Ilha.





























Este lugar foi uma ilha. Tempo concedido. Depois de deixar outro em suspenso. Parar. Respirar. Olhar para o mundo a acontecer. Comida devagar. Beber lento de vinho tinto. Um último olhar. Respirar. Antes de voltar para o que tinha ficado em suspenso.
Assim como ir jantar a casa de alguém que nos conhece bem. Integrei-o assim. Comida que sabe a uma casa que se conhece há muito. Nada de coisas a quererem ser diferentes do que são. Nada de designações encrípticas na ementa. Nada de presenças demasiado zelosas. Peixinhos da horta querem mesmo dizer peixinhos da horta. Arroz de tomate com coentros quer mesmo dizer arroz de tomate com coentros. E açorda. Tinha de ser. Por algum motivo se chama Pap'açorda, o lugar que foi a possibilidade de uma ilha. A açorda perfumada. Persistente, na memória. Era acompanhamento, mas eu entendi-a como prato principal. Comida só com o garfo. E um copo de vinho. Comida simples é assim. Retempera. Reconcilia-nos com o que à volta corre frenético, sem tempo. Depois, voltar ao que tinha ficado à espera. E com mais. Voltar mais ao que esperava. Fica na Rua da Atalaia, esta ilha. E creio que quando se aprende este caminho, nunca se esquece. Por se querer voltar. Uma e outra vez.

12 comentários:

  1. Muito interessante essa ilha, também portuguesa como a "minha". Coincidênca o facto de também aí os nomes dos pratos saberem ao que são, impressos na designação mais frontal que existe, sem disfarces, portanto.
    Que continue a disfrutar de ilhas assim.
    Um grande beijinho, já a saber a verão.
    Patrícia

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  2. Durante anos o meu restaurante preferido. E sabes uma coincidência? Depois de comer a açorda dizia sempre que é o tipo de comida que reconcilia com o mundo. Digo isso do papa açorda e do risotto...
    Um beijo do Sul. Com mar e praia e tudo o que se quer!
    Babette

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  3. Olá Mar
    Só para lhe dizer"mais um ano"," mais um dia" nessa vida que desejo cheia de saúde, amor e lucidez, condições essenciais para a luta pelo que a faz feliz. Não esqueci oito de julho! Pensei em si, imaginei- a na sua casa de sonhos e sonhoj,junto dos seus homens... Não materializei os meus desejos pois tenho navegado pouco...
    Espero que tudo esteja bem e desejo continuar a ler os seus textos de que tanto gosto e que tão bem me continuam a fazer!
    Aquele abraço
    Maria Emília Melo

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  4. Olá Patrícia:

    As coisas são assim como aparecem por escrito. Antecipa-se o sabor do que conhecemos e corresponde à memória sensorial.
    Ilha. O lugar. E eu. Um bocadinho. Na minha circunstância deste dia. Era assim como uma ilha. Rodeada de música por todos os lados:)

    Um beijo para si. Já com Verão por todo o lado.

    Mar

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  5. Olá habitante transitória do Sul:)

    Gosto tanto de te imaginar aí em baixo. Com sol. E tempo lento. Açorda e risotto têm esse ponto comum, sim. Sabores (re)conciliadores. Apaziguadores. E sabes, neste dia tinha tido uma espécie de não-almoço. Desesperada por comida assim. Não me apetecia experiências nem descodificações. Soube bem. É bom lembrar aquele pedaço de noite também aqui.

    O melhor do Sul para vocês. Quero-vos felizes.

    Mar

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  6. Olá Emília:

    Sabe que interiormente pedi para que se lembrasse? Mesmo sabendo que até seria difícil, por não nos conhecermos nem nada. E eu também não registei o meu aniversário aqui, este ano. Mas ocorreu-me. Pensei que a Emília talvez se lembrasse. E sim. Feliz por isso. Gosto de aniversários. De transições. Do reforço de lucidez que representam.
    Queria que sim. Saúde. Amor. Lucidez. Queria muito que sim. Obrigada, Emília. Espero que esteja bem. Melhor. Peço sempre para que a minha Emília esteja bem. Faz parte do meu universo afectivo. Assim sem rosto e tudo. Curiosa, a vida e os encontros.

    Aquele abraço para si também.

    Mar

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  7. Pois, comida simples é assim. A mais autêntica e saborosa, a que nos transporta ao essencial e nos despoja do resto, do que está a mais e nos desvia. E assim também são as pessoas, as simples e não as simplórias.

    Sinto que fez anos este mês, também como eu. Mais uma das nossas cumplicidades que aos pouco vou descobrindo; também eu fiz caminho em metade dos meus vinte e quatro anos de professora, no ensino privado; e ontem lembrei-me de si ao limpar uma pratas, que tenho a certeza aprecia como eu. E fico por aqui...
    um beijo e continue por muitos e muitos anos erradiando essa luz!
    Isabel

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  8. Que bom que o intervalo de dia cheio te trouxe conforto. Uma ilha então. Merecida. Pelas coisas boas que essa responsabilidade te trouxe, a ti, e a quem não se irá esquecer de ti.
    Um beijo pintalgado de luzinhas verdes !
    da Pipinha !

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  9. É reconfortante poder-se voltar aos sabores já conhecidos. Por vezes é o que apetece, ir a um lugar conhecido e comer algo que nos satisfaz e dá energia.
    Uma boa semana com muita energia!

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  10. Olá Isabel:

    Fiz anos no dia 8 deste mês. Uma celebração muito quieta da minha vida. A minha mãe fez como faz todos os anos: disse como estava o dia no dia em que eu nasci, a música que ouviu, que adorava mudar a minha roupa várias vezes ao dia, por estar encantada por ter uma menina:)
    Acho precioso esse detalhe de se ter lembrado de mim a propósito de limpar pratas. Gosto muito. Das peças por si. E do ritual de lhes dar brilho. No final do Verão, sei que irei sentar-me e entregar-me pacientemente a esse gesto.
    Queria luz por mais anos, sim.

    Um beijo para si. Gosto de saber que existe.

    Mar

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  11. Olá Pipinha:

    Como as coisas são. Ou acontecem. A primeira imagem foi assim um instante. Ia a caminhar e as luzes verdes meio psicadélicas de um bar estavam a iluminar o nome da rua. Parei sem mais. Até estava com pressa, mas achei tão bonitas, as luzes.
    Foi o único intervalo, neste dia. Soube bem. Muito. E sabes, fiquei feliz. Tu sabes. Não é para escrever aqui. Mas estavam tão felizes, eles. Vale a pena tudo, quando é assim.

    Um beijo.

    Mar

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  12. Olá Graça:

    Muita energia. Preciso sempre. Mas nem imagina como, neste dia. Um lugar a que se volta, este.
    Coisas boas para si, aí na sua ilha verde:)

    Um beijo.

    Mar

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