Lá fora: Castas e Pratos | Peso da Régua.






















O meu ponto de vista sobre o Douro foi sempre muito interior, muito por dentro. Porque foi sempre e em primeiro lugar o lugar onde os meus sobrinhos estavam a crescer. As celebrações vão sendo um calendário interior, com todas as reformulações e baralhar e dar de novo que sempre há nas famílias. Pelo meio, todas as memórias que serão sempre o meu Douro. Porque não é de postal, não é de olhar por fora. As vinhas e os vinhos, as comidas, as pessoas. Muito, as pessoas. Tenho a noção de que a maneira como faço a minha comida tem também que ver com tudo o que fui aprendendo nestas terras quentes e pedregosas. Seja como for, todas estas camadas fizeram sempre com que ir ao Douro fosse ir para a Casa dos Varais e pronto. Razão pela qual só há pouco tempo tenha ido a um restaurante onde queria ir há muito e que ia sendo adiado por haver sempre outras agendas para aquela geografia. Este que fica hoje. E como este sítio deve fazer parte destas páginas. Porque adorei a comida. Gostei do lugar, numa série de detalhes que estão nas imagens e que é redundante estar a descrever. Gostei das pessoas. Mas a comida é que é. Tanto, que entretanto já tentei replicar em casa uma das entradas das imagens. Ananás, chèvre, mel e frutos secos. Uma delícia só. Quando olhamos para uma imagem ou quando nos lembramos tão-só de um sítio e o sabor das coisas toma conta de nós, sabemos que uma magia qualquer pode acontecer num restaurante. E que isto da (boa) comida não se trata só de ir a um sítio e comer umas coisas e acrescentar isso às nossas vidas e está. Como se isto de viver fosse uma espécie de checklist onde se vai colocando um visto. É mais. A vida. E a boa comida são mais. Estão para lá desse registo meio triste de 'been there, done that. 
No dia em que fui ao Castas e Pratos, foi na sequência de um daqueles momentos de vamos e pronto. Sem reserva, sem grande (ou nenhuma) antecipação. Só porque era preciso parar num sítio para almoçar, por se estar a caminho de um outro. E ainda bem que sim, que nesse dia o espírito era ir e não estar a calcular distâncias ou a pensar em horários. Porque é maravilhoso quando uma experiência qualquer é boa do início ao fim e nos acontece sem mais. Foi assim neste lugar onde me apetece regressar muitas e muitas vezes. A densidade voluptuosa do presunto. O jogo doce-salgado do ananás e do chèvre. O polvo e as migas muito do Douro. Óptimo, generoso, bem cozinhado. A carne no ponto exacto. A parte doce a ser um final à altura. E sim. O vinho da imagem. Tal qual o que se diz no rótulo: envolvente. Tal e qual como a comida. Tal e qual como o Douro. Cartografia sinuosa. Terra quente e impiedosa que molda os homens e que lhes recorda que o difícil pode ser maravilhoso e transformar-se em vinhos inesquecíveis. 
E depois deste sítio, seguir caminho. Sempre um caminho a seguir. 

A música é dos Royal Blood. Música (muito) boa para seguir caminho. 


2 comentários:

  1. Olá Isa,
    Que bonito o teu post de passagem pela Régua e pelo Castas e Pratos, que me fez lembrar de uma refeição que fiz nesse restaurante, já há uns anos e da qual gostámos tanto.
    E também aconteceu assim, sem calhar, por ser o único restaurante que encontrámos por ali, na hora de jantar. Lindo o Douro, robusto e forte, que nos dá, ao mesmo tempo, tantas coisas delicadas.
    Obrigada por este regresso a esse lugar.
    Um beijinho grande.
    da Pipinha

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    Respostas
    1. Obrigada a ti. Pelo tanto que és, minha querida. Adorei este sítio e devia ter ido lá mais cedo. Aconteceu assim e foi bom, neste espírito de não estar a antecipar nem a marcar dia e hora. Estou cansada de agendas e de horas marcadas noutras dimensões. Tu sabes.

      Até amanhã, lá na confusão boa dos jantares em que nos juntamos todos em casa dos meus pais:)

      Um beijinho grande*

      Isa

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