Ir ao encontro de. Junto ao mar.

Há frases que repito interiormente. Como se fossem uma espécie de mantras. E, a propósito do significado que atribuo ao surgimento de uma pessoa nova na minha vida, só consigo pensar muito num princípio budista. O de o amor gerar amor. De que tudo o que se faz com amor desencadeia sempre mais amor. Um ensinamento que, de tão essencial, se esquece facilmente. Temos muitas vezes essa tendência, a de tomarmos determinadas coisas como certas, seguras. Disciplino-me muito para que não. Para que nada na minha circunstância seja tomado como garantido. A começar pela vida. E o amor. E a amizade. A amizade que nasceu aqui, virtualmente, sem rosto, sem história ou contexto. A amizade que me fez ir ao encontro de. Junto ao mar, num lugar que é sinónimo de coisas boas para as duas. Para mim e para a Babette. Ir ao encontro de uma dádiva. É assim que entendo as coisas. É esse o significado real que atribuo à amizade. A de ser algo que devemos acarinhar, cuidar, preservar de todos os males. E então, tento não ter nada a dizer, tento não me despedir de alguém se estiver magoada, tento não guardar ressentimentos. E despedir-me do meu filho com um beijo. Sempre. Mesmo nos momentos matinais em que não há tempo ou circunstância. Para que a última imagem da mãe seja sempre a imagem do amor luminoso.
E a primeira imagem do bom encontro de sábado foi a de um abraço. Muito franco e espontâneo, o abraço de duas pessoas que nunca se tinham visto. E depois, as palavras que surgiram livremente. Como se fossem a continuação de uma conversa que tivesse ficado em suspenso algures. Como se sempre nos tivéssemos conhecido. E o importante: dizer as fragilidades, as falhas, as limitações. Dizer os momentos em que sentimos que não somos capazes. Um discurso limpo. Em que foram relembrados os caminhos que nos trouxeram ali, ao momento cheio de luz em que procurámos dizer-nos. Percursos de vida diferentes, circunstâncias que, apesar de todos os pontos comuns, não nos conduziriam até ali. Mas aconteceu assim. Por causa de uma consulta na Internet da Babette. Em busca de coisas para fazer para mais um exercício de dedicação. Muito bonita, a amiga que me foi concedida pela vida. Com um sorriso maternal e dedos finos de pianista. E, enquanto o cenário à nossa volta ia mudando, fomos ficando. Numa conversa doce, em que se procurou preencher o que estava para trás. Descrever as vidas, as casas, as viagens, os afectos. E o que há em nós disso tudo.
Espinosa falava dos bons encontros. Evoco-o aqui. Hoje. Por mais um bom encontro. Para dizer a gratidão por tudo o que há de imerecido nos afectos. Tão grandes e belos, por aquilo que há neles de gratuito e de inesperado. Os melhores ingredientes para o início de uma amizade. E pensar que é tão bonito que seja só o início. Que há uma pessoa tão preciosa que dedicou um bocadinho do tempo de sábado para vir junto ao mar. Ao encontro da Mar. Fica aqui registada a minha gratidão. E a minha felicidade por mais uma dádiva.

PS: Pelo meio, a evocação das palavras que são as pessoas. Muito especialmente os diálogos da Fa, da Emília Melo, da Lusitana. Ainda sem rosto. Estiveram lá, também. Junto ao mar. Com a Mar e com a Babette. Num sábado luminoso.

23 comentários:

  1. A Emoção das Palavras disse...
    Bom dia Mar.
    Só para registar a minha breve passagem por aqui. Porque o texto é tão belo e sentido que não necessita de mais nada. Mas inicio o dia muito feliz, por si e pela Babette, porque no meio do gigantesco mundo que é este, virtual, houve a possibilidade de um encontro real, pleno de vida, amizade, de palavras partilhadas. O mais importante, afinal.
    Com votos de que tenha uma excelente semana.
    Cristina

    P.S.1 - vai um mail a caminho.
    P.S.2 - Desculpe ter removido a primeira mensagem, mas tinha assinado com o meu 1º nome (do qual não gosto muito).

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  2. Minha querida Mar:
    Apesar de as minhas palavras terem sido mais sintéticas, registei hoje no mesmo tom a alegria que foi ter-te encontrado. Engraçado teres reparado no abraço. Não tinha nada planeado para esse começo, mas pareceu-me tão natural que tudo se iniciasse por um abraço. Demorado e sentido. Porque já vinha tanto de trás. Lindo!
    Um beijo de boa semana para ti, minha amiga.
    Babette

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  3. Olá, Mar
    Tão bonita a descrição do vosso encontro! Foi muito estimulante ler hoje, logo pela manhã, as vossas entradas, a sua e a da Babette. É bom somar afectos e registar momentos de partilha. Obrigada por me incluirem na vossa conversa.
    Nota: a Mar está a despertar-me a curiosidade para a leitura de Espinosa.
    bjs

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  4. Olá Cristina:

    Sim, aquele foi o marcar do início de uma amizade. Que começou num registo virtual. Tão belo que tenha sido assim. Que seja uma coisa que nos faça rever os nossos códigos. Então sim, de dois blogs, nasceu uma amizade muito bela. Que pretendo preservar. Na qual pretendo preserverar.

    Uma boa semana para si, também. E mais um obrigada sentido pelas suas palavras.

    Mar

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  5. Bom dia à minha amiga nova!

    É bonito termos registado as duas o início de uma amizade surgida do nada, de tão improvável. Marcada pela memória de um abraço.
    Junto ao mar. No "nosso" Shis. E o mistério de não sabermos quem pagou a água que veio para a nossa mesa:)

    Uma boa semana para ti também. Sinto-me muito grata por este início.

    Mar

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  6. Bom dia, Fa!

    Também falámos em si, naquele pedaço de tarde. De como seria bom conhecê-la. E sim, foi bonito termos registado as duas a memória do começo de uma amizade que se adivinha.
    Gosto que tenha vontade de ler Espinosa. Eu conheço de forma muito fragmentária. Mas o meu marido leu tudo de. E sobre. "O" filósofo. Onde ir buscar tudo. Onde procurar a vida e o que pensar sobre a vida, o amor, a filosofia. Vou perguntar-lhe a ele por onde pode começar o que espero ser um "bom encontro". Talvez pela Ética.

    Beijo de boa semana. Para a Fa. Da Mar.

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  7. A dádiva da amizade. De cada vez que se faz um amigo, temos em mãos um tesouro, mas daqueles que não é preciso esconder, antes mostrá-lo e descobri-lo com orgulho.
    E era isso que eu vinha presenciando entre as duas nos últimos dias. A construção mútua de um sentimento. Que permite descobrir afinidades e diferenças. Num registo real. Que vai crescer e trazer muitas coisas boas. Também para quem lê e segue as duas.
    Fico muito feliz que tudo tenha corrido bem e obrigada por já fazerem parte da minha vida.
    Sandra

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  8. Olá, Mar
    Obrigada pelo conselho. Vou procurar nas livrarias. Nos últimos tempos tenho-me interessado pelas relações do homem com a natureza. É um mundo imenso em termos filosóficos ... bjs

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  9. Para a Sandra:

    Sim, uma dádiva, um tesouro. Também entendo que o significado maior da amizade é esse. Por ser tão gratuita, tão inesperada. Como aconteceu com a Babette. Como acontece nestas circunstâncias, em que me comovo com as palavras aqui deixadas. E sentir que quero merecê-las, por entender que são dádivas. Presentes diários que a vida me concede. Por isso, também a Sandra faz parte do meu percurso. Obrigada por isso. Obrigada por si.

    Beijo da Mar.

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  10. Para a Fa:

    Que seja uma boa descoberta. Um bom encontro. Gosto de imaginar a Fa a ir ao encontro de Espinosa. Uma imagem cheia, muito inteira.

    Beijo da Mar.

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  11. Mar
    Fico feliz com o vosso Encontro. Desejo que ele seja um BOM ENCONTRO.Que gere um aumento da potência de agir.Espinosa. Mais uma vez.Que seja Alegria para vós e para os que vos rodeiam.
    Devo dizer-lhe que é impossível eu não ser "afectada" por vós!
    Obrigada por me deixar entrar no vosso "ENCONTRO".E sabe uma coisa?Estive para mandar entregar, anonimamente, um ramo de flores a cada uma de vós...no... SHIS!
    Mas tive receio de arriscar!
    Obrigada.
    Beijinhos
    Emília Melo

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  12. Olá! Acabo de conhecer este universo através da Festa da Babette....adorei ler sobre a forma como a vossa amizade passou de virtual a real! Um beijinho :)

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  13. Que bom ter notícias da Emília! Tinha saudades. Como correram as coisas por Viseu? Da próxima vez que vier ver o seu filho, temos que nos conhecer. O que acha? :)
    Adoro a sensibilidade da sua escrita. Principalmente quando o pretexto é Espinosa. O filósofo a que chegou pelo seu pai. A vida concede-nos coisas destas. Coisas que surgem, que acontecem. E saber também que depois é mesmo bom escolher agir. Fazer coisas com o que nos acontece. A amizade e todas as outras dádivas são assim: acontecem, surgem. Mas depois, é preciso cuidar, conservar. Tão perspicaz, a Emília. Que adivinhou que seria no Shis o "bom encontro". E foi. E lembrámos as palavras da Emília. E tentámos pensar por onde andava. E as flores chegaram hoje. E são palavras. As suas. Lindas, mais uma vez. Obrigada.

    Beijo da Mar.

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  14. Olá Filipa:

    Obrigada pela visita. A propósito de um post que me é particularmente grato, por evocar uma pessoa muito especial. Que agora tem rosto. A Babette.
    Beijo da Mar.

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  15. Venho cá pegar no ramo que a Emília afinal sempre entregou. Feito de palavras que não murcham! Mas que devem ser regadas sempre!...
    um beijo
    Babette

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  16. Fiquei sem palavras, já foi tudo dito!
    Resta a lágrima matreira que teima em ficar, depois desta passagem emocionada pelo/a Mar!
    Parabéns pela nova amizade. Curiosamente a única amiga virtual que "me permiti" ter, é hoje também uma dádiva, que agradeço serena e humildemente ao Cosmos...

    Beijos nossos ♥♥

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  17. Como já escrevi no espaço da Babette, chego muito a tempo de brindar convosco, festejando, à minha maneira, um encontro assim tão lindo. Parecem-me pessoas doces, que se merecem e têm a bondade de nos deixarem partilhar os vossos momentos. Engraçado, andei pelos vistos, bem perto da Mar. O CCB, por sinal muito giro, fica nas proximidades do Museu Soares dos Reis. À tarde fui mostrar a maravilha da exposição do pintor Artur Loureiro a uma grande amiga minha (de há muitos anos), que não conhecia o Museu Nacional da sua cidade!
    Vê como o mundo é pequeno? Já agora, se voltar ao Porto não perca a exposição! A. Loureiro foi mais que um naturalista, foi um viajante do seu tempo, bebeu as influências mais marcantes da escola de Paris. Curiosamente, é mais conhecido na Austrália, país onde viveu por longos anos, atrás do amor da sua vida, uma pintora australiana que conheceu em Paris.
    E que linda a fotografia de tão lindo Mar, parabéns pela inspiração.
    Beijinho.

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  18. estou muito feliz contigo, convosco. Pelos belos textos. Pelas amizades. Pelas alegrias. Pelas coisas bonitas. Pelas belas mesas. Pelos lanches de partilha.
    é um gosto passar aqui no teu mar de hoje.

    um beijinho grande da Pipinha

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  19. Para a Babette:

    Belas, as flores que a Emília deixou. Eternas. Mas tão de cuidar. Tão de conservar.

    Beijo.

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  20. Para a minha happy single mother:

    Estou comovida contigo. A minha amiga de há muito. De muitas horas. Nem sempre boas. Mas reais. Que ficaram.

    Beijo para ti e para a tua princesa dos olhos grandes:)

    Da Mar.

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  21. Para a Lusitana:

    Claro que chegou a tempo. E que curioso termos andado por sítios tão próximos. E sabe, como a sua amiga, também nunca fui ao Museu Soares dos Reis. Apesar de já ter pensado nisso muitas vezes. E então, agora, num futuro próximo, será. A pretexto da descrição de um pintor que se apaixonou por uma australiana em Paris. Linda história.
    Obrigada pelo brinde. E por ter gostado do mar que havia no sábado. E que assistiu de perto ao encontro da Mar e da Babette.

    Beijo da Mar.

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  22. Falámos há pouco, minha amiga de todas as horas. De tantas alturas. Sei que sim, que ficas feliz por todas as coisas boas que me acontecem. Uma amiga nova, como a Babette. Um dia de sol. E queres sempre que eu esteja bem. Que procure o que me faz bem. Eu faço isso. Contigo. Há muitos anos.

    Beijo da Mar.

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