A mesma coisa, mas palavras diferentes.



Começou assim. Com a ideia de sempre. A de que nunca me esqueço, assim que entro numa sala de aula. Ensinar o respeito pelas palavras. Procurar dizer que podemos fazer o que entendermos delas. Por serem coisas. Por poderem ser pedras ou almofadas contra a dor. Por poderem magoar ou confortar. Por poderem ensinar que o medo custa menos quando nos esforçamos por lidar com ele. E que sim. Que são para nos dizermos. Que são para rebater e argumentar e demolir, às vezes. E perigosas. Também podem ser perigosas. Daí uma parte do respeito. De tão irreversíveis e livres que são. As palavras que são assim. Poderosas. Tanto, que podem mudar o mundo. Pelos mundos interiores que encerram. Os mundos interiores que se sentaram ontem numa sala levaram de lá esta ideia. A ver se fazem coisas boas com as palavras diferentes que há em cada um. A ver se sim.

NB: A propósito de palavras e das coisas que elas podem significar, deixo a referência a um seminário aberto, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na Universidade Nova de Lisboa. No próximo dia 27 de Setembro, "Estranhar Pessoa". E ouvir palavras. Em torno da ideia de decadência nacional em Fernando Pessoa. Sebastianismo e Quinto Império. E o mais que nunca se consegue antecipar.

18 comentários:

  1. Muito bonito!
    As palavras são muito poderosas... só temos que as saber escolher muito bem... uma só palavra perdida num contexto qualquer, faz coisas coisas fantásticas...

    Um bom dia para ti1


    PS: Gostava de ter tido uma professora de português como tu...

    ResponderEliminar
  2. Gosto muito de ler. Também acredito na força da apalavras. Espero também nunca me esquecer. Um beijinho e bom regresso

    ResponderEliminar
  3. Querida Mar,

    Lindo texto. Tão verdadeiro no que toca ao poder das palavras em momentos de dor. Gostei muito e pensei como seria bom ser sua aluna. Aprender a escrever sem medo. Ou será que deveria dizer antes a pensar sem medo? Reflexões que me ficaram de um artigo que li ontem. A diferença entre pensar e aprender.

    Um grande beijo

    Fa (de regresso)

    ResponderEliminar
  4. Da Mar, a aprender o poder das palavras. Da Fa, a registar a importância de pensar. Um pedaço de filme comovente.
    Um beijo
    Babette

    ResponderEliminar
  5. Olá Sophy:

    Uma palavra faz coisas. Boas e más. E sabes, uma só palavra pode destruir sonhos. Ontem falei nisso, quando dei um exemplo a uma aluna. E olha uma coisa muito bonita: as tuas palavras fizeram-me bem. Estás a ver?:)

    Um beijo para ti. E até à próxima Feira de Velharias na Figueira:)

    Mar

    ResponderEliminar
  6. Olá Filipa:

    E de escrever. Também gostas muito de escrever, que incorporas narrativas nas tuas receitas. Que eu e muitos outros gostamos de ler. Não se esquece, pois não? Uma coisa que pode ficar. Muito raras, as coisas que permanecem.

    Beijo.

    Mar

    ResponderEliminar
  7. Olá minha Fa que está de regresso:)

    Fizeram-me pensar, as suas palavras. E sim, creio que tento muito que não tenham medo. Por acharem que não conseguem. Escrever ou pensar. Que aquilo que terão a dizer sobre si e o mundo não acrescenta. Digo-lhes as vezes todas que conseguir que sim. Que escrevam. Que pensem por si. E que vão para o mundo sem medo. Digo-lhes para irem sem medo. É bom vê-los ir, também.
    Tão bonito pensar as coisas carinhosas que disse. Mas sabe, eles sofrem um bocadinho. Depois do vídeo de um minuto e meio, fartaram-se de escrever e analisar e voltar a escrever. E acho que sou um bocadinho chata e tudo. Estou sempre a corrigir-lhes a postura. Coisas de professora bailarina, creio:)

    Um beijo pelo seu regresso do sul.

    Mar

    ResponderEliminar
  8. A Fa voltou das férias azuis. E escreveu coisas lindas, já viste? Como tu. Obrigada por isso. O fragmento é muito breve. Mas cheio. E foi-me enviado por alguém que significa coisas muito bonitas. E que respeita muito as palavras. Há uns meses atrás. Guardei-o para iniciar mais um ano. Ainda bem que sim, que foi mais partilhado.

    Um beijo da tua amiga Mar.

    ResponderEliminar
  9. Olá, Mar. Depois de um dia cheio daquelas coisas de que não gosto na nossa profissão (reuniões intermináveis e desinteressantes, divergências com colegas, papeladas vazias de conteúdo), soube-me especialmente bem vir aqui. O seu post sobre aquilo que realmente interessa deu-me um bocadinho de alento. Na próxima semana, as minhas aulas começam. E sim, estou consigo em relação à importância de ensinar aos nossos alunos o respeito pelas palavras. Um beijo

    P.S.: Em relação ao seminário, é nestas alturas que sentimos que morar na "nossa bela ilha verde" nos limita. Nada é fácil para um ilhéu . ( Hoje estou mesmo num dia não. Desculpe-me o desabafo. Amanhã estarei melhor. E para a semana estarei melhor ainda. Tenho saudades dos meus alunos, que estão comigo há três anos). Beijos e obrigada por este bocadinho :)

    ResponderEliminar
  10. Olá Ilídia:

    Estive nessas coisas todas desde o dia 1 de Setembro. Com tudo o que isso tudo traz. E sabe, quando me sinto imersa, lembro-me dos dias à frente. Em que vou entrar numa sala. E eles vão estar lá. E é para ensinar e para estar bem. E então, resguardo-me de tudo o que possa perturbar isso de estar numa sala, a dar uma aula. Uma espécie de blindagem. Nada pode perturbar. Muito menos documentos e folhas com coisas dentro que não são literatura. Por mais úteis que sejam. Faço tudo. Entrego os papéis com a minha assinatura. Mil vezes. Nos prazos. Para poder concentrar-me no que é importante: saber o que dizer, quando estiver na sala, à frente deles.
    Quero imaginá-la assim, minha querida Ilídia. A concentrar-se no que lhe faz bem, por intuir que será uma professora como as que me fizeram querer isto. Dar aulas.
    Também tinha saudades dos meus alunos. Que acompanhei desde o 10º ano. Chegam ao fim agora. Este ano começa o fim de mais uma parte do percurso. E há alunos que não eram meus, também. Estamos a tentar situar-nos, por estes dias:)
    Percebo isso da limitação, embora a minha circunstância não seja rodeada desse verde todo com mar. Eu conto-lhe tudo o que trouxer de lá, sim?:) Mesmo que não seja a mesma coisa.

    Um beijo com carinho. Pelo seu dia não. Amanhã vai ser sim, vai ver.

    Mar

    ResponderEliminar
  11. Lindo o pequeno video . Consegui vê-lo! Imagino uma bela aula, um bom começo, todos junto à porta, na expectativa."A nossa aula é com a professora Marisa" O poder das palavras, que importante mostrar-lhes.

    Um beijinho para a minha amiga que é muitas coisas,
    da Pipinha

    ResponderEliminar
  12. Olá minha amiga que é muitas coisas:)

    Isso da expectativa passa-lhes rápido:) Depois vem a realidade. Com estes fragmentos breves. Mas o que vem depois deve fazer com que queiram evadir-se. Ou que eu desapareça:)

    Um beijo para ti. Gosto que tenhas conseguido ver o vídeo pequeno. Acho que a mulher do filme é parecida contigo, sabias?

    Mar

    ResponderEliminar
  13. Este ano não , este ano não será como os outros. Poder entrar numa sala cheia de alegria onde a professora Marisa ensina Fernando Pessoa e seus heterónimos. Não vai haver mais aqueles desenhos , não vai haver "The xx" nem "Adele".
    Mas sim, vai haver uma "english lesson" para receber de braços abertos.

    Um beijinho , da aluna de Multimédia , que gosta da professora "dos sapatos da sola vermelha" (:

    ResponderEliminar
  14. Um mergulho ao fim da tarde no mar tem sido o meu refúgio ao longo de uma semana cheia de reuniões e mais reuniões repletas de burocracias, que por o serem deveriam ser desnecessárias. Espaços cheios de palavras vazias, vagas de tanto se esforçarem por serem específicas. Os bons dias, as boas tardes, as conversas de protocolo cujo esforço se tenta disfarçar. Palavras e mais palavras.Orais e escritas.
    Como gostei do seu post.
    Poderoso como o poder da palavra.
    Um beijo
    Patrícia

    ResponderEliminar
  15. Olá Nely:

    O facto de ser professora de Inglês em vez de professora de Português não quer dizer que não haja planos de aula com The XX:) E pronto, pode não haver desenhos esforçados para vos fazer compreender o Sermão de Santo António aos Peixes, mas há-de haver outros. As coisas mudam, de vez em quando. As coisas mais ou menos exteriores, mas lembra-te que permanecem as mais importantes. Gosto muito de vos dar aulas. A todos. De Português. De Inglês. Não importa. Por isso, é bom ser recebida de braços abertos.

    Um beijo da tua professora dos sapatos de sola vermelha:)

    PS: Um dos planos de aula desta semana tem Adéle. Aquela música de que vocês parecem gostar tanto.

    ResponderEliminar
  16. Olá Patrícia:

    Entendo tudo o que escreveu. Partilho dessa sensação. Ao ponto de serem urgentes os refúgios que inventamos. O seu parece-me perfeito. Água. Mar. Ao final da tarde. Quando comecei a dar aulas, ainda não conseguia os mecanismos que me permitem desligar. A um dado momento, desligo. A meio das reuniões infindáveis em que se discute mais uma alínea. Numa tabela qualquer com trinta pontos diferentes. Que acabam por não querer dizer nada. E pior, que podem fazer com que nos distanciemos do que realmente vale. O refúgio possível, nessas circunstâncias, é o caderno onde preparo as aulas. Retiro-o da pasta e vou olhando para o que me é precioso. Para não me esquecer. Para me lembrar de algumas palavras que querem muito valer alguma coisa. E tudo o mais é reduzido à dimensão a que pertence. Que é burocrática. Seria bom que essa dimensão se cumprisse sem atrapalhar as outras.
    Tome conta de si e das coisas boas que quer ser para os seus alunos. Vai ver que vai ser mais um ano lindo. Com os documentos todos desnecessários. Mas lindo, ainda assim. Vai ver:)

    Um beijo com carinho. E com gratidão.

    Mar

    ResponderEliminar
  17. Mar, texto e vídeo lindos.
    Tocante demais.
    Beijo,
    Mar(celo)

    ResponderEliminar
  18. Obrigada, Mar(celo:). Que bom que tenha chegado aí, ao outro lado do Oceano.

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar

AddThis