Coisas para que ele seja feliz.



























É declarativo como eu. Mas menos temperamental. É onírico. Mas racional e equilibrado. Não é assim de impulsos como eu sou. Está sempre a dizer que é preciso calma. E pensar bem antes de falar. Ensina-me coisas desde que o conheço. Embora diga que aprendeu comigo a lição mais bela e difícil de todas. Não sei. Essa e outras lições. Mas sei que quis sempre ser melhor por causa dele. Há muito tempo que ando a tentar isso de ser melhor. Por gostar muito das coisas que ele é. Das coisas que são ele. Por gostar que goste de pedras. Tanto, que quando era pequeno as acumulava. E a pedaços de ferro. E que fazia edificações com pilhas de livros e revistas e listas telefónicas. Qualquer coisa não dita em relação a representações possíveis de solidez. Depois descobriu o imaterial. Depois descobriu a filosofia. Depois descobriu que havia livros. E é assim, a imagem dele. As estações mudam e os anos passam. Mas a imagem persistente é a de estar sentado a sublinhar um livro. Diz que se lê duas vezes, assim. Coisas que eu não percebo muito bem. A minha inteligência intuitiva e emocional pode não gostar de ler ensaios filosóficos. Mas gosta de o ver a ler. E está tudo bem. No intervalo disso tudo, acabamos por coincidir.
E aprendi com ele a olhar demoradamente para as coisas que são nós. A saber de olhos fechados que uma gravata é de seda. E que os sapatos são uma espécie de declaração. E que os chapéus Borsalino são os mais clássicos. E o aroma. Também o sei de olhos fechados. Sei que é assim como uma água de colónia muito antiga.
Isto tudo porque fiz coisas outra vez. Porque foi o aniversário dele outra vez. Tão bom haver coisas que podem ser outra vez. Como mais um ano de vida. Assinalado com o livro. Em forma de bolo. E coisas que são ele.  E outras, silenciosas. Antes de estar aqui, o dia 30 de Setembro era o mais triste de todos. Eu não fazia parte do dia 30 de Setembro. Só podia ficar triste à distância. E imaginar todas as coisas que fariam parte. Se eu fizesse parte. Foram tantas, as coisas que imaginei a sós e à distância. Mas estou aqui agora. E agora, posso tudo o que havia no imaginário. Todas as surpresas. Todos os presentes. Todas as refeições. Coisas para que seja feliz. Só para que seja feliz. Não é preciso mais nada, quando é assim.

PS: Obrigada à Cristina, da Casa dos Vouguinhas, por mais uma obra de arte transitória. Pelo bolo que o fez feliz:)

7 comentários:

  1. Tão bom que faças parte destes 30 de Setembro. Que festejes uma e outra vez esta data e que possas acrescentar gestos e coisas que fazem o Vasco feliz. Fico feliz por isso. As datas são para celebrar. Para ir acrescentando memórias.
    Um beijo aos dois.
    Babette
    Ontem registei mais memórias. Num baptizado da filha de uns amigos muito queridos. Agradeci o facto de ter estado presente num momento que lhes foi tão íntimo, num círculo restrito de amigos. Coisas boas de um fim-de-semana de Outubro que conteve o sol todo de Verão.

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  2. Que coincidam sempre, assim felizes, por muitos mais 30 de Setembros, 8 de Julhos, 13 de Fevereiros, algumas datas desta história de amor, que considero única e linda!
    Parabéns nossos ao teu Filósofo... ♥

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  3. Fazer parte dos dias 30 de Setembro. Era isso. Por saber que se fizesse parte desses, faria parte dos outros. Este ano houve um presente à meia noite. Um jantar com coisas de que gosta muito. Um serão com amigos, a prolongar-se para o dia seguinte. Muito simples, o dia 30. Mas preparado com a ilusão toda que havia quando estava longe.
    Bom, quando sentimos que há memórias acrescentadas. São o que fica, no fim de tudo. O que permanece, mesmo que tudo o mais se vá. Gosto que o teu fim-de-semana tenha tido coisas que permanecem. E que o tenhas partilhado aqui. Obrigada.

    Um beijo.

    Mar

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  4. Que linda! Sabes as nossas datas:) As histórias de amor são todas únicas, não é? Sabes deste contexto. E que antes disto, um percurso com coisas menos boas. Também isso faz parte. Das tais histórias de amor. A ver se sim. Se coincidimos. Se continuamos a coincidir.
    Ele agradece os vossos parabéns:) E eu mando um beijo de obrigada.

    Mar

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  5. Querida Mar,

    Só hoje "descobri" esta entrada. Gostei muito de a ler. Os meus parabéns para o seu marido, que aos poucos também vou conhecendo.

    Um beijo no início dum dia de sol

    Fa

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  6. Olá minha Fa:

    O meu marido agradece os seus parabéns. E eu peço desculpa por só hoje responder ao seu comentário carinhoso. Não tinha visto antes. E andei um bocadinho longe de computadores, nestes últimos dias.

    Um beijo no fim de um dia que foi de sol.

    Mar

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