Comida que dá tempo.




























Uma das coisas melhores do que apetece aqui, é ser fácil. É ser rápido. É não exigir muita loiça. O que significa que depois de fazer um almoço com peixes de escamas brilhantes, fica o que interessa mais: tempo. Eu gosto muito de restaurantes, pelo que me ensinam. Pelo que posso gostar de viver. Mas a minha ideia de praia é inconciliável com restaurantes cheios. Filas com mau feitio e esfomeadas. Pais impacientes com a impaciência natural das crianças. Ou então com o reverso. Que é ter horas determinadas. Para tentar escapar às filas esfomeadas. E uma espécie de negação da ideia de férias, também. Coisas que não são a minha praia:) O meu mar quer tempo. Por isso, há o prazer diário do mercado. O prazer diário de fazer coisas com as coisas que vieram. E o prazer diário de as viver. Com tempo. Para depois haver a água e o sol que quisermos. E esta foi a comida de hoje. Comida que nos dá tempo.

Salmonetes na sertã

Os salmonetes que quisermos + sal e limão para temperar + tomate coração-de-boi + cebola vermelha + cebolinho + pimento amarelo + azeite + coentros.

Tempera-se os salmonetes com o sal e o limão. Reserva-se uns quinze minutos (ou mais tempo, se for possível). Colocam-se depois numa sertã e acrescenta-se o tomate, a cebola, o cebolinho, o pimento e rega-se generosamente com azeite. Vai ao lume durante vinte minutos (e é importante não virar os salmonetes, para não ficarem feios:), acrescentando-se um bocadinho de água, se necessário. Pouco antes de servir, coentros picados e pronto. Fica pronto.

Ao mesmo tempo, faz-se isto:

Arroz carolino com beldroegas

Metade de uma cebola picada + metade de um pimento vermelho picado + metade de um tomate coração-de-boi + azeite, sal e água q.b. + uma chávena almoçadeira de arroz carolino + beldroegas + coentros picados.

Um refogado normal, com a cebola, o pimento, o tomate e o azeite. Junta-se água até meio do tacho e deixa-se ferver. Acrescenta-se o arroz, o sal que entendermos e deixa-se cozer. Quando estiver quase pronto, junta-se as beldroegas e os coentros picados. E serve-se logo, que esta comida é temperamental. Se deixarmos passar a hora dela, zanga-se e estraga-nos o almoço de Verão:).

8 comentários:

  1. Querida Mar:
    Muito, mesmo muito bem observado esse seu comentário de lutar contra a corrente e, na revolta do que regista, ir ao mercado, comprar bom, saudável e oferecer mais um gesto de amor à família. E gerir o tempo para que tudo possa acontecer com prazer. Esse arroz entra na tal classificação de divino. Que Deus também acha piada a quem O celebra desta maneira. Um beijinho.

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  2. Sou como tu. Sim aos restaurantes quando estamos com tempo, com silêncio, com prazer. Continuando com a linguagem do divino, é que não há Santo que aguente filas intermináveis e a inerente má disposição de quem se aglomera por agora nesses sítios!
    Soubessem os turistas desta refeição e faziam-te fila à porta!
    Um beijo de sexta ;)
    Babette

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  3. Olá Mar,

    Gosto de assistir a estas mudanças. Ao surgir de uma Mar mediterrânica, que cozinha salmonetes e beldroegas.

    Um beijo

    Fa

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  4. Olá, Mar.
    Como a compreendo em relação a restaurantes no mês de agosto. Durante esta semana em que estive fora, não tive outro remédio senão sujeitar-me a isso algumas (muitas) vezes. Agora, de regresso a casa, vou poder voltar às refeições com tempo, mesmo que confecionadas em pouco tempo :) Esta refeição ficou soberba. Aproveite para descansar muito, pois setembro está à porta.
    Beijos

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  5. Olá Lusitana:

    Apercebo-me em muitas ocasiões que as férias podem ser geradoras de tensão. O que é estranho. Ou não. Até dá para perceber algumas das razões. Esta minha maneira de viver as férias é muitas vezes motivadora de estranheza. E de algumas coisas menos boas, também. Faz parte a parte de pensarem de nós coisas que não são nós. "La perfecta ama de casa" e assim. Mas é tão simples, quase aritmético. É que se perde mais tempo a pensar que se está a ganhar. Para fazer este arroz e os salmonetes bastou uma meia hora. Meia hora do meu tempo. E uma mesa com calma. Coisas boas das férias. Ou uma espécie de celebração.

    Um beijo para a minha Lusitana:)

    Mar

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  6. Sei que sim, que partilhamos o mesmo espírito, nisto de restaurantes. Fora por fora, não. Por tédio ou assim. Costuma correr mal. Particularmente nas filas. Uma espécie de nota dominante em alguns sítios do Algarve. Custa-me muito assistir, quando passo. Discussões com filhos cansados de praia. Adolescentes entediados. Mas sabes, em Lagos há uns quantos lugares mais ou menos secretos, com comida como esta:) Lugares que nem se dá por eles. Aqui à porta não houve filas. Mas tive a honra de receber dois peixinhos exaustos e esfomeados:)Com vontade de comida de Mar.

    Um beijo de quase sábado.

    Mar

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  7. Olá minha Fa:

    Uma Mar mediterrânica, então. Linda, a sua formulação. O sul faz-me bem. E sabe bem. É por isso.

    Um beijo de bom fim-de-semana para si.

    Mar

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  8. Olá Ilídia:

    Quando é inevitável, é mesmo assim. Tem de ser como tiver de ser, de acordo com a circunstância. Mas imagino-a cansada de comer comida que não foi feita pelas suas mãos. Sabe bem isso quando não soa a inevitabilidade, não é? Quando não é porque sim. Que bom que está de regresso. E que já fez comida. Que tenham sido bons, os seus dias. E sim, descanso e respiração com tempo. Setembro está quase:)

    Um beijo para a sua ilha.

    Mar

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