Tão simples. E a lembrar aquelas coisas todas de que as coisas simples são capazes. A mais bonita é igualmente essencial. E é esta. O meu filho adora rabanadas. Parece gostar de doces tradicionais. Não se encanta com bolos com cremes. Nem que sejam às cores. Ou principalmente se forem às cores. Pede arroz doce. Aletria. Bolo de iogurte. E isto. Rabanadas. Um doce datado. Aparentemente circunscrito ao mês de todas as luzes. Rabanadas num dia qualquer. E pensar numa maneira de lhe dar rabanadas num dia qualquer. Ao mesmo tempo, a lembrança de duas das cenas mais comoventes que um filme foi capaz de me dar. No Kramer contra Kramer. Bem no início. E bem no fim. Um pai e um filho a fazer aquilo a que os americanos chamam de "french toasts". Desorientados e isolados um do outro no início. Cada um por si. A tentar compreender o incompreensível de se ser deixado. A tentar fazer com que fique tudo bem rápido. E não. Não é rápido que se fica bem. É preciso um percurso. Que eles fizeram juntos. Até ao final. Aquele quase ponto final em que reproduzem a cena em que começa o tal percurso. Mas juntos. A serem um prolongamento um do outro nos gestos simples que fazem com que se faça "french toasts". Sem palavras, aqueles movimentos. Só bater ovos. E juntar leite branco. Aquecer manteiga numa frigideira. E as fatias de pão. Só isso. E o tanto daquele só isso. Também num dia qualquer. Como as fatias douradas que fizeram com que o meu filho fosse feliz mais um bocadinho. Num dia qualquer, então.
Fatias douradas com lemon curd
4 fatias de pão de forma (sem côdea) + leite q.b.+ 2 ovos inteiros + óleo q.b. + açúcar e canela q.b.
Bate-se os ovos, junta-se o leite. Embebe-se as fatias uma a uma. Com cuidado e com alguma celeridade, para evitar que absorvam demasiado o líquido. Coloca-se a fritar em óleo quente, virando-se com frequência (3 minutos de cada lado). Retira-se para papel absorvente e a seguir, passa-se pela mistura do açúcar e da canela. Coloca-se no prato onde vão ser servidas.
E pode acrescentar-se o toque inglês de um lemon curd. Que não foi feito por mim. A ver se sim, um dia. Também é bom deixar coisas para um outro dia qualquer.
Mais um belíssimo texto. E uma oportuníssima referência a um dos mais comoventes filmes da história do cinema, com uma M. Streep e um D. Hoffman insuperáveis. A (des)propósito: já viu o recente Le Havre? Muito belo também. Utópico. Um filme sobre a possibilidade e quotidianidade do Bem. E do Belo. Como todas as coisas d-Amar.
ResponderEliminarantónio.
Rabanadas... adoro... Ao domingo é o meu marido que prepara o pequeno-almoço, ou rabanadas ou panquecas, depende da disposição dele... e eu adoro os domingos...
ResponderEliminarUm beijo
Um Tom Sawyer traquinas e independente, que adora as rabanadas da mãe...quadro doce! Mais um, neste cantinho tão especial! Beijos nossos
ResponderEliminarAcho que o Manel nunca comeu rabanadas. Mas também gosta dos outros doces menos "infantis". Adora arroz doce e aletria, por exemplo. E gostou muito do teu bolo de iogurte. Vou ver se o faço novamente este fim de semana. Tão bom que é :)
ResponderEliminarGostei das tuas rabanadas feitas "num dia qualquer". Natal é quando o homem quer, não é o que dizem?
Um beijo,
Ilídia
P.S.: Fiquei com vontade de rever Kramer contra Kramer. Belíssimo. Obrigada por mo relembrares.
Que bom, haver rabanadas quotidianas :)com um texto de semana tão bonito. Rápido e simples.
ResponderEliminarRabanadas e lemon curd ! Mesmo de experimentar!
beijinhos,
da Pipinha
Olá António:
ResponderEliminarObrigada. Sim, insuperáveis. Na imensa fragilidade dos afectos. E em muitas coisas que não sei (ou não consigo) dizer inteiramente.
E bem a propósito: sim. Vi o filme utópico de que falou. Belíssimo no retrato da nobreza (da nobreza que vale a sério, sem títulos)associada à humildade. Receio que as coisas d-amar não mereçam a comparação. Mas obrigada. Pela comparação. E pelo seu comentário.
Mar
Um marido carinhoso, o teu. E doce. Um verdadeiro Sir, a fazer jus ao nome:)
ResponderEliminarTambém adoro os domingos. Domingos são os dias mais de casa.
Um beijo para ti. E pode ser que o próximo domingo tenha rabanadas. Nunca se sabe:)
Mar
Olá minha linda:
ResponderEliminarNem de propósito, anda a (re)ver o Tom Sawyer, o meu filho que é assim como dizes. Por estes dias, anda a fazer coisas mesmo de índio. Com um arco e uma flecha inofensivos:)
Obrigada pelo teu/vosso carinho.
Mar
Acho piada a estes pedidos. E ao ar meio de indiferença que faz aos outros doces ditos de criança. Gosta é destas coisas. E este fim-de-semana, já está na lista de pedidos um prato de aletria:) A de que o teu filho também gosta.
ResponderEliminarMuito belo, o Kramer contra Kramer. Costumo dar a ver aos meus alunos, para introduzir os Textos Argumentativos. Comovem-se sempre, sabias? Entendem sempre uma série de coisas que nem sequer são verbalizadas. Como a cena do pequeno-almoço.
Um beijo para ti, minha Ilídia.
Tinha falado nesta possibilidade, quando estiveste cá em casa. A minha intuição dizia que era capaz de resultar bem. E sim. Embora o António seja um conservador: rabanadas é só com açúcar e canela. Nada de outras coisas:) Obrigada por gostares de ler.
ResponderEliminarE um beijo. Amanhã é sexta-feira. Estarás de volta.
Mar
Quando li o seu texto lembrei-me da minha infância e de quando a minha avó fazia fatias douradas (é como chamamos às rabanadas), num dia qualquer, para aproveitar pão que já não era fresco. Nunca mais comi umas tão boas como as dela!
ResponderEliminarO seu filho gosta de coisas simples e saborosas e parece ter desejos fáceis de se concretizar.
Nunca vi o filme. Vou procurar colmatar essa lacuna. Pelo texto e pelos comentários despertou-me o interesse.
Um beijo e bom fim-de-semana.
Graça
Olá Graça:
ResponderEliminarAinda bem que sim. Que os gostos dele são assim simples. Já viu se quisesse muito daquelas coisas elaboradas, de fazer de um dia para o outro?
Creio que as rabanadas se prestam a essas memórias de infância. E já percebi que aí nos Açores, são uma possibilidade para todo o ano. Aqui, a geografia afectiva também diz que são para comer todo o ano, também. Coisas que as crianças nos ensinam:)
Um beijo para si. De boa semana. E obrigada. Sempre.
Mar