assim de imediato: por imagens, cheiros, sabores.
    Ficava muito feliz que fosse o vosso jantar de hoje, querida Guida.

    Um dos nossos abraços.

    Mar

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  7. Os nossos pratos, um objecto que faz lembrar o mar, a manta que aconchega todo o Inverno. É preciso atravessá-lo... e ir buscar forças a alguns sítios. Como aqui, ao lugar onde há tanta beleza e poesia. E assim será mais fácil ultrapassá-lo. Querendo acreditar que chegará mais uma Primavera...
    Babette

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  8. Gosto como transforma as mantas em toalhas e as conjuga com todos os elementos. Esta é mesmo quente, ideal para esta altura, para minorar o frio que faz e que passa nas nossas vidas.
    A comida bem reconfortante também faz bem!

    P.S. Hoje a comida de conforto foi um risoto de lulas!

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  9. Olá Babette:

    Assim, custará menos. Com estes recursos. Mesmo que às vezes nos pareçam só insuficientes. Só escassos e fracos.
    Bom pensar na Primavera. E ir fazendo pelo melhor, enquanto se atravessa mais um Inverno.

    Um beijo.

    Mar

    PS: O jantar de ontem correu bem:)Os meus convidados ficaram bem, confortados. E eu com eles.

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  10. Olá Graça:

    Achei que ia ficar bem, esta espécie de transferência. As mantas dos sofás passaram para a mesa. Para ser ainda mais reconfortante, a comida-conforto. Ainda ontem fiz este frango com gengibre, associado a míscaros e a um arroz de Inverno. As pessoas à mesa ficaram confortadas, acho.
    Risotto com coisas do mar. Parece-me muito bem:)

    O meu carinho.

    Mar

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  11. Mesa, comida, música e palavras de conforto, pois também deste aconchego se faz a mágica travessia do "I"nverno. E sim, com I maiúsculo, como ele merece!!!

    Fria e solarenga, que seja uma boa semana!!

    beijo,
    Isabel

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  12. Olá Isabel:

    Bons ingredientes, esses. Claro que sim. Apesar de alguma esquizofrenia exterior, há coisas que (ainda) podem ser feitas. Ao alcance.
    E sim. Inverno com "I" muito grande.

    Uma boa semana para ti também. Vai estar mais frio ainda, dizem. Assim sabe melhor uma casa quente, ao fim do dia:)

    Mar

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