Finalmente, o Outono. Finalmente, as coisas que se sentem neste tempo. As estações são mesmo uma coisa de pele, não de calendário. Cada vez mais, creio. O Outono começou em Setembro, diziam os calendários e as publicações cheias de pressa e os artigos formatados das revistas. Comidas de Outono. Roupas de Outono. Hábitos de Outono. Mas não. Não se sentia Outono na pele. Não havia Outono coisa nenhuma. Só uma espécie de Verão a agonizar, meio doentio. Há coisas que pertencem a um tempo e pronto. Coisas que obedecem a barómetros indomáveis. Barómetros que se estão nas tintas para os calendários inventados. A temperatura. A luz. A água pela qual todos ansiamos e que ainda não é suficiente, apesar das chuvas recentes. Porque são esses os principais barómetros. São esses os que nos dizem que é chegado o tempo. Aquele tempo de dentro. Interior. Aquele tempo em que vamos vendo a luz do dia a cair e, com isso, só aquela vontade de chegar a casa. Como se nada pudesse ser mais importante do que isso de chegar. Finalmente, então. Finalmente, aquele gesto de acender o lume e de sentir que é só certo que assim seja. E que o resto acontece, por pertencer a este agora. A casa adapta-se. Tal como nós. Nas jarras, nos copos espalhados, só agora é que é Outono. Galhos secos e sinuosos. Ramos de oliveira com as azeitonas que daqui a nada serão o azeite que vai estar à mesa. Hidrângeas tecidas de Outono. Os objectos nos lugares que são os de agora. Com a luz que é a de agora. A luz doce de Novembro.
Para noites frias, comida de tempo frio. Esta, por exemplo. A minha versão de bife Wellington. Sem grandes invenções, sem as narrativas habituais, associadas a comida deste género. Uma versão muito concentrada no essencial da receita: boa carne, envolta em massa folhada, com um recheio outonal. Ao lado, uma salada verde temperada com este vinagrete de mel e de mostarda, para acrescentar leveza. E este tomate no forno. Basta-se, esta peça. Não quer nada de substancial a acompanhar. Seriam só elementos de perturbação, de distracção. Como este nosso tempo. Cheio de barulho. Cheio de coisas a acontecer sempre e muito depressa. E quase sem silêncio. Este livro que fica hoje trata desse silêncio, desse confronto interior e necessário. Mas sem dar direcções, coordenadas, instruções. E, muito importante: sem dar a ideia de que o tal silêncio depende necessariamente de viagens, de retiros, de experiências extremas que transformam a existência quotidiana em algo menor. Porque o silêncio denso, real, pensado, é algo ao alcance. Tão ao alcance quanto esta receita clássica, que se tem como algo muito difícil ou cheio de sofisticação. Nada disso. Bem pragmática e bem simples. E do género de se poder fazer com alguma antecedência, quando abrimos a casa a outros. Do género de se deixar no ponto de entrar no forno e de não se pensar mais no assunto. E sim, quando se serve, aquele silêncio que não precisa de ir ao Evereste para saber que está tudo bem, afinal. No lugar e no momento exacto em que se está. Se no final, houver bolo de chocolate com natas e com caramelo, ainda mais:)
Bife Wellington
Para 4 pessoas
4 bifes de vitela (do lombo, com dois dedos de espessura) + 2 embalagens de massa folhada rectangular (costumo comprar aqui) + 1 cebola vermelha (média) + 8 cogumelos frescos + 1 copo de vinho tinto + 2 gemas + bacon, sal, azeite e pimenta preta q.b.
Tempera-se os bifes com sal e com pimenta e reserva-se. Entretanto, pica-se a cebola e os cogumelos e reserva-se. Depois, numa sertã, um fio de azeite e os bifes. Um minuto e meio de cada lado da carne. É este o tempo certo, para quem gostar da carne naquele ponto delicioso de vermelho por dentro. Retirados os bifes da sertã, acrescenta-se de imediato a cebola e o bacon e deixa-se uns segundos. Logo a seguir, os cogumelos picados. Mexe-se e acrescenta-se depois o vinho. Deixa-se evaporar durante cerca de um minuto, mexendo. Retira-se do lume e reserva-se.
Estende-se os rectângulos de massa folhada e corta-se ao meio. No centro de cada pedaço, uma colher do salteado, depois o bife e por último, mais uma colher da mistura de cogumelos, bacon e cebola. Pincela-se com gema de ovo as margens da massa, embrulha-se com cuidado, selando a parte que fecha com mais gema de ovo. Faz-se uns cortes na parte da massa que fica virada para cima, pincela-se com gema e leva-se ao forno a 180ºC, durante cerca de 15 minutos.
Serve-se de imediato, porque é o tipo de comida urgente, de maravilhosa. No dia das imagens, servi com cerveja, em vez de pensar num vinho. Esta fica particularmente bem com carne. Com esta comida.
A música é dos Royal Blood. Pode haver muito silêncio interior, num concerto de música pesada. Mesmo muito silêncio.
Bife Wellington
Para 4 pessoas
4 bifes de vitela (do lombo, com dois dedos de espessura) + 2 embalagens de massa folhada rectangular (costumo comprar aqui) + 1 cebola vermelha (média) + 8 cogumelos frescos + 1 copo de vinho tinto + 2 gemas + bacon, sal, azeite e pimenta preta q.b.
Tempera-se os bifes com sal e com pimenta e reserva-se. Entretanto, pica-se a cebola e os cogumelos e reserva-se. Depois, numa sertã, um fio de azeite e os bifes. Um minuto e meio de cada lado da carne. É este o tempo certo, para quem gostar da carne naquele ponto delicioso de vermelho por dentro. Retirados os bifes da sertã, acrescenta-se de imediato a cebola e o bacon e deixa-se uns segundos. Logo a seguir, os cogumelos picados. Mexe-se e acrescenta-se depois o vinho. Deixa-se evaporar durante cerca de um minuto, mexendo. Retira-se do lume e reserva-se.
Estende-se os rectângulos de massa folhada e corta-se ao meio. No centro de cada pedaço, uma colher do salteado, depois o bife e por último, mais uma colher da mistura de cogumelos, bacon e cebola. Pincela-se com gema de ovo as margens da massa, embrulha-se com cuidado, selando a parte que fecha com mais gema de ovo. Faz-se uns cortes na parte da massa que fica virada para cima, pincela-se com gema e leva-se ao forno a 180ºC, durante cerca de 15 minutos.
Serve-se de imediato, porque é o tipo de comida urgente, de maravilhosa. No dia das imagens, servi com cerveja, em vez de pensar num vinho. Esta fica particularmente bem com carne. Com esta comida.
A música é dos Royal Blood. Pode haver muito silêncio interior, num concerto de música pesada. Mesmo muito silêncio.
Que bonita luz do outono, a luz das nossas casas, os silêncios das rotinas de todos os dias, do acender da vela e da salamandra.
ResponderEliminarVou procurar massa folhada retangular e pedir bifes do lombo às sras do talho onde costumo ir. Vou tentar reproduzir ! Que lindo prato !
Um beijo.
A ver se ligo, tenho que marcar no eighyone ;)
Costumo comprar a massa folhada no Lidl, Pipinha. Vou acrescentar isso no post. Pede lá os bifes do lombo às senhoras, sim:) Isto é uma daquelas coisas. E ainda mais nos jantares do tempo frio. Que corra bem, então.
EliminarA luz do Outono nas nossas casas. Onde quer que elas sejam. Sempre essa luz. E sim a esse outro ritual de Outono, no (nosso) Eighty One:)
Um beijinho grande*
Isa
É tão bom o silêncio dos seus textos, das suas fotografias, de um bom livro! Obrigada, mais uma vez, pela sua escrita intimista. Um beijinho.
ResponderEliminarOlá Guida,
EliminarQue lindo, isso do silêncio que encontra aqui. No meio de tanto ruído, isso é uma dádiva. Obrigada, querida Guida.
Um beijinho para si*
Mar
Os seus textos são um oásis, assim uma espécie de música islandesa no meio de tanto ruído, é verdade! Pelo menos, é o que sinto quando os leio.
ResponderEliminarUm beijinho!
Guida
Tão lindo, Guida! Obrigada. Muito.
EliminarUm beijinho grande para si*
Mar
Querida Mar, andava um pouco ausente, já há uns tempos que não passava por cá. E que saudades tinha de te ler! Essas palavras sempre tão certas, que me deliciam a cada linha, como essas de que as estações são uma coisa de pele. adorei ♥
ResponderEliminarOlá, querida Ana.
EliminarBem-vinda de volta, então. E obrigada pelas saudades. Também eu tinha saudades tuas:) E obrigada por gostares. Sempre. E muito.
Um beijinho grande*
Mar