Barcelona museológica.





















Havia dois museus que estavam definidos como vontades. O Museu Picasso, pelo património óbvio. E a Cosmo Caixa, por causa do amor que o meu filho parece ter pelo universo científico. E houve um outro sítio que aconteceu, mal saímos do Museu Picasso. O Museu Europeu de Arte Moderna. Tão bom, que a vida nos dê coisas destas. Assim mesmo, sem contar. O resultado desse imponderável foi ter passado um bom pedaço de tempo a surpreender-me com a arte figurativa contemporânea. Cada sala, cada descoberta. Um lugar especial, este. Cheio de estudantes, sentados no chão, a replicar as esculturas. Silenciosos e concentrados. Como se estivessem a sós, numa versão disseminada pelo pavimento. Raras vezes a arte pode ser contemplada sem aquela componente de gravidade normalmente associada a este universo. Neste museu, senti que se entranhava, que ficava em nós, que saía connosco à rua. As telas que pareciam ter carne. As esculturas inesperadas. De repente, até a praga das selfies parecia ter um estatuto diferente. Os filtros ajudam muito. A realidade, pelo filtro da arte, é uma outra coisa. A teoria de Fernando Pessoa, aplicada às selfies. Seja. E mais uma coisa, numa sala fresca com o pé direito muito alto, todos os dias há possibilidade de música. Clássica, jazz, blues, flamenco. Entre o Museu Picasso e o MEAM, uma pausa na Brunells. Um daqueles lugares doces, em Barcelona. Dizem que o chocolate desta loja de bolos é do género de ter mesmo de provar. Fica mais esta coordenada, bem perto destes dois museus. É sempre importante sabermos onde há (bom) café. Especialmente quando apetece uma pausa entre museus, para evitar a Síndrome de Stendhal. Beleza a mais pode fazer mal. Um intervalo para café sempre ajuda:) 
A abrir com a equação que, para o meu filho é tanto, a Cosmo Caixa. Não é um lugar para crianças. Não tem aquela vertente pedante e pedagogicamente correcta dos lugares estruturados a pensar no universo infantil. Nada disso. Mas as crianças circulam à vontade. Experimentam. Deambulam. Tomam conta do espaço. E os adultos também. É entusiasmante e muito sereno, ao mesmo tempo. É isso. Para mim, a melhor parte foi a da Floresta Inundada. Um micro-clima amazónico, em Barcelona. As árvores, as plantas, os bichos, a temperatura e a chuva tropicais. Vale mesmo a pena o caminho. Com ou sem crianças. No meu caso, com um miúdo de 10 anos que está ansioso por chegar à parte em que tem aulas de Física. Linda de ver, a paixão com que viveu este sítio especial. Seja o que for que faça/que aconteça, que aquela paixão não se extinga.

E Bloc Party. Bem no espírito da cidade quente. 

4 comentários:

  1. Tudo é bom em Barcelona. Museus, Arquitetura, mercates..
    Ricas férias.
    Bjiis

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    1. Barcelona é linda. Um intervalo de tempo bem vivido, este. Com densidade e com alegria solar. Bem no espírito.

      Um beijo.

      Mar

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  2. Olá Mar:

    Sim, Barcelona é uma festa para os sentidos. Mas uma festa com elegância, com desmesura q.b. Genial, arrojada e sóbria ao mesmo tempo, libertina porém burguesa e tradicionalista, virada para o mundo sem se esquecer de si mesma. Com a vantagem de saber servir-nos um excelente café! É preciso atravessar a Ibéria quase toda para se voltar a saborear café como deve ser... para mim, algo de essencial. Muito eu gosto da Catalunha! Dois livros marcantes, de entre os muitos que celebram a cidade: A Sombra do Vento e A Catedral do Mar. Este último, sobre Santa Maria del Mar, que fica perto do Museu Picasso. Foi nesse quarteirão que tomei um expresso delicioso, numa manhã luminosa de setembro, por entre a sombra projectada pelas esquinas e telhados nas ruelas recém lavadas de fresco. Nunca me esqueci daquela luz, daquela frescura, daquele café. Nem de o sabor de uma horchata que me ajudou a dominar o sobressalto provocado pela visita à Fundação Miró: penso que terei ficado longuíssimos minutos na esplanada a processar tudo o que os seus quadros despertaram em mim.

    Um abraço,
    Marta de Leça

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    1. Olá Marta,

      Barcelona parece uma mulher elegante, densa, madura. Com tudo o que isso implica de arrojo e de sobriedade. A sua (belíssima) descrição fez-me pensar em mulheres com almas assim.
      E sim, o café. Não é preciso especificarmos nem nada. Partilham o nosso culto pelo café em versão curta. Em Sevilha também foi assim. Bom café.
      Momentos desses de que falou, são viagens inteiras, longas. Fragmentos assim são muitos lugares, muitos quilómetros. Gosto disso de parar. Mesmo muito. Num jardim, numas escadas frescas, num café, a olhar um quadro. Creio que para fazer o processo interior. Não entendo as viagens exteriores sem essa sedimentação interior. Por isso, facilmente "perco" tempo em exercícios desses. São a espuma. Aquilo que mais permanece, creio.
      Santa Maria del Mar. Fala-se muito das outras basílicas, das outras catedrais. Cheias de gente, cheias de negócios paralelos. Essa é diferente. Gostei que a tivesse mencionado. Mesmo muito.

      Um abraço grande para si. Obrigada.

      Mar

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