Depois de parar.































Acho que queria ser capaz de deixar de presente todas as coisas boas dos dias de parar. Os dias de sol e os de chuva. A música toda que ouvi e que me fez bem. As coisas ínfimas que me lembraram que o melhor de tudo é assim: ínfimo. Quase imperceptível. Acho que também gostava de ser capaz de dizer a solidão toda que houve por estes dias. Estive muito a sós. Com as minhas fragilidades todas, muito principalmente. E com o peso quase etéreo da memória irrepetível que se é. Não consigo isso de deixar tudo. Mas posso tentar deixar isto. Um arco-íris fotografado enquanto conduzia, a caminho de um dia cheio de aulas. Um bocadinho de Outono atrasado nas folhas das árvores do jardim. A imagem imperfeita de uma árvore que tem a minha idade. Num dia de muita chuva, a imagem imperfeita. E o bom de gostar de imperfeições. A lembrança da alegria do meu filho, porque a abóbora que fizemos ganhou um concurso de abóboras assustadoras. O tempo passado a descobrir um livro de receitas acabado de publicar. Com fotografias lindas, que dão vontade de ir rápido a Inglaterra. E calçar umas Wellies verdes num dia de muita chuva. Um caderno à espera de ser escrito. Um caderno à espera de ser cheio. De tudo o que enche os cadernos da viagem mais imprevisível de todas: a que é interior. A que não dá para ser fotografada ou dita por inteiro. Fragmentos de uma viagem interior. E impossível de delimitar. Mesmo que a única premissa certa dessa viagem seja exactamente isso da delimitação. O detalhe que muda tudo é que não sabemos quando. Nem como. Mas ainda assim, continuamos. Rumo à delimitação. No entretanto, vive-se. E o lindo disso de viver ainda assim. Somos todos de um atrevimento supremo. Fazemos planos. Antecipamos uma quantidade de coisas mais ou menos extensa. Dizemos sem pensar daqui a uns anos. E esse é o sinal maior do nosso atrevimento. Ou da nossa fé enorme na possibilidade de um dia seguinte. Não sei. Mas acho que sei que gosto muito desse nosso atrevimento. Dessa nossa fé enorme numa abstracção. A de existirmos. Apesar de sabermos que vamos deixar de existir.
Tinha saudades, eu. Queria voltar, eu. E estou feliz por ter podido voltar. E por ter tido saudades.

31 comentários:

  1. De braços abertos a receber-te. Mesmo sabendo que tinhas de parar, é muito melhor ter-te aqui. Neste teu registo de atenção aos detalhes pequenos que nos fazem felizes, que nos encontram. Nos dias de solidão, eu pensei em ti, sabias? Um beijo carregado de coisas boas. Feliz, pelo depois do parar.
    Babette

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  2. É bom ter saudades. São sinal de que se gosta :) Eu tive saudades de a ler aqui. Fico muito feliz que tenha voltado. Um beijo
    P.S. Gostei da nova foto :) Muito bonita, a minha amiga Mar :)

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  3. Boa noite, querida Mar!
    Que bom tê- la de volta!Tão próxima! Com um olhar...um sorriso que entra na alma! Tão eloquente a sua expressão! Tal como o texto! Tão bem tecido o seu texto!
    Obrigada pelo regresso e pelas coisas boas que vêm com ele!
    "Aquele" abraço.
    Emília Melo

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  4. É tão bom ler-te novamente...

    kiss

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  5. Querida Mar, que linda está na foto. Beleza de estátua. Para mim esta 2ª feira já tem o gosto especial da promessa de boa semana. É isso que lhe desejo. Minutos deliciosos, os que aqui se passam a ver e pressentir o seu mundo tão repleto de bom gosto.
    Beijinho.

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  6. Que boa notícia logo pela manhã!! As imagens e as suas palavras vão de encontro a esta maravilhosa 2ª feira cheia de sol! MJ

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  7. Apesar de não ter comentado quando "parou", agora é necessário dizer "ainda bem que voltou". É bom vir a este cantinho e ler o que escreve!

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  8. Querida Mar,

    Que alegria descobrir uma nova entrada e encontrar o sorriso da Mar. O reavivar de uma recordação agora com outro cenário como pano de fundo.

    Às vezes escrevo-lhe cartas imaginárias cujas palavras acabam por não deslizar para o papel, porque construímos com facilidade muros que nos isolam e alimentam a solidão. Por isso, tinha necessidade de a ler. É sempre um sopro de vida mesmo quando o seu discurso é inquieto e profundo.

    Um beijo

    Fa

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  9. Mar,
    Que bom tê-la de volta neste cantinho. Nem imagina como gostei de ler este texto enquanto me assaltava o pensamento feliz: "A Mar voltou! Que bom!". Por vezes é tão bom ter saudades e tão bom voltar e reencontrar. Beijinhos

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  10. : ))) Bem haja.

    beijinhos

    Jo

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  11. Olá Mar,

    Que bom que já voltou...apesar de saber que ia parar algum tempo, continuei a visita-la todos os dias, na esperança de a voltar a "ter" todos os dias connosco.Obrigada por ter regressado...´

    Ah..está linda na foto:)

    Beijinhos
    Maria José Duarte

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  12. Os teus braços abertos estiveram o tempo todo. A lembrar-me que a possibilidade de regresso seria assim: de braços abertos. Obrigada pela presença silenciosa na solidão. Eu até sei aquele pressuposto. De a nossa solidão ser impartilhável. Mas a amizade ameniza esse peso todo. Diz que podemos estar sós à vontade. Mas que há um lugar qualquer onde alguém nos espera. Assim. De braços abertos. Obrigada por isso. Pelas outras coisas todas. E muito por ti. Por fazeres parte da solidão e da celebração.

    Um beijo para a minha amiga Babette. Da Mar (que estava cansada de estar parada no blog:)Parar também pode ser cansativo, não?

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  13. Essa deve ser mesmo a mais bonita das premissas, nisto de se ter saudades. Sentimos a falta por gostarmos. É assim com este lugar. Senti saudades por gostar muito de existir aqui. E dos que existem aqui. Como a minha amiga dos Açores. Que é uma daquelas mulheres bem resolvidas. Do género de dizer bem das outras mulheres:) Isso é raro, sabia?

    Um beijo para a Ilídia que vive numa ilha.

    Mar

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  14. Olá Emília:

    Nem faz ideia da quantidade de vezes que me lembro de si. Não seria nada de extraordinário, não se desse o caso de nem nos conhecermos pessoalmente. Mas o mais grato é sentir que é quase como se fosse um rosto. Deixe-me dizer-lhe uma coisa: quando escrevo aqui, lembro-me sempre de si. Se estará desse lado. E essa possibilidade faz-me bem. Só a possibilidade, já viu? Obrigada. Muito. E sabe, acho que a minha expressão na fotografia devia ter a ver com o cenário. Estava em Veneza. Tão feliz por estar em Veneza. Mas feliz daquela maneira silenciosa. Achei que a cidade cheia de água iria ficar bem aqui. A acolher.
    Quero muito que sim. Que o regresso seja cheio de coisas boas. Há algumas à espera de vir para aqui, que estão fartas de estar guardadas:)Enquanto não, soube bem o seu acolhimento.

    Aquele abraço sentido para si.

    Mar

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  15. Olá Sophy:

    Obrigada. Por estares ai. A dizer que um regresso é bom.

    Um beijo para a Sophy da Figueira.

    PS: Depois de falarmos, encontrei coisas lindas. Algumas a pensar na mesa de Natal. Está quase aí:)

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  16. A boa semana desejada pela Lusitana:) As segundas-feiras são mais bonitas por isso. Por haver alguém, algures, que nos escreve. A dizer que quer que os nossos dias sejam bons. Obrigada. E a reciprocidade para si. Que seja linda, a sua semana.
    Que bom que gostou da mudança da abertura do blog. E que o tenha manifestado de uma maneira tão poética. Obrigada outra vez.

    E um beijo com carinho.

    Mar

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  17. Uma segunda-feira luminosa, esta. A assinalar um regresso. E as coisas lindas que as pessoas são capazes de deixar de si num lugar virtual. Obrigada à MJ de Viseu. Pelo comentário carinhoso. Cheio de sol.

    Um beijo.

    Mar

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  18. Olá Graça:

    Queria dizer obrigada, sabe? Pelo seu "ainda bem que voltou". E por gostar de vir a um cantinho para ler. Eu sei que gosto muito da ideia de significar isso para alguém. E também sei que quero ser merecedora de um gesto tão cheio.

    Um beijo de gratidão.

    Mar

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  19. Olá Fa:

    Agradeço tanto a sua alegria. E a sua evocação do nosso encontro de há uns meses. A dar rosto ao afecto que vai sendo construído. Aceite a minha alegria pela sua alegria, sim?
    As mesmas cartas para si, que escrevo. E sabe, isso dos muros...acho que gosto muito da ideia de os derrubar:) Tenho mesmo de lhe ligar, que tenho saudades suas. E coisas para contar:)
    Um sopro de vida. Faz ideia do bem que me fez? Quatro palavras. E num instante, o peso de um dia cheio de coisas para fazer é nada. Obrigada. Pelo seu sopro de vida.

    Um beijo da sua amiga Mar.

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  20. Olá Carla:

    A Mar que voltou ficou tão feliz por ler o seu comentário tão cheio de afecto:) De volta, sim. Para os reencontros todos. Com comida. E mesas. E flores. Aquelas coisas todas, não é? Que nos fazem amar melhor a vida. Obrigada.

    Carinho para si. Por estar aí. Por ter dito que estava aí.

    Mar

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  21. Olá Maria José:

    Ter parado foi muito importante. A seu tempo explico porquê por inteiro. Queria agradecer por ter voltado também. Pelo sinal afectuoso de que está desse lado. E sabe, quem tem tudo a agradecer sou eu. A ver se sou capaz de reciprocidade luminosa. Para corresponder às pessoas como a Maria José.

    Um beijo com carinho. Pelo seu carinho no meu regresso. Soube bem, sabe?

    Mar

    PS: Ontem houve uma mesa que não teve loiça branca. Lembrei-me de si. A ver se gosta da mesa de domingo sem loiça branca:)

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  22. Que bom que voltou, eu também vou voltar, a ler as suas inspirações contagiantes.
    Helena Mendes

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  23. Querida Mar,
    Queria dizer-lhe que a sua viagem sem regresso marcado representou uma ausência infinita...
    Mas fiquei aqui,na minha ilha, à espreita e à espera, como se de fidelidade a um compromisso se tratasse. Sinto-me feliz pela Mar voltar a existir, nestes moldes em que a conheço.
    Um abraço
    Patrícia

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  24. Que bom que é regressares aqui. Ao canto mais confortável do meu computador : )
    A verdade é que é bom voltar aqui e estares.
    Lindas fotografias, ainda que lentas a nascer : ) lindo que é ver um blog vivo, cheio de afetos e de bem querer.
    Cheguei tarde do meu curso mas já vi que comentaste o burro que tem renascido ao longo deste último tempo.
    Um beijinho,
    Hoje foram brownies, chocolate e nozes, chocolate branco e pistachio. Por fim, chocolate, sultanas em vinho do porto e amendoas e nozes.
    Bombas!

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  25. Voltei sim, Helena. Obrigada por voltar também. E por aquilo das inspirações contagiantes:)

    Um beijo.

    Mar

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  26. 'Feels good to be back:)

    Obrigada por estares aí desde o início.

    Um beijo.

    Mar

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  27. Olá Patrícia:

    Tão afectuosa, essa verbalização. Tão bonito isto. Isto a partir de um lugar virtual, onde existimos numa dimensão partilhada.
    E sabe que mais? Sinto uma felicidade tão difícil de dizer. Só por haver alguém a dizer que esteve "à espreita e à espera", numa ilha. Obrigada por si. E obrigada aos astros que tornaram possível coincidirmos, mesmo estando tão distantes. Com tanta água pelo meio. Um dia vou a voar até à ilha onde estão as minhas novas amigas:) O meu marido há dias disse-me isso, que me conhece tão bem que sabe que sim. Que sou capaz de voar pelos afectos:)

    Um beijo com carinho.

    Mar

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  28. Olá minha linda:

    O blogger não gosta das minhas fotografias:( Demoram tanto tempo a chegar aqui, já viste? Mas já estou aqui outra vez:) Tantas saudades, que eu tinha. Mas era preciso, tu sabes.
    Que bom estares a aprender coisas novas. Eu não me imagino a fazer macarons:) Prefiro os que tu fazes. E os Ladurée. E os da Pastelaria Avenida.

    Um beijo da tua amiga Mar.

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  29. Agora vou ficar à espreita e à espera do avião que trouxer a Mar. E sei que a Ilídia me fará companhia nessa espera.
    Um abraço
    Patrícia

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