Desta vez foi como nunca tinha sido. Talvez por querermos muito esquecer aquilo. Aquilo da nossa fragilidade. Aquilo de sermos limitados. Ou finitos, fica melhor finitos. Falhou-me um bocadinho, o meu corpo. Foi isso. Dias inteiros de sol e sentir-me um pedaço de vidro ou assim. E não vir aqui. Não ter tido força para os gestos que são tão simples. Tão de todos os dias. Abrir um monitor. Depois carregar num botão. Mais umas coisas pelo meio. E chegar aqui. Ao lugar onde vão ficando as coisas que me fazem feliz. E onde acontecem pessoas que me fazem feliz. É que não conseguia. Foi por isso. E desta vez, não houve hipótese de aviso prévio ou assim. Porque a fragilidade veio sem aviso prévio. Fulminante.
E no sábado à noite, bem no centro de me sentir frágil, este lugar. Quase de filme, este lugar. Devíamos estar lá ao final da tarde. O jantar seria servido às sete e meia. Inapelavelmente às sete e meia. Numa sala onde ecoávamos, por estar quase vazia. Umas mãos quase silenciosas a servir. Tácitas, de tão silenciosas. E o anfitrião seria alguém com quem nunca tínhamos estado. Mas que conhecíamos há muito.
Para ser mesmo de filme, devia ser uma espécie de não-lugar. Como se tivesse flutuado por lá ou assim. Mas não pode ser, que eu gostei de cada um dos meus minutos de vida, ali. E gosto da ideia de imaginar que algures, alguém pode vir a ler isto. E ir. E poder estar a existir junto a uma lareira beirã. Daquelas que parece que nos enlaçam, para não termos a mínima hipótese de frio. Foi assim que eu estive, na noite fria de sábado. A tentar dizer muitas vezes que ia passar. Que no dia seguinte já não ia estar doente. Mas que enquanto não, estar ali fazia-me bem. Como um bálsamo, a lareira onde repeti interiormente que ia ficar tudo bem.
E foi aqui que aconteceu. No Hotel da Urgeiriça, em Nelas. O tal não-lugar que na minha memória é uma lareira que abraça. A ver se volto lá sem fragilidade. Desta vez foi assim.
Uma ausência sentida aqui. Que regresse, com as fragilidades amparadas. Porque também somos fragilidades. E nAo tem mal, desde que haja sempre um berço, uma mão ou uma lareira.
ResponderEliminarUm abraço.
Um beijo e votos que o sol de inverno ajude a ultrapassar as fragilidades.
ResponderEliminarFa
Senti a tua falta. Espero que estejas bem.
ResponderEliminarUm beijo
P.s. Curioso que ontem ambas tenhamos retratado o aconchego de uma lareira :)
Olá Guida:
ResponderEliminarObrigada. As suas palavras foram isso. Um berço. Uma mão. Uma lareira. E sim, somos como aquelas coisas dentro de caixas que têm uma advertência. Fragile: Handle with care. Maneiras possíveis de amparar as fragilidades.
Outro abraço para si.
Mar
Olá Fa:
ResponderEliminarObrigada. À espera dos milagres do sol de Inverno, então.
Um beijo.
Mar
PS: Obrigada pelo carinho do seu email.
Olá minha Ilídia dos Açores:)
ResponderEliminarEstou no percurso. No caminho que há-de fazer com que fique tudo bem. Também senti a minha falta, aqui. Senti falta de existir aqui. É isso.
E isso da lareira é mais uma das nossas coincidências:) Já disse que gostei muito do teu texto? Sobre o livro que te abraçou. Ou que tu abraçaste. As coisas confundem-se.
Um beijo.
Mar
Quando nos sentimos frágeis e sem forças é bom haver alguma coisa que nos revigore e que seja mais quente e forte do que o nosso mal-estar.
ResponderEliminarDesejo-lhe as melhoras e que regresse em breve pois a sua ausência é sentida por aqui!
Um beijo de melhoras!
Desta vez não foi em pleno. Mas ficou o registo de um sítio que parece uma casa, com uma lareira que é como braços, e pratos azuis lindos. Um sítio para voltar, então. E poder usufruir dele como um todo.
ResponderEliminarE saber que estás bem.
Babette
PS. Ontem o telefonema foi tão bom!... E agora também ;) Beijos e um bom fim-de-semana. Talvez com pedras ;)
Olá Graça:
ResponderEliminarMuito obrigada pelo carinho. E queria pedir desculpa por só agora responder. Mas não conseguia ler os meus comentários. Nem responder. Uma questão qualquer do blogger. Que me ultrapassou.
E sabe uma coisa? Já estou completamente recuperada. Assim espero. Com vontade de pôr mesas e assim:)
Um beijo de bom fim-de-semana. E grata outra vez. Por isso da ausência sentida. Por essa verbalização carinhosa.
Mar
Estava mesmo muito longe de estar em pleno, naquele dia. Mas isso não me impediu do que aqui ficou registado. A minha vontade de acolhimento, naquela circunstância. E a imagem mais tangível desse acolhimento: uma lareira. A ver se volto lá numa altura em que dê para mais.
ResponderEliminarE sim. A minha voz já te deu sinal de estar bem. De volta à minha maneira de existir. Que tenta ser como o Vasco diz muitas vezes: luminosa:)
Bom fim-de-semana para ti também. Talvez com mais mármore:) Não se sabe.
Mar
visitei o canto da Mar...e sem perceber o vazio hoje cliquei os favoritos e eis que havia noticias.A lareira, Mar ,é uma boa interlocutora.Silenciosa e carinhosa.Frágil....aparece nas caixas que escondem coisas preciosas.Nós somos preciosas e por vezes precisamos de nos metermos dentro de caixas ou frente a uma lareira.... Como estás já forte toca a czinhar.
ResponderEliminarOlá anónima que disse que eu já estava forte e para ir cozinhar:)
ResponderEliminarA minha mãe sempre disse isso. Que as lareiras são uma companhia. E que precisam de companhia. Apagam-se rápido, quando não há gente por perto. O fogo vai-se rápido.
E então, quando parecemos aquelas matérias frágeis que vêm dentro de caixas com advertências, uma lareira pode ser isso. Uma interlocutora silenciosa.
Obrigada pelo bom-humor do comentário. De vez em quando, precisamos destes imperativos carinhosos:)E sim, fui obediente. E fiz muita comida.
Um beijo.
Mar