Um dia.



Um dia para ele. Por ser finalista. Porque dentro de meses, vai para a escola dos meninos grandes. E cortar um bocadinho e quase irremediavelmente com um universo que é muito livre. O universo próprio das crianças. Sem outra obrigação que não a de ser feliz. Brincar muito com blocos de madeira. Para fazer catedrais. Prédios que são sempre os mais altos do mundo. Lugares onde se pode guardar os carros mais velozes. Ou labirintos onde nos podemos perder. E onde nos encontramos logo a seguir. O património dele. Feito de blocos de madeira que são sempre aquilo que ele quiser que sejam. 
Não falava de outra coisa há semanas. Da festa dos meninos que iam para a escola dos grandes. Do segredo que tinha de guardar, para que a mãe tivesse uma surpresa. E o inevitável. Os pedidos para o dia. O jantar teria de ser "carne branca". Queria conchas do mar na mesa. E velas que cheiram bem. E assim foi. No dia em que a mãe andou a embrulhar palavras em papel de seda. Por ter sido esse o presente dos pais dos meninos que vão para a escola dos grandes. Palavras embrulhadas em papel frágil e fitas do tecido das saias das bailarinas. E na memória, o sorriso dele a acolher-me. Quando a mãe deu uns passos à frente. Para ler o texto que estava dentro dos embrulhos. Os olhos brilhantes do António. Que me fizeram esquecer que estava a dar uns passos em frente. E que havia muitas pessoas. De repente, não. Havia só ele. Era só para ele. E estava tudo bem.

8 comentários:

  1. Mais um texto ternurento. De uma mãe que vê o seu filho a entrar numa nova fase. Também gostei das palavras que foram embrulhadas no papel de seda (sou curiosa, confesso, e cliquei na fotografia para ler o texto). Palavras de gratidão, com as quais também me identifiquei. Temos que estar gratas a quem cuida deles e lhes dá carinho quando não estamos por perto. Espero que o António seja muito feliz na "escola dos grandes". E que nunca deixe de brincar. E que continue a sonhar com prédios altos e carros velozes. E que continue a encontrar-se "logo a seguir". Um beijo para a Mar e outro para o António. Ilídia

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  2. Os presentes que preparaste com tanto cuidado. Ficaram muito bonitos, sabias? Os embrulhos são delicados como tu. E com o tule da bailarina. Foi de certeza um dia especial. O António merecia estar assim feliz... E ouvir a mãe, nesse dia.
    Babette

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  3. Lembro-me da festa de finalistas da Leonor, do segredo que ela também soube guardar. Até ao fim, ao momento em que entrou na sala, de surpresa, com os coleguinhas, vestindo capa e batina, ao som de uma ópera belíssima, ela das primeiras na fila, linda, esplendorosa, procurando-me com o olhar, para o encontrar repleto de lágrimas, pois coração de mãe é forte, mas não resiste, não pode resistir a isto!
    É bom senti-los ganhar asas, crescer, ensiná-los a voar, para que mais tarde (beeem mais tarde!) possam deixar o ninho em segurança...
    Um beijo grande para a Mãe Mar e para o seu Menino Aventureiro, a um passo de iniciar a grande aventura da sua vida de menino.

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  4. Olá Ilídia:

    Foi um dia cheio. Em todos os sentidos. E a começar pelos mais óbvios e mais inevitáveis. Mas lindo de uma maneira que não consegui antecipar. Porque o vi. Lá no meio das pessoas todas. E os olhinhos a brilhar. Aquela coisa de "é a minha mãe", sabe? Um sorriso quentinho do meu filho a marcar um dia que era importante para ele. Por quebrar o tal ciclo de que falou. Agora, é pensar que vai correr tudo bem. E que vamos estar por aqui. Para assistir.

    Um beijo com muito carinho para si. Aqui está muito sol e calor. E aí, na sua ilha verde? Já é Verão?

    Mar

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  5. Olá minha Babette:

    Gostei muito de os fazer. Acho piada a estas coisas de presentes:) Estes foram embrulhados duas vezes cada um, porque o papel de seda é muito frágil. Fácil de rasgar.
    Creio que sim, que foi um dia bonito. Por estas coisas. Pela mesa. E pela tal "carne branca".

    Um beijo para ti. E obrigada. Para o ano é a tua vez. A dobrar:) A ver se não te lembras de coisas que precisam de ser embrulhadas duas vezes:)

    Mar

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  6. Essa parte do segredo é muito bonita, sabes? Eu fui reparando que se tinha disciplinado para não revelar o que ia acontecer. Na véspera disse que já sabia guardar segredos, porque era bom ter surpresas. O António também estava todo aprumado. Num fato de que se quis libertar a caminho do carro, no final da festa. Tão amoroso, o lado Tom Sawyer do meu filho:)A dizer que estava atrasado para ir para a água.
    Venham mais asas, então. Para que o caminho possa ser inventado por eles. Gosto de pensar que há-de ser muito livre, o meu pequenino. E que de vez em quando lhe vai apetecer "carne branca" feita pela mãe:)

    Um beijo grande para ti. E outro para a tua Leonor. Que já está a ficar crescida. Com mais asas.

    Mar

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  7. Querida Mar,

    tão bonito... Que encanto. Às vezes não são precisas mais palavras para dizer o que senti ao ler esta declaração de amor. A mais bela. Porque às vezes as lágrimas calam as palavras e falam por si.

    Um beijo com enorme ternura, para a mãe Mar e para o António, que seja sempre assim, como o disse: livre. E feliz, sempre.

    Mafalda

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  8. A mãe Mar e o António agradecem as suas palavras cheias. De ternura. De encanto. Acontece o mesmo comigo. De vez em quando, sinto que não são precisas muitas palavras. Ou a maior parte das vezes, por gostar de frases curtas:) Sem muitos complementos, a complicar o que não é de complicar.

    Um belo dia de sol para si, Mafalda!

    Mar

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