Casa Mãe | Lagos.
























A Casa Mãe fica em Lagos. No casco antigo e meio labiríntico da cidade. E é bem especial. Na onda das coisas boas que têm renovado o imaginário associado ao Algarve. Ou melhor, na onda das coisas que têm devolvido ao Algarve a alma que sempre foi a alma do Algarve. Uma alma que foi contaminada pela ganância que é, por definição, precipitada, inconsciente e indiferente às consequências que não se traduzam em cifrões imediatos, daqueles que se esgotam rápida e facilmente. E estúpida, acrescento. A ganância é bem estúpida. O reflexo dessa ganância é, em muitos pontos do Algarve, dolorosamente evidente. E, em alguns casos, é irremediável. Mas há pessoas a reescrever a história do Algarve. As pessoas da Casa Mãe são pessoas desse género. 
E esta casa é uma história por si só. Na versão anterior era uma casa agrícola e essa matriz foi respeitada e preservada. No nome do restaurante, que se chama Orta, nos legumes que são servidos à mesa e na edificação original. A comida é trabalhada muito ao jeito do sul, mas sente-se outras geografias. Sempre muito essencial, a corresponder à estética do lugar. E sim, deliciosa. Se não fosse assim, não era uma destas páginas, por mais bonita que fosse a Casa Mãe. No dia do jantar das imagens, apeteceu-me carne. Era isso que me apetecia. E vinho tinto. Curiosamente, a memória que guardo deste jantar é a de uma leveza muito aromática. A carne no ponto certo de sabor e de cor. Os temperos dos acompanhamentos. A batata doce bem frita. No final, gelados de frutos. E uma infusão maravilhosa, de ervas da horta da Casa Mãe. A ideia é a de dar espaço e relevo aos produtores locais, à sazonalidade, à frescura. A ementa não é estática e vai sendo composta de acordo com estes princípios, embora a parte da carne seja garantida, porque no espaço exterior há uma zona de barbecue a que se dá utilização regular. E um detalhe muito lindo: cinema mudo para as crianças, depois de jantarem. E, ao contrário do que se possa pensar, elas estavam bem atentas e tranquilas. Nada de mesas com miúdos alienados em jogos e assim. 
A filosofia boa do restaurante alarga-se à da loja, que se chama Loja e que dá um destaque muito bonito ao artesanato local. Mas não vive só disso. Livros, peças de roupa, alcofas e cestos e tapetes algarvios. Loiça, cadernos, mobiliário. Tudo a estabelecer ligação com o espaço, com a comida, com o sul de que eu gosto tanto. Nem de propósito, a Casa Mãe vinha referenciada nesta revista, que dedicou uma edição ao Algarve. Este sítio de que falei o ano passado também estava nessas páginas e a Casa Mãe, que agora funciona em pleno e que no Verão passado estava a começar. Disse-lhes e eles ficaram surpreendidos, que não sabiam. Sinal de coisas boas, essa surpresa. Atitude de quem está concentrado a fazer o seu caminho. E que continue a ser bom de fazer, o caminho da Casa Mãe.
Lá fora, naquele perímetro, mais uma das paredes inesperadas de Lagos. Pertence a esta página, também. 

A música é esta. Glass Animals. Gooey. 

2 comentários:

  1. Olá Isa,
    que bonita, a Casa Mãe. Há tanto tempo que tenho curiosidade sobre este lugar. Que fui vendo desenhar-se, lendo aqui e ali. Sabia que ia ser lindo pela essência mantida, pelo respeito pelo que foi a casa, em tempos.
    É um lugar apontado no meu caderno, que hei-de visitar. As fotografias são lindas, dessa carne e do espaço, da loja e do cinema mudo.

    Os teus olhos trazem sempre coisas novas, de sul.
    Beijinhos, vêmo-nos amanhã.
    Pipinha

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    Respostas
    1. Olá, minha linda quase, quase de parabéns:)

      Muito linda, a Casa Mãe. Tu e o Pedro hão-de gostar, que eu sei. E de Lagos, tão cheia de luz.

      Obrigada por gostares. Os nossos olhos estão sempre a tempo de ver coisas novas por todo o lado.

      Beijinhos. Muitos. Até amanhã, na tua festa com concerto:)

      Isa

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