Exercícios de desconstrução.

Há muito que queria falar desta revista. Ou de revistas. Mas mais desta em especial. A edição espanhola da AD, a revista que diz na capa que tem as casas mais belas do mundo. Um pouco cheia, esta formulação. Não sei se serão as mais belas. Mas são certamente, algumas das mais belas. Primeiro porque são tangíveis, no sentido de serem ambientes onde se perspectiva vida. Uma coisa que não acontece com frequência na maior parte das revistas, que nos mostram sempre lugares quase intocados (ou intocáveis). Muito especialmente as de arquitectura. Sempre demasiado conceptuais. A consumir a noção minimal. Pela repetição de imagens quase assépticas, em que não se adivinha uma cozinha desarrumada ou almofadas no chão ou crianças a comer chocolate com a verdade de que falava Álvaro Campos, na Tabacaria.
Isto porque parte do serão de sexta-feira será passado a ler e a olhar a edição deste mês. Um dia aguardado. O dia em que sai a AD. Tão bom quando coincide com a sexta-feira. Páginas que permitem a conjugação da contemplação com a vontade de tornar real o que ali é visto. Creio mesmo que nunca terminei de a ler, sem alterar alguma coisa em casa. Ou sem me lembrar, em circunstâncias posteriores, de coisas que vi nas imagens da AD.
Gosto da mistura que há nestas páginas. Das associações imprevisíveis: arte contemporânea com elementos barrocos, o étnico com o minimalista, o oriental com o industrial, o moderno e funcional com o recuperado. Muitas coisas que ensina, esta revista. Muito principalmente, a perspectivar os objectos de maneiras inesperadas. A imaginar uma cadeira do século XVI, junto a uma mesa de café dos anos 30 e na parede, uma fotografia provocatória do Jeff Koons. Exercícios de desconstrução, que nos devolvem uma realidade recriada. Sem hipótese de colocar etiquetas. De nomear claramente os estilos ou as inspirações. Bom assim, que uma revista de decoração nos permita desconstruir o real. Ou que nos faça rever códigos e referências. Enquanto descansamos num sofá, numa sexta-feira à noite. A renovar a vontade de viver mais numa casa que seja realmente vivida. Numa casa que não seja um conceito.

8 comentários:

  1. Olá Mar!
    Obrigada pela passagem no meu cantinho, mesmo depois de uma semana complicada e cansativa. A minha também foi assim, mas passei sempre aqui para ler o que escreveram. Tem comentários belíssimos de pessoas que se adivinham igualmente muito especiais, que às vezes dizem tudo o que também me vai na alma e por isso não comentei.

    Sabe que tenho meia dúzia destas revistas? Nem sempre aparece no quiosque e por isso nem sempre a compro, mas tem de facto casas de sonho, para serem vividas em pleno. Tenho outras também, das tais que parecem intocáveis, mas às vezes lá aparecem bons pormenores. É tudo uma questão de gosto, que é coisa que não se discute.
    Viva a desconstrução!!! ;-)
    Um bom f-d-s, a descansar e a aproveitar os seus em pleno.

    P.S. - Adivinhe que livro adquiri hoje na "minha" livraria?

    Sandra

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  2. Já sabes que é a minha revista favorita, na sua edição espanhola. Casas únicas e extraordinariamente belas. Com misturas pouco óbvias mas que resultam. Com alma e personalidade. Escrevo com umas quantas AD ao meu lado... Vou aproveitar para revê-las!
    Um beijo de bom fim-de-semana.
    Babette

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  3. Olá Sandra!

    É sempre com um gosto renovado, que vou olhar e ler as suas receitas. Tudo sempre com um aspecto delicioso. Por isso, não tem nada que agradecer.
    Também compro das outras revistas, as que têm casas que não parecem vividas. Mas não as leio com tanta vontade, confesso. Estou mais nestas páginas. E nas da Côté Sud. Ando mais ali, pelo meio daquelas desconstruções do belo:)
    Sim, pessoas muito belas, as que escrevem. E as que ficam em silêncio, também. Em todo o caso, as almas são únicas e irrepetíveis. E a sua tem sempre coisas a acrescentar. Coisas muito belas.

    Um beijo de bom fim-de-semana para a minha Sandra dos livros:)

    Mar

    PS: O livro será do Pedro Paixão?:)

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  4. Olá minha Babette:)

    Sabia que sim, que também gostas muito destas páginas com associações pouco óbvias. E inesperadas. Um belo pedaço de tempo, ontem. A ler e a fruir das imagens. E sempre a vontade de as tornar tangíveis. Aqui em casa.

    Um beijo da Mar. Para que tenhas dias lindos e descansados.

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  5. E é claro que também me quero associar à comemoração dos 5 anos da AD, que está espalhada pela minha casa fora, à mistura com a anterior paixão, House and Garden.De referir que também fui uma consumidora fiel da Casa e Jardim nos seus bons tempos. Tinham aspectos muito interessantes, um deles era o de fazer reportagens de casas de algumas figuras públicas muito especiais. Recordo as casas do Fernando Namora e do pintor Pinto Coelho, uma verdadeira maravilha de bom gosto. O papel e as fotografias eram de excelente qualidade. Bastante cara, foi sendo "devorada" por publicidade excessiva e por um certo tipo de casa-palácio que me passou a desinteressar. E estamos a comemorar os 2000 Expresso, esse vício que até doí quando estamos um sábado fora do país e não o temos à mão e...porque não...Os 21 anos do jornal diário cá de casa, o Público. Vê tanto para estarmos contentes no dia de hoje? E também porque vou ver "Faroeste", o espectáculo da Casa da Música! E assim se esquecem as outras "coisas", nem sempre boas!Também vi o mar, no passeio de domingo na Foz, tentando manter a forma!
    Tenha um bom domingo e colha toda a inspiração possível para escrever os seus belos textos!
    Beijinho.

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  6. Coincidimos nessas coisas todas: na AD. No Expresso ao sábado de manhã (percebo isso do vício:). No Público, todos os dias. Na House and Garden. E percebo intuitivamente o que disse acerca da Casa e Jardim, apesar de não a conhecer suficientemente bem. Mas tenho ideia de folhear e de ter essa sensação que descreve: casas-palácio. Sendo que não tenho nada contra os palácios. Adoro. E muito especialmente palacetes:)
    Gosto muito das imagens que aqui deixou: o mar na Foz. A música da Casa da Música. Gosto sempre de mar e de música.

    O meu domingo foi muito bonito. Vou (d)escrevê-lo daqui a pouco. Mas antes, quis escrever-lhe a si:)

    Um beijo da Mar.

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  7. Olá, Mar

    Nunca comprei a AD espanhola, mas pelo que referem a Mar e a Babette procurarei encontrá-la em breve. Também gosto dessa vertente de descontrução, embora cada vez esteja mais condicionada pelo espaço necessário para os livros que é necessário arrumar. Outro dia, numa revista, vi uma reportagem sobre a casa dos patriarcas da Missoni que me deixou impressionada pela forma como integravam os próprios livros na decoração. Também gosto de casas que tenham vida, um certo grau desarrumação, que evidenciem os gostos de quem lá vive. Gosto principalmente de ter vários recantos onde me possa abrigar em dias de tempestade.

    Não sei se já deu uma espreitadela pela Designerpad ou pela Urban Style Vives, são dois blogues que gosto de seguir pelas propostas inesperadas.
    até já

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  8. Olá Fa:

    Muito boa, esta revista. Guardo religiosamente os exemplares desde o primeiro número. Isto, apesar de ter os mesmos problemas quanto ao espaço para arrumar livros. Começam a ser torres, aqui em casa. Uma solução que encontrei. Estantes na vertical, arranha-céus de livros:) Também vi essa reportagem de que falou. Na Hola, se não estou em erro.
    E apesar de eu ser tendencialmente organizada, gosto muito de pequenos focos de caos, que eu possa controlar minimamente. Livros, revistas, almofadas. Coisas que fazem da nossa casa um abrigo que conhecemos de olhos fechados.
    E vou ver os blogues que recomendou. Agradeço a referência. Sempre bom ver coisas que nos tragam mais coisas.

    Um beijo da Mar.

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