Quase nada.











Arroz é simples. Não tem nada que saber. Faz-se e pronto. Não se pensa mais no assunto. No fundo, trata-se de um acompanhamento. E, no universo da comida, um acompanhamento é algo que dá palco a outras coisas. Aquilo que vai brilhar verdadeiramente será o protagonista. Nunca o arroz simples que se coloca num dos lados do prato. Ou numa taça. Ao lado do prato. Sempre ao lado. Melhor do que escondido, na sombra do protagonista. Mas é tão fundamental, o arroz. Como todas as coisas simples que temos como imperceptíveis. 
E não nos pede quase nada, fazer um arroz. Na base, basta um fio de azeite, água quente e sal. Os métodos podem variar, mas, no essencial, é disto que se trata. E está bem assim. Mas a vida diz-nos todos os dias que podemos tentar sempre um bocadinho mais de magia, um bocadinho mais de alegria, um bocadinho mais de cor. É assim, com este arroz. Molho de soja, amêndoas e coentros frescos. A conjugação de que o meu filho mais gosta, nisto do arroz. A partir do momento em que sente o aroma do molho de soja, adivinha o outro que vem a seguir, o das amêndoas a tostar numa sertã bem quente. E os coentros picados, muito frescos e muito verdes. Os sentidos e os seus sentidos imediatos. Tal como com a madeira imperfeita de uma das minhas colheres de pau, mas que parece a narrativa silenciosa de uma árvore desconhecida. Ou as jarras pequenas, com rebentos de eucalipto. Aquilo que nos encanta pode ser bem fácil. 


Arroz com molho de soja, amêndoas e coentros

1 tigela de arroz carolino + 2 tigelas de água (quente) + 5 colheres de molho de soja (costumo usar este, que é muito suave) + 1 punhado de amêndoas + 1 punhado de coentros frescos (picados) + sal e azeite q.b. 

Primeiro, um fio de azeite e duas colheres de molho de soja. Leva-se ao lume, a aquecer, durante uns dez segundos. A seguir, acrescenta-se o arroz e envolve-se bem. Deixa-se fritar levemente, mexendo com uma colher de pau. Depois, a água quente, um pouco de sal, mexe-se e deixa-se estar (sem cobrir a panela), até que a água evapore. Assim que o arroz estiver sem caldo, desliga-se o lume, salpica-se com os coentros picados, a quantidade restante de molho de soja e envolve-se bem. No final, as amêndoas, previamente tostadas numa sertã. Serve-se assim. De imediato, que é para estar naquele ponto aromático:) 

E uma das minhas músicas preferidas. Quase sem palavras. Ball and Biscuit. The White Stripes. 



7 comentários:

  1. Bom dia, Mar.
    Que grande verdade, as coisas simples são fundamentais. Sem elas o resto não brilha, muitas vezes acaba por cansar.
    Outra verdade inquestionável é a colher de pau, nunca as de plástico.
    Deste lado sinto o aroma do seu arroz, que vou experimentar já hoje ao almoço, misturado com a frescura dos rebentos de eucalipto.
    Uma boa semana, com a alegria da renovação própria do tempo pascal.
    Bjs
    Ana

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  2. Bom dia, Mar.
    Que grande verdade, as coisas simples são fundamentais. Sem elas o resto não brilha, muitas vezes acaba por cansar.
    Outra verdade inquestionável é a colher de pau, nunca as de plástico.
    Deste lado sinto o aroma do seu arroz, que vou experimentar já hoje ao almoço, misturado com a frescura dos rebentos de eucalipto.
    Uma boa semana, com a alegria da renovação própria do tempo pascal.
    Bjs
    Ana

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    1. Boa noite, Ana

      O mais possível desse espírito. Colheres de pau e tudo o mais que é a minha matriz. Fico feliz por partilhar. Tenho muito carinho por cada uma das minhas colheres de pau. Uma colecção já vasta. Mas não resisto e trago sempre uma colher de cada um dos sítios/momentos que tenho a possibilidade de viver. Prolongo-os na minha comida, de cada vez que as uso.
      Se fez o arroz, espero que tenha corrido bem. Espero sempre que corra bem.

      Uma boa semana para si também. Com essa alegria e com essa renovação.

      Um beijo.

      Mar

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  3. E como se faz poesia a partir do arroz ... adoro a maneira como escreves!
    E essa caçarola e essa jarra que lindas!!
    Beijinhos

    p.s : como o mundo é pequeno, outro dia descobri que tens uma peça do meu primo Rogério Timóteo, já falei com ele sobre ti ... achei engraçado :)

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    1. Bem pequeno, o mundo:) Adoramos a arte do Rogério. E sim, está aqui, uma das peças dele. Dois corpos lindos, unidos. Na cozinha. Quando ele esteve cá, senti-me na obrigação de dar o contexto. Uma escultura tão bonita numa cozinha:) Mas queria-a perto de mim, no lugar que me é mais querido. Creio que ele compreendeu bem a ideia. Dá-lhe um abraço nosso, sim? E que fomos ver as esculturas dele na Avenida da Liberdade.
      Obrigada por gostares. Da escrita. Da caçarola e da jarra. Isso da poesia, creio que está por todo o lado. Até mesmo num arroz como este. É assim que vou entendendo as coisas.

      Um beijo grande. Surpresa boa, esta:)

      Mar

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  4. O arroz é essencial na minha casa. Já vem de trás: o meu avô acompanhava todas as refeições (sim, todas! ) com uma travessinha de arroz branco. Mas é curioso como podem ser tão diferentes variando-se o tipo de arroz ou a sua preparação. Este parece ser bem delicioso. Vou experimentar claro ;)
    Um beijo
    PS. Ontem e hoje dias complicados ;( agora um pouco melhor... obrigada por mais beleza...

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    1. Aqui também. Para o meu filho, muito especialmente. Hoje voltei a fazer esta versão. Mas negociei e comeu também duas batatas assadas:) Creio que vais gostar, se experimentares.
      Hoje foi assim dessa maneira, por aqui. Acabou bem, num jantar tranquilo, mas nem pude almoçar, que tive de ir buscar o António à escola. Já não vou, amanhã. Melhor assim, que receio que aconteça outra vez e não quero estar longe dele. Depois falamos.

      Um beijo.

      Mar

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