A sensação persistente de estar a falhar. Sempre alguma coisa que fica por fazer. Por mais que até faça listas. Por mais metódica e organizada que seja. Mas não estou claramente a ser capaz. A começar por esta dimensão. Onde me sinto a falhar. Apesar de haver coisas para dizer. Receitas e aquelas coisas que as receitas motivam, quando acontece sentar-me para escrever.
E então, se passo a vida a dizer que sou declarativa, esta declaração. Preciso de parar. Apercebi-me há uns dias que sim. Que era urgente parar. Uma dimensão minha que precisa que eu pare. Para ter a sensação de chegar ao fim. Importante chegar ao fim das nossas dimensões. Como querer chegar ao fim de um livro. Respirar na última página. E partir para outra coisa qualquer. Mesmo que não se saiba qual é essa outra coisa qualquer. Mas creio que só se parte verdadeiramente quando se tem a sensação de chegar ao fim de uma página.
E precisava disto. De dizer isto. A quem escolhe vir aqui. Mesmo que seja só uma pessoa. Uma só pessoa merece isto. Como se precisasse de me justificar ou assim. Não sei bem. Como se precisasse de dizer que preciso de uns dias. Que daqui a uns dias que não sei quantos são, vai voltar tudo. Mas que agora é preciso desaparecer um bocadinho. E dizer que gosto muito de estar aqui. E dizer que no entretanto, queria deixar luz de presente. Luz apanhada a andar rápido. Parte das luzes de uma cidade de que gosto tanto. E a música dos Depeche Mode. Que tem acompanhado a dimensão que precisa de mim. Depois disso, um bocadinho de silêncio. Até que voltem as palavras. Até lá.