Em silêncio.




É um ritual silencioso. Ano após ano, este silêncio. A árvore de Natal é sempre uma espécie de surpresa. Daí ser feita a sós. Mesmo que eu até goste daquele imaginário muito cheio. De ser uma coisa partilhada. E agitada. Com a alegria renovada de que conseguimos ser capazes. Ano após ano. Não acontece assim. A árvore de Natal é o primeiro dos presentes que ofereço. No primeiro dia do mês de Dezembro. E então, ela acontece. Assim no meio de muito silêncio. É assim que ela acontece. Este ano, nasceu de uma pequena morte no jardim. Um ligustro que foi secando. Todos os dias a acabar devagarinho. Todos os dias a esvair-se em folhas caídas. E a sentença. Teria de ser sacrificado. Não ia dar mais nada. Ou talvez não. Ainda havia beleza na árvore perdida. Ainda havia uma possibilidade para aqueles ramos sem vida. E está ali, a árvore sacrificada. Uma luz só. Preenchida com ramos de azevinho e de oliveira. Com pássaros pousados. Uma árvore com asas. Este ano, a minha árvore de Natal tem asas. E na base de tudo, um presépio quentinho. Três luzes brilhantes. Em torno da imagem de um nascimento que pode ser os nascimentos todos que quisermos. E uma casa com as janelas acesas. É que eu acho que o Natal é uma casa. E as coisas todas que uma casa consegue ser. Nesta altura do ano, as casas a que regressamos uma e outra vez, são ainda mais acolhedoras. Ainda mais com as janelas acesas. A ver se nunca nos esquecemos do caminho para cada uma das casas a que regressamos. O caminho que se inicia todos os anos. Até à noite em que as estradas ficam silenciosas. Alumiadas pelas janelas quentes das casas. E em cada uma delas, a possibilidade de uma árvore.

12 comentários:

  1. A tua árvore está tão bonita... Um ligustro cuja morte também foi vida... E que agora tem luzes, pássaros e azevinho. E ramos de Oliveira, que me são tão queridos ;) Uma árvore de uma beleza única. Quente e ao mesmo tempo tão depurada. Reduzida ao essencial: o início do Natal. A espera que a partir desse dia se conta de forma decrescente. O 1º presente, então. Que nos dás em silêncio. Obrigada. Um beijo,
    Babette

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  2. Gostei muito desta árvore resgatada. E dos pássaros, e do menino Jesus, quentinho. E das velas. E muito, muito, da casinha com janelas iluminadas:)
    Um beijo e boa semana
    Ilídia
    P.S.: Este post fez-me lembrar o do copo partido, de há uns meses. O princípio é o mesmo: ver beleza naquilo que, à partida, parecia perdido. Muito Mar, este post :)

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  3. Luz, sempre luz... é algo que também associo ao Natal e de que não prescindo na decoração da casa para se preparar para esta quadra. Uma quadra que se quer uma das mais festivas do ano.
    Luz, a imprescindível luz nas suas mais diversas formas, seja através de luzinhas ou velas acesas, lembrando também que foi a luz da estrela que anunciou o nascimento de Jesus e que ensinou o caminho aos Reis Magos.

    O seu artigo de hoje, e mais concretamente a imagem da sua composição de árvore de Natal, talvez sem o saber fez-me pensar no dia que se festeja hoje, e de que falo no meu artigo de amanha. O dia que se festeja hoje também tem ramos, mas de cerejeira e que florescem, eventualmente em agua. O do seu artigo tem ramos de ligustro e a Mar encontrou uma forma destes também terem adquirido uma outra vida, num outro ambiente, seco.

    A sua árvore está muito sóbria, e delicada, como são normalmente os ambientes que cria.

    Beijinhos e óptima semana

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  4. Mar, minha querida:
    É tão linda a sua criação natalícia. E de grande simplicidade, quase contrastante com as decorações habituais. Puro bom gosto. As minhas são tipo: vai-se acumulando ano após ano as "natalices" dos anos anteriores. E das recordações respectivas. Muita mistura. E aqui vai o primeiro desejo de Dezembro: que tenha uma boa semana.
    Beijinho.

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  5. Acho que nunca foi tão frugal, a minha árvore. Mas também, o importante é sempre a luz. Desde pequena que era assim. O resto podia diferir. Mas da luz não dava para abdicar. O ligustro recuperou vida. E isso faz-me bem. Saber que agora está aqui, a brilhar. Que não foi cortado para lenha ou assim. Uma dignidade que lhe foi devolvida, se calhar. Mesmo com ramos secos.

    Um beijo cheio de coisas boas. A pensar no Natal:)

    Mar

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  6. Sabe que também acho a casinha iluminada uma ternura só? O meu marido comprou-a há umas semanas, por saber que eu iria adorar. E sim, que ele conhece-me como ninguém. Imaginei-a logo aqui. A ser parte de um presépio. Quando não, para iluminar as outras noites, bem perto da lareira. Para mais luz quentinha.
    E uma outra coisa: essa sua formulação carinhosa. "Muito Mar":) Obrigada por esse "muito Mar", então.

    Um beijo para si. A pensar em coisas boas para a sua ilha.

    Mar

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  7. Olá minha Turista Ocasional:)

    A imprescindível luz. Muito certa, esta sua maneira de dizer a luz que é absolutamente necessária, por estes dias.
    Fiquei curiosa, em relação a essa sua referência aos ramos de cerejeira. Adoro as versões de Primavera. A explodir de flores. Mas não tinha ideia de que podiam ser de Natal. Muito belo, saber que há mais coisas que podem fazer com que seja mais Natal. E isso tudo acontecer por via destes laços feitos de uma luz que não dura só os dias que antecedem o Natal. Só para dizer que agradeço a luz que traz consigo. E que deixa aqui. Ocasionalmente:)
    E obrigada por aquilo da sobriedade e da delicadeza. Associadas a uma árvore que ia deixar de o ser e pronto.

    Um beijo.

    Mar

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  8. Olá Lusitana:

    Também há coisas acumuladas de outros anos. Resgatadas para os Natais. Podem estar na árvore ou não. Este ano só queria pássaros e luzes. Achei que qualquer coisa ali deveria só prolongar a simplicidade daqueles ramos secos. Não sei se me explico bem. Mas a minha intuição dizia que a profusão de cores e de formas "esmagaria" a humildade da árvore que esperou pacientemente pelo Natal.
    Mas também gosto de "misturadas":) Fazem lembrar casas de pais e de avós. Casas onde convergimos. Com todas as misturadas de que foram sendo feitas as vidas que ali convergem.

    Um beijo de obrigada. Com aquele carinho que já sabe.

    Mar

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  9. Sempre comentaste as minhas árvores. Um carinho enorme por cada um desses Natais.

    E um beijo. Não te esqueças de dizer à tua menina que ela está aqui no nosso discurso. Que falamos nela. E dos olhos brilhantes dela, na Festa de Natal da escola. Há coisas de que não nos esquecemos, sabes?

    Mar

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  10. Ooooohh...obrigada por isso (por tudo!) ♥♥♥
    E não é que já é quase um ritual em conjunto, mãe e filha a visitar o blog d'aMar?! Sim, ainda se lembra, embora todas as visitas à (nossa!) escola não passem já de memórias vagas. Mas da pessoa sim, e gosta, muito. Das borboletas nas mesas e "dos pássaros que parecem mesmo a sério, mãe, parecem mesmo a sério"!! :)
    Beijos nossos, a aquecer os corações e as almas "até à noite em que as estradas ficam silenciosas"...

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  11. Tão bonito, isso do vosso ritual. Conheces-me e sabes que isso me faz feliz. Um beijo com muito carinho à tua menina. Que diz que os pássaros das minhas mesas parecem mesmo a sério:) E outro para ti. Obrigada pelas duas.

    Mar

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