Afinal ainda havia mais Verão. Nós é que não sabíamos. O sol é inclemente como na altura do ano em que é mesmo Verão. Respirar custa um bocadinho. E apetece roupa dos dias de sol. E não dá. Porque estes dias não são bem como os outros. Aqueles em que a única coisa realmente importante é haver sol. Não dá para vestidos curtos com flores. Ou sem alças ou sem costas. Estes dias são dias de roupa séria:) Exactamente porque é Setembro e não Julho ou Agosto. Por estes dias de roupa séria que não é às flores. Por estes dias em que as pedras estão quentes. Mesmo à noite. Dias que são quentes mesmo à noite. Chegar a casa sabe melhor. Porque ainda há luz quente para ir ao jardim. Porque apetece estar em silêncio um bocadinho. Concedermo-nos um bocadinho de silêncio no final de um dia em que não houve nada disso. E só aí pensar no jantar. Como se fosse surpresa ou dádiva. Apetecia massa. E apetecia que fosse mesmo leve. Mas também apetecia que estivesse envolvida num molho aveludado. E com lascas de queijo, logo a seguir aos orégãos. Para pensar melhor e mais fresco, um espumante concebido pelo gosto de uma mulher. Que é assim como uma mulher: doce e ácido ligeiro. As duas coisas numa garrafa. As duas coisas numa mulher. Doçura e acidez. Na dose certa, para não se anularem. 3B, Filipa Pato. Como diz no rótulo: sem dosagem, sem maquilhagem. A acompanhar isto:
Ravioli com molho de tomate e orégãos
Uma embalagem de ravioli frescos + 2 tomates coração-de-boi + metade de um pimento verde + 8 cogumelos frescos + 1 cebola média + sal, azeite, farinha Maizena e orégãos q.b. + lascas de queijo (usei Zamorano, mas pode ser o que nos apetecer).
Faz-se um refogado simples e rápido com a cebola, o pimento, os cogumelos e o tomate cortado em pedaços. Junta-se água até meio da panela onde for feito o refogado e deixa-se ferver. Então, junta-se os ravioli e deixa-se cozer durante uns cinco minutos (era o que dizia na embalagem:). Bem no final, junta-se o sal e um pouco de Maizena, para que o molho fique ligeiramente espesso. Quando se transfere para o prato de servir, os orégãos e as lascas de queijo.
E até que sabe bem, isto de ser Julho e Agosto em Setembro:).
Mar, penso nas circunstâncias que acontecem por acaso: como a de, quer a Babette quer a Mar, falarem hoje de um dia de verão e de como se inspiraram culináriamente falando, é claro. Pois a mim, basta haver sol, não importa a temperatura: fico logo bem disposta.Como fico também quando leio o seu blog, no afago das palavras que aqui deixa.
ResponderEliminarAdorei visitar (com a companhia do próprio Luís Pato)as caves deste ilustre produtor. Na altura, a filha estava na Austrália a estagiar no ramo. Pronta a colaborar com o pai, introduzindo novidades e imprimindo "notas" de juventude, como ele com orgulho dizia.Já lá vão uns anos. Mas é assim, as coisas boas às vezes têm um longo percurso.
Tenha um bom dia e que os seus alunos aproveitem bem a professora especial que têm.
Beijinho.
Olá!
ResponderEliminarA fotografia de baixo prendeu-me o olhar. É um momento feliz, em que o passado se entrelaça com o presente sem que nenhum deles se anule.
Depois, há aquelas pedras de granito envelhecidas pelo tempo e que contam mais histórias do que a nossa imaginação pode supor. Aquelas pedras integraram o calor do sol, o vento, o luar, o suor e até os afectos dos homens. São a expressão de um passado longínquo que se quer vivo.
Até breve!
F. Pinheiro
Concordo inteiramente com o comentário anterior.De resto, as suas composições são sempre inspiradoras. Mas hoje, permito-me expressar uma breve divergência: Não gosto nada do calor. Gosto de sol e de luz, com brisa e temperatura amena. De fresco e de frio. Como parece estar esse belo espumante. O calor torna-me penosa a mais simples das tarefas.E menos prazenteiro um dos meus maiores prazeres: ler. De modo que busco, tanto quanto posso, o fresco.
ResponderEliminarAntónio
Uma convergência, termos as duas brindado de forma simultânea aos dias de calor que ainda nos estavam reservados. E pelos vistos ambas tivemos dias longos.... Mas "sobrevividos"!
ResponderEliminarUm beijo. Hoje de bom dia!
Babette
Olá, Mar. Custam um bocadinho estes dias em que só queríamos os vestidos das férias, não é? Em vez disso, as roupas mais profissionais. Restam-nos os fins de semana. E os jantares, que ainda podem ser no jardim, como tanto gostamos:)
ResponderEliminarAs minhas aulas só começam na segunda, por isso hoje fiquei a trabalhar em casa. E, por acaso, estou com um vestido às flores, sem alças :)
Um beijo grande
P.S.: Obrigada pelas suas palavras reconfortantes, em resposta ao meu desabafo no post anterior. Já estou melhor. Mas, naquele dia, estava mesmo triste com a nossa profissão. E com alguns colegas. Mais um beijo.
Olá minha Lusitana:
ResponderEliminarUm comentário tão cheio e tão bonito só hoje com resposta. Em diferido. Uma quebra momentânea e do domínio do imponderável. Estive doente. Mas estou a recuperar.
Sou assim, também. Nisso que disse do sol. Embora goste da chuva e do aconchego que traz. Mas acordar para um dia de sol é diferente. Apetece logo e pronto.
E os percursos são assim. Precisam de tempo. Uma dimensão incontornável. Como o que fez com que houvesse um espumante muito fresco, concebido pela filha do Luís Pato. Como os percursos dos meus alunos. Declinados diariamente num exercício de escolha: ouvir ou não aquilo que os professores têm para dizer. Coloco-lhes as coisas nesse plano. Digo-lhes para escolherem. E que a partir do momento em que escolheram estar ali, para serem consequentes com a decisão que tomaram. Não sou pela imposição. Seria trágico impor o gosto pelas palavras. E uma espécie de negação, também.
Muito grata pela sua generosidade. Muito grata pelo carinho, que me soube a um dia de sol. Pelo meio da minha vulnerabilidade toda. Por perceber que de vez em quando é assim: fica-se doente.
Um beijo de bom fim-de-semana. Que haja muito sol para si. Do literal e do outro também. O que é metafórico:)
Mar
Sabe que me fez olhar outra vez para a fotografia? Concentrei-me mais no óbvio e houve necessidade de olhar novamente as imagens. E sim, o granito com muito tempo. Com o tempo inscrito. Com histórias que estão para lá do que podemos conceber. E que sim, encerram uma dimensão de afecto: o meu marido adora pedras. Pelo que significam de solidez óbvia. E de constância, também. Diz que não morrem. Que as pedras não morrem. E daí virá uma espécie de tranquilidade possível. Não sei ao certo. Gosto que haja coisas nele que eu não saiba ao certo.
ResponderEliminarObrigada pelo olhar que trouxe ao meu olhar inicial. E pela verbalização do que viu, que me fez voltar a olhar para as pedras do meu jardim. Cheias de histórias que não consigo dizer. Por me serem demasiado anteriores.
Mar
Olá António:
ResponderEliminarGosto de divergências. Nada contra. É pela chuva e pelo frio? Bom. Melhor ainda que lhes tenha dado expressão a propósito de um texto que louva o calor.
E a minha ideia não é a do calor sufocante que não deixa pensar. Ou ler:) Mas sim, gosto muito de um dia franco de sol. Sem ambiguidades. Sem estar no meio-termo.
Como estes últimos dias, em que parece que o Verão todo que não veio no tempo certo, vem agora. Com luz. O melhor. A luz que nos acorda de manhã. E que dá ânimo luminoso.
Obrigada por aquilo das composições inspiradoras. E pelo comentário.
Mar
Olá minha Babette:
ResponderEliminarSabes que sim. Que sobrevivi ao meu dia de ontem. E um pouco ao de hoje. E tu também, por motivos diferentes. Felizmente, que quando o nosso corpo nos falha, tudo o resto parece sempre mais longe, sempre mais difícil.
E agora, a recuperação. Com perspectiva de mais dias de sol. Como os que fizeram com que convergíssemos nos posts de ontem:)
Um beijo de bom fim-de-semana.
Mar
Olá Ilídia:
ResponderEliminarSabe que me lembrei de si, quando estava a escrever? Por causa de coincidirmos naquelas outras coisas que não têm assim muito a ver com comida e cozinha:) Uma das coisas que custa um bocadinho, no regresso à rotina de que gosto tanto. Mas que não me deixa usar os vestidos todos que eu quero:) Faz parte, não é?
E em relação às coisas que fizeram com que ficasse triste, sabe qual a palavra que me faz ganhar distância? Ruído. Essas coisas todas são uma espécie de ruído. Que podem fazer com que nos esqueçamos do essencial: o que dizer, quando entramos numa sala de aula. Uma coisa muito séria, essa. Resguarde-se dessas coisas que não fazem bem, sim? Para ser luminosa para eles. Na segunda-feira. E nos outros dias todos.
Um bom fim-de-semana. Para uma professora luminosa:)
Mar