Paper planes.














A maior parte das vezes, pôr uma mesa de todos os dias, é como fazer aviões de papel. Como pegar em folhas brancas e fazê-las voar. Não fosse este exercício etéreo, e os dias seriam demasiado iguais entre si. Ocorre-me muitas vezes. Passamos a vida à espera de não sei o quê. E esperamos. Por ser prudente. Por ser racional. Por ser o correcto. Não usamos copos de que gostamos muito por ter medo que se quebrem. Não usamos pratos delicados pela mesma noção de fragilidade. Os talheres de prata ficam à espera de pessoas que não são as de todos os dias. E as pessoas de todos os dias não são as que realmente importam? Por isso, talheres de prata para elas. Copos com nome de bairro parisiense. E loiça que pode quebrar a qualquer momento. Pelo meio, caixas de vinho em madeira. Tabuleiros de chá que se transformam em suportes para a luz efémera de uma vela. E uvas "a sério". Por serem de Verão. Ficam duas possibilidades que evocam o bom de andar por aqui:) Todos os dias. E uma música com uma cadência meio infantil. Assim como a imagem muito frágil de fazer aviões de papel e acreditar que voam até onde se quiser.



14 comentários:

  1. Então, não? Há quem adie uma vida inteira à espera do momento certo para usufruir do que se tem. Que tolice. Estamos aqui hoje, com quem nos merece o maior afecto e as mesas mais bonitas. Aqui no Sul os meninos vão enfeitando as mesas de todos os dias com conchas que temos apanhado na praia. Ritualizar e valorizar o quotidiano. Porque os dias que passaram podem ter sido os mais especiais. Como falámos há pouco, adorei ver estas mesas e saber a quem se destinaram. Gostei de ver o chá trazido de outras paragens no ambiente de S. Pedro. Tornas tudo harmonioso!
    Um beijo
    Babette

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  2. Olá Babette:

    É exactamente por já ter visto esse filme tantas vezes, que penso ao contrário. Por isso, sou contra os adiamentos (na medida do possível, claro:).
    As mesas e os seus destinatários. Ficam aqui. A primeira mesa para o primeiro amor do meu filho:) Tão lindos, a jogar Monopoly, ontem à noite:)
    Montes de conchas e búzios à vossa mesa! E pedras do mar. O imaginário todo de Verão.
    Claro que o chá que veio lá de longe tinha de ter um lugar especial numa das minhas mesas:)

    Um beijo.

    Mar

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  3. Querida Mar

    Gostei muito da sua mesa e do texto que associou as fotografias. Tem toda a razão. Passamos a remeter coisas para um futuro que pode nao existir.

    Por aqui o mês de Julho tem sido bastante complicado. Dias passados a dieta 0 no hospital, intervalados com outros a dieta liquida e mole. Enfim, descobri as nuanças destes termos. Neste momento, ainda só como cozidos e grelhados, mas ja estou em recuperação de uma pancreatite aguda. Por tudo isto a sua mesa foi um bálsamo.

    Um beijo

    Fa

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  4. Tão de acordo com essa ideia, Mar. Mesas ( e comida) especiais para os que carregamos no peito. Lá poderia ser de outra maneira?!
    Lindas, muito lindas e cheias de poesia, as tuas mesas, tal como as tuas palavras.
    Um abraço,
    Guida

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  5. Olá Fa:

    Lamento muito por esse mês de Julho. Dei pela sua ausência, mas lembrei-me de uma outra ocasião em que deixou de actualizar o seu blog e tinha ido para o Brasil. A verdade é que a imaginei num destino longínquo. E feliz. Bem longe da ideia de um hospital.
    Espero que recupere bem. Cada dia mais. Bom que as mesas tenham sido bálsamo.

    Um beijo.

    Mar

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  6. Olá Guida:

    Muito disso. Mesas e comida e o mais que conseguirmos. Para os que estão em nós. Os dias são bem lindos, assim:) Mesmo que o resto tenha corrido mal.
    Obrigada. Por isso da poesia:)

    Um abraço.

    Mar

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  7. Mais uma vez, não podia estar mais de acordo contigo. Celebrar a vida, todos os dias. E oferecer o melhor a quem é tudo para nós. Não gosto de casas-museus (a não ser daquelas a sério :), de salas de jantar usadas só no Natal e copos que nunca saem dos armários. Muito linda, a tua mesa. E a música. E tudo.

    Um beijo da tua amiga dos Açores

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  8. Olá amiga dos Açores:)

    Claro que sim. Em vez de ser uma coisa conceptual ou uma abstracção. Bem real e concreta, antes. Declinada assim. De maneiras muito simples. E com aquele toque mágico do "todos os dias":) Penso cada vez mais nisso. Quando pensamos muito numa coisa, é bom que se se seja consequente, não?:)

    Um beijo. Que continuem a ser bons, os teus dias de férias com golfinhos:)

    Mar

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  9. Que bonita a associação dos aviões de papel às mesas, nunca se sabe se vão resultar e voar. Mesas e aviões. Muito bonitas as duas, diferentes e cuidadas. Já tinha saudades de ver das tuas mesas de verão, com as bolinhas do melão. A função primeira das coisas, transformada no que não se espera. Os marcadores brancos.
    Muitos beijinhos com saudades
    da Pipinha

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  10. Mar,

    de repente,
    do nada,
    ou do tudo,
    lembrei-me de vir ver,

    em boa hora : )

    beijinho,

    Jo

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  11. Olá Pipinha:

    Um dia ainda hei-de fazer mesmo uma mesa com aviões de papel:) E aí, será literal, o sentido. Mais a música, a desencadear a ideia dos aviões. As minhas mesas de Verão. As mais demoradas. Aquelas em que se fica mais tempo, já depois das sequências todas.

    Saudades, também. Vi que ligaste ontem. Mas já era tarde:) Ligo-te daqui a nada.

    Um beijo.

    Mar

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  12. Olá Jo:

    Que comentário espontâneo:) Estou aqui outra vez. E também aconteceu assim. Do nada. Do tudo.

    Um beijo para si também. Bom saber que anda aí:)

    Mar

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  13. Aprecio muito essa forma de viver a vida, aproveitar cada dia como se fosse o último. Eu tenho o hábito de guardar as coisas, à espera da melhor hora. Provavelmente um erro meu, a melhor hora pode não acontecer.
    Mesas muito bonitas, importantes para si e que animam quem está deste lado!
    Um beijo,
    Graça

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  14. Olá Graça:

    O tal mito do "último dia". Não sei se penso nessa ideia do último dia. Creio que é menos elaborado. Está a acontecer, a vida. A cada momento, a cada sopro. E isso é tão grande. Merece todas as coisas pequenas que conseguirmos. Como uma mesa bonita. Ou comida que sabe bem.
    Uma felicidade enorme, saber que faz bem aí desse lado. Obrigada por isso.

    Um beijo.

    Mar

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