Para a minha mãe de cabelos claros e olhos verdes.






























Tinha prometido à minha mãe que hoje faria um almoço para ela. Como se um almoço pudesse ser todas as coisas que gostaria de lhe oferecer. Não posso todas as coisas. Mas posso isto. Fazer um almoço para a minha mãe. E pôr uma mesa bonita, com as flores de que gosta mais. A minha mãe. Que é tão forte. E tão bonita. Olhos verdes e cabelos muito claros. A miúda mais bonita do liceu. Era assim que se diz que se dizia. Mas anda um bocadinho frágil, a minha mãe forte e linda. A precisar de carinhos e de atenção. Mesmo a precisar de comida feita pela filha que nasceu primeiro. Num domingo de um sol que nunca foi possível em Outubro. Um calor que não é de Outubro. E então, escolhi fazer uma massa muito de casa. Com a receita de uma amiga que é assim uma espécie de mãe. E acho que não podia ter pensado numa receita mais acertada. Esta:

Macarrão Corso (que acabou por ser Provolone:)

Uma embalagem de macarrão + bacon cortado em cubos + quatro bifes de peru cortados em pedaços + raspa de duas cenouras + uma embalagem de cogumelos frescos + espinafres q.b. e coentros q.b. + dois pacotes de natas para culinária + queijo Corso ou Provolone + azeite, sal, leite e pimenta q.b.

Primeiro coze-se o macarrão em água com sal e azeite. Retira-se e passa-se por água bem fria e corrente. Reserva-se. Num tacho, coloca-se os pedaços de peru, o bacon, a cenoura e os cogumelos em azeite. Passados uns minutos, acrescenta-se um pouco de sal e de vinho branco. Deixa-se cozinhar, até que a carne esteja pronta. Acrescenta-se as natas, depois a massa, os espinafres e os coentros. De seguida, a massa. Envolve-se tudo muito bem e, se necessário, junta-se um bocadinho de leite. Antes de colocar no pirex, rectifica-se os temperos e acrescenta-se sal e pimenta. Finaliza-se com queijo Provolone e vai ao forno durante vinte minutos.
O queijo devia ter sido Corso, mas não o consegui em parte nenhuma, por isso teve de ser assim. Com uma adaptação. Mas a minha mãe disse que estava muito bom, o almoço adaptado. E que lhe tinha sabido bem estar à minha mesa com orquídeas brancas.

14 comentários:

  1. Como em tantas outras vezes, pensei muito em ti no fim-de-semana. Como estarias a aproveitar um fim-de-semana de Outono com tempo de Verão. Pelos vistos o teu domingo deu colo à mãe. Somos assim uma espécie de "mães-filhas", "filhas-mães". Recebemos mas também damos colo. A tua mãe de olhos verdes e cabelo claro deve ter gostado dessa mesa. Com uma massa que é comida de casa. De dentro. Que aconchega. Gostei da mistura de taças e copos, que se intervalam numa cadência complementar. Gostei das orquídeas, que associo sempre à minha mãe. Gostei da foto vertical...a minha mania. E gostei que lhe tivesses dado colo. Em forma de uma mesa azul. Azul é uma cor que pode ser muito forte. E eterna, como já o disseste. Um beijo à filha de cabelo escuro e outro à mãe de cabelo claro.
    Babette

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  2. Texto de emoções e silêncios. Que cala.
    Obrigada.

    Beijinhos,

    Jo

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  3. Querida Mar,

    Também hoje tive um dia dedicado aos meus pais. De filha que se transforma em mãe, que assume atitudes de protecção e defesa até ao limite daquilo que alguma vez imaginei poder vir a acontecer. A verbalizar pensamentos que outros já não conseguem articular. Mas principalmente a lutar pelo direito ao afecto que todos temos, de receber e de dar. Um dia de calor, dificil e intenso onde houve lugar também para bons momentos, como descobrir uma mensagem amiga na memória do meu telemóvel.

    Um beijo

    Fa

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  4. Nó na garganta, lágrima a querer rolar!
    Palavras para quê?! É assim, O Amor Incondicional...♥

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  5. Sempre me encanto toda vez que venho aqui... tudo lindo caprichado e de uma sensibilidade ímpar. Que linda homenagem à sua mãe. Abraços, Adriana.

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  6. O meu fim-de-semana de Verão começou a fazer comida e terminou assim:) Nos intervalos, deu para ir muitas vezes lá fora. Para o sol filtrado pelas árvores, no jardim. E sem filtros, nos terraços.
    A minha mãe precisou de colinho. Sabes aquilo de querermos muito que alguém nos faça comida? E que ponha uma mesa? Foi isso. Estava feliz, ela. Apesar de frágil.
    O azul. Por aqui há muitas peças que querem isso da eternidade. Ou no limite, resistirem. Por serem fortes. Uma cor que fica linda sob o sol de Outono. E sabes, quando comprei estas orquídeas, lembrei-me logo da tua mãe. Das recomendações que me fez, sobre os cuidados a ter com elas. Sim, porque a tua amiga Mar deve ser uma espécie de exterminadora de orquídeas:) A ver se estas resistem.

    Um beijo de início de semana. E com carinho.

    Mar

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  7. Olá Jo:

    É sempre tanto o que não se diz, não é? Talvez as coisas mais importantes sejam mesmo as que não se conseguem dizer. Obrigada eu. Por ler. E por registar as coisas que ficam caladas.

    Um beijo da Mar.

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  8. Olá minha Fa:

    Andava preocupada, eu. Precisava muito de saber se estava tudo bem. Se estava a precisar de colo, também. Como a minha mãe. Fiquei mais tranquila. E feliz, por ler este seu comentário. A propósito de uma mensagem amiga:)
    Faz bem em insistir nessa demanda. A dos afectos. De ser uma coisa para dar e receber. Sem fazer contas ao que é dado ou recebido. É assim que deve ser, não? Melhor, é assim que entendo essa não-contabilidade. Limpa. A Fa vive-a. Dá amor sem contabilizar ou capitalizar. Faz bem. E também faz bem em tomar conta de si. Por causa daquelas coisas de que já falámos.

    Um beijo com carinho.

    Mar

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  9. Lembras bem. O amor sem medida. O que sentimos pelas mães. Pelos nossos filhos, depois de sermos mães. Uma declinação tangível e possível desse tal amor incondicional. Um almoço num dia de sol.


    Um beijo para a happy single mother.

    Mar

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  10. Olá Adriana:

    Gosto tanto do seu português com açúcar:) Mesmo que não seja de ouvir. Escrito também é muito à solta, o português do outro lado do oceano.
    Agradeço muito. Todas as vezes em que vem aqui. E em que sente as coisas que descreveu. Ela merece a homenagem. Devia ter mais. Todas as mães merecem estas e outras lembranças.

    Um abraço para si também.

    Mar

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  11. Mar,
    Esta é sem dúvida a maior das homenagens. A que se faz em vida. Onde temos oportunidade de dizer tudo. E é importante que no amor nada fique por dizer e por demonstrar. Palavras e gestos como os seus. De uma nobreza imensurável.
    Um beijo
    Patrícia

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  12. Olá, Mar. Creio que nunca fiquei tanto tempo sem a vir visitar :) Têm sido dias difíceis, com muito trabalho. Gostei de encontrar este texto ternurento. De uma filha a dar miminhos à mãe :) Hoje, ao pequeno-almoço, fiz panquecas para a minha mãe :) Elas ficam tão felizes com estes mimos que as filhas lhes fazem :) A mesa estava linda, como sempre. E gostei muito da massa, ou não fosse eu uma adepta de massas. Um beijo
    P.S. O calor voltou aos Açores. E a humidade também, infelizmente.

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  13. Olá Patrícia:

    Uma coisa muito preciosa, essa que disse. O meu entendimento é esse, também. O de o amor pressupor esta componente de demonstração. Tão melhor demonstrar. A vida já é tão cheia de não-ditos, não é? Para contrariar isso, coisas destas. Que demonstram.

    Um beijo da Mar.

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  14. Olá Ilídia:

    São assim, os dias de trabalho. Nós temos esta outra dimensão virtual. Que não pesa. E que é livre. Pelo menos é assim que entendo estas coisas. Escrevemos porque sim. Receitas e mesas porque sim. Por isso, não se preocupe com essas coisas de estar tempo sem vir aqui:)
    E sim, muito bom fazer coisas destas às nossas mães. Elas concederam-nos o dom. Aquele de estarmos aqui.

    Um beijo com carinho. Para os Açores com sol:)

    Mar

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