Tanto faz.







Um dia de chuva no Verão. É bom. Melhor: foi bom. Soube bem. Acordar com o som e com o cheiro da chuva. Chuva num dia de Verão faz pensar em todas as coisas perante as quais nos resignamos. Tudo o que aceitamos que é assim e pronto. No meu caso, essa noção é sempre acompanhada disto de fazer comida. E de música. De música a transformar-se em dança. Até magoar os pés um bocadinho e tudo. Sequências de tentativas. Até que o corpo seja todo música. 
Na comida também é assim. Tenta-se uma e outra vez. Até acertar no ponto. Esta receita é resultado disso mesmo. De (muitas) tentativas. No resto das coisas da vida, até que nem resulta muito. Mas na comida e na dança corre (quase sempre) bem. Como aconteceu com esta minha versão de sopa de cebola. Tal como é feita pelos franceses é dose. Não consigo nunca chegar ao fim, porque me dá um bocadinho de náuseas aquela "misturada" toda. E, curiosamente, no meio de tanta coisa, o sabor e a consistência da cebola acabam por ficar para trás. A sopa de cebola dos franceses sabe mais a queijo e a pão ensopado numa água amanteigada. Nós usamos azeite. Não manteiga. E não precisamos de natas nem de farinhas. A minha sopa de cebola não é uma água. É um creme. E a cebola é rainha. Na base. E depois, pouco antes de estar no tal ponto. No momento de servir, o aroma quente do bacon. E pimenta preta acabada de moer.

Sopa de cebola com bacon e pimenta preta

2 cebolas (grandes) + 1 batata + 1 courgette + água, azeite, sal, bacon e pimenta preta q.b. 

Faz-se um refogado com uma das cebolas, a batata e a courgette (sem a casca, cortada em pedaços e bem lavada depois de cortada). Decorridos dois minutos, acrescenta-se água até cobrir os legumes e tempera-se com um pouco de sal. Tapa-se e deixa-se ferver. Quando começar, reduz-se o lume e deixa-se cozer durante cerca de vinte minutos. Entretanto, lamina-se a outra cebola, usando um daqueles cortadores mágicos de legumes:) Passa-se a sopa até ficar com a consistência de creme e acrescenta-se a cebola laminada. Mais um pouco de sal e de azeite e junta-se a cebola. Mexe-se e desliga-se o lume de imediato. Este pormenor é muito importante, porque a cebola fica com uma consistência absolutamente deliciosa. Pouco antes de servir, corta-se bacon em pedaços pequenos e leva-se a fritar ligeiramente numa frigideira sem nenhuma gordura. Transfere-se para pratos individuais que devem acompanhar a sopa, quando é servida. Depois, cada pessoa coloca a quantidade de bacon e de pimenta preta que quiser. Com pão de malte por perto, é felicidade garantida. 

A música para a sopa de cebola é uma daquelas músicas que se presta a querer tentar uma e outra vez. Na parte de fazer comida e de dançar. Tanto faz. 

6 comentários:

  1. Olá Mar,

    Por aqui o fim - de - semana também foi diferente do que é habitual.

    Foi um fim - semana sem ir à praia devido à ausência do meu marido e ao tempo.

    Aproveitei para fazer outras coisas e, claro, a comida tinha que estar presente!

    Aproveitamento de ameixas: compota, bolo e chutney.

    Vamos esperar que o tempo melhore, que deixe aproveitar o Verão, que já é curto.

    Um beijo do Algarve e votos de boa semana (menos cansativa, espero).

    Sandra Martins

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    1. Olá Sandra:

      Sempre bom aproveitar para fazer comida. Também andei a fazer umas coisas com ameixas e Moscatel:)

      E há ainda muito para viver, deste Verão. Mais ainda aí:)

      Uma boa semana para si também!

      Mar

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  2. Olá Mar,
    compreendo tão bem o que dizes sobre a original sopa de cebola francesa. Também me afasto dela, ainda que tenha experimentando uma ou outra versão mais "capaz" num inverno rigoroso por terras alpinas e que até foi reconfortante.
    Quanto à chuva, por vezes estes episódios fora de tempo podem ser consoladores e convidar a outras manifestações que não sejam a areia nos pés e o sal na pele. Por vezes é bom, pode ser bom.
    Um abraço,
    Guida
    p.s. pensei que não voltava a "publicar" as minhas mesas. Mas tal como a chuva, foi inesperado e soube-me bem ;)

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    1. Olá Guida:

      É que é mesmo assim, não? Da última vez em Paris, não fui capaz de terminar a sopa que tinha pedido. As versões deles são demasiado hard para o meu gosto:) Começo a pensar em manteiga misturada com queijo e perco o apetite.
      E sim, este sábado com chuva soube-me mesmo bem. Quis tanto estar quieta, em casa. É bom fazermos o que queremos, na medida do possível.
      Não voltes a pensar isso de não publicares mesas lindas, sim? A beleza faz sempre falta ao mundo.

      Um abraço grande!

      Mar

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  3. A tal sopa ;) Versão depurada dos excessos afrancesados. Só soa bem o nome, de facto, que tudo resto é um caldeirão de gordura enjoativa ;) E tanto faz, realmente. Apesar de o tempo lá de fora conseguir influenciar o nosso estado de espírito, nós podemos mais. E até com chuva lá fora pode haver um raio de sol em nós. Ou vice-versa. Podemos sentir chuva num dia de verão...
    Para aí no sul: sol em ti e em Lagos!
    Babette

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    1. Sim, a tal sopa. Esta é a versão definitiva, depois das minhas experiências no sentido de depurar. Tanto faz para muitas coisas, sabes? Muitas coisas.

      O sol de Lagos faz tão bem.

      Um beijo.

      Mar

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