Barcelona de comer.
























Esta parte de comer é sempre a mais ponderada, em cada viagem. Mesmo nas mais próximas. Creio que quem gosta de fazer comida, perceberá bem este ponto. Quando a comida é combustível, basta parar, comer e andar em direcção ao que interessa. No meu caso, não. As refeições são momentos sagrados. Peregrinações por si só. Procuro coisas, antes. Leio textos em sítios diferentes, para cruzar pontos de vista sobre os mesmos restaurantes. Falo com amigos que já estiveram. A ideia é minimizar as possibilidades de correr mal, que fico entre o triste e o furiosa, quando a comida fora de casa é má. Daí não entregar ao vento. Costuma correr bem, mas desta vez, a parte das expectativas naturais foi largamente ultrapassada. Naquilo que foi antecipado e naquilo que deixei por conta da vida e da maneira como são lançados os dados.
Na parte dos planos, a ideia foi procurar comida de acordo com o que o meu filho gosta muito. Por isso, tinha de haver sushi e pizza. Nesse departamento, fiz o trabalho de casa e escolhi dois lugares, depois do tal cruzamento prévio de informação. Para sushi em Barcelona, este sítio. O Ikibana. O cerimonial da gastronomia japonesa (e sublinho gastronomia, por não se restringir ao óbvio do sushi), associado à tropicalidade brasileira. Parecia ser um lugar feito no céu. E foi mesmo assim. Lindo, a começar pela luz e pelas mesas-ilha, propícias à intimidade. Não consegui registar a maneira delicada como o sushi veio para a mesa e lamento. Aqueles pedaços de subtilezas mereciam bem esse registo. Não deu para isso, mas creio que as imagens dão a ideia do ambiente. Aquela sofisticação ligeira em que o Brasil é exímio. A descontracção das pessoas. O querer estar. O prolongar a refeição. Numa próxima viagem a Barcelona, este será outra vez um endereço certo. O Ikibana. Gosto de pensar nisso. E também gosto de pensar que este endereço possa fazer com que mais alguém goste tanto de ali estar quanto eu gostei.
A seguir ao sushi, achei que o meu filho iria ficar bem feliz por comer a margherita de que gostamos os dois. Não foi preciso procurar muito, porque a primeira entrada que li dizia que pizza, em Barcelona, era aquela. A do Bella Napoli. Quando chegámos para jantar, faltavam uns minutos para abrir e já havia gente à espera. O serviço é completamente italiano. Tanto, que os empregados se esquecem e dizem prego para agradecer ao nosso gracias. Eficientes, concentrados no essencial. Desempoeirados e com aquela tranquilidade própria dos lugares que já assistiram a muita coisa e que permanecem de portas abertas ainda assim. E sim, a margherita era maravilhosa. Segundo o meu filho, a melhor que já comeu. Isso inclui a minha, mas eu não me importo:)  
O terceiro sítio foi o mais especial. A começar por ter acontecido. Fica no perímetro do Museu Picasso. Numa rua fresca, com casas altas. Passa despercebido e parece ser um daqueles lugares para habituais, a julgar pela maneira calorosa como as pessoas são recebidas. Comida catalã com alma. E feita por mulheres. É curioso, mas notei logo isso, no tempero. Que era comida feita por uma mulher. As mãos das mulheres têm qualquer coisa de irrepetível, mas reconhecível. Tempero de cozinheira e não de chef. É isso. Comida de casa, a deste lugar. Tudo bom. Tudo muito bom. A comida, o serviço, o vinho da casa. Gostámos tanto, que voltámos. A última refeição em Barcelona foi no Nou Celler. E isso quer dizer coisas. Coisas muito boas. Para dar a densidade certa, creio que bastará dizer que, sempre que me lembro deste sítio, tenho a memória exacta da comida. Do tal tempero feminino. Do frango à catalã que hei-de tentar reproduzir. Da esqueixada que já fiz, mal regressei a casa. Da crema catalana, que é o nosso leite-creme. E das rabanadas que foram servidas como mimo-extra, quando pedimos o café. Barcelona fica por aqui. Melhor: aqui. Gosto muito que Barcelona esteja aqui. E em mim. 

NB1: Em qualquer um destes sítios, é aconselhável fazer reserva ou ir cedo.  
NB2: No Ikibana, se se for à noite, convém sofisticar um bocadinho. O lugar é boa onda e não tem nada de formal, mas pede roupa em que nos sintamos bonitas:) 

A música tinha mesmo de ser esta. Porque se fica logo feliz, só de a ouvir. Pensando bem, é preciso tão pouco para ficar feliz:) The Vaccines. 

10 comentários:

  1. Ainda sem ler o texto, quando bati os olhos na fotografia do leite creme, fiquei logo satisfeita... Visualmente é tal e qual o melhor leite creme que já comi, que, na sua simplicidade, também é uma das minhas sobremesas preferidas :)

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    1. Olá Sara,

      Era honesto, o leite-creme que eles chamam de "crema catalana". Assim como a comida deste sítio. No espírito da honestidade. Quando é assim, quase que as palavras não são precisas:) E sim, a simplicidade. Sempre "a" receita.

      Um bom fim-de-semana!

      Mar

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  2. Vibrante. Como Barcelona. Onde, por acaso, o meu filho também está :-)
    Abraços carinhosos,

    Ana Vasconcelos

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    1. Olá Ana,

      Vibrante parece-me mesmo bem:) Dias bons para si. E também para o seu filho, lá na cidade vibrante.

      Um abraço cheio de carinho. E uma boa semana!

      Mar

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  3. É para reincidir e continuar a descobrir, certo?
    Bj
    Mom

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    1. Sim:) Hei-de voltar lá, se a vida mo permitir.

      Um beijo. Boa semana para ti!

      Mar

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  4. Boa tarde, Mar.
    Que bem me soube revisitar Barcelona através dos seus olhos e das suas palavras. Só mesmo a Mar para descrever tão bem os recantos e encantos de Barcelona. Obrigada.
    Uma boa semana.
    Bjs
    Ana

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  5. Boa tarde, Mar.
    Que bem me soube revisitar Barcelona através dos seus olhos e das suas palavras. Só mesmo a Mar para descrever tão bem os recantos e encantos de Barcelona. Obrigada.
    Uma boa semana.
    Bjs
    Ana

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    1. Olá Ana,

      Fico muito feliz por essa revisitação. E obrigada. Procurei descrever o vivido, dentro dos meus limites. Sem pretensões de "conhecer". A cada viagem, renovo essa noção. De que o mundo é demasiado vasto para o conhecermos. As viagens são tentativas. Com tudo o que há de lindo e de denso na ideia de tentar, creio.

      Uma boa semana para si também. Um beijo.

      Mar

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  6. Thank you so much. Best wishes.

    Mar

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